Catarina Eufémia foi assassinada há 57 anos

Um exemplo que dá força para a luta de hoje

Gustavo Carneiro (texto)
Jorge Caria (foto)

Catarina Eufémia foi assassinada em 19 de Maio de 1954 quando encabeçava uma delegação de operárias agrícolas que reclamavam do agrário pão e trabalho – uma luta que permanece actual, afirmou Jerónimo de Sousa na homenagem à heroína popular realizada no domingo em Baleizão, onde realçou que o seu exemplo dá «ânimo, força e coragem» para os exigentes combates que hoje travamos.

«Nós não esquecemos e honramos os nossos heróis»

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A luta pelo direito a trabalhar a terra não começou há 57 anos, quando Catarina Eufémia foi varada pelos tiros assassinos do tenente Carrajola, da GNR. Nem tão-pouco acabou nesse dia. Antes e depois da Catarina de Baleizão, muitos operários agrícolas alentejanos, comunistas em grande parte, dedicaram o melhor das suas capacidades e energias ao combate pelo trabalho, pelo pão e por horários dignos. Alguns deles perderam mesmo a vida, assassinados como Catarina: Germano Vidigal em 1945; José Adelino dos Santos em 1958; Casquinha e Caravela em 1979.

Catarina Eufémia foi assassinada oito anos antes da conquista da jornada de oito horas nos campos do Sul e a duas décadas da Reforma Agrária. Mas estas luminosas conquistas têm em si o exemplo de Catarina, que inspirou e trouxe à luta muitos dos combatentes alentejanos que impuseram, em pleno fascismo, horários de trabalho dignos e que depois da Revolução de Abril desmantelaram o latifúndio e, tomando o seu destino nas suas próprias mãos, trabalharam a terra em favor de todos.

Ao homenagear Catarina Eufémia, as centenas de militantes e simpatizantes do PCP que se deslocaram no domingo a Baleizão evocaram sobretudo esse verdadeiro herói colectivo que é o proletariado agrícola do Sul do País, do qual Catarina é um símbolo maior, e significativamente afirmaram que a luta continua.

 

Uma nova reforma agrária

 

As razões para a continuação dessa luta deu-as Jerónimo de Sousa no comício realizado na praça de Baleizão, junto ao busto de Catarina Eufémia. O Secretário-geral do PCP lembrou que vinte anos depois da destruição da Reforma Agrária e da restauração do latifúndio, o desemprego, a desertificação e o abandono de vilas e aldeias marcam o dia-a-dia da região. O Alentejo foi outrora conhecido como a terra do pão, mas hoje o País produz apenas 11 por cento do trigo que consome. A responsabilidade por esta situação é da política de direita praticada por PS, PSD e CDS ao longo dos últimos 35 anos, acusou Jerónimo de Sousa, acrescentando que foram estes três partidos que decidiram ou aceitaram a entrega da terra aos agrários e o pagamento de subsídios para não se produzir.

O dirigente comunista lembrou ainda a apresentação na Assembleia da República, em Junho do ano passado, de um projecto de resolução que recomendava ao Governo a elaboração de um Plano Estratégico para a Zona de Influência do Empreendimento de Fins Múltiplos de Alqueva. Partindo do princípio que Alqueva «pode e deve contribuir para reduzir o défice agro-alimentar e salvaguardar a soberania alimentar do País», os comunistas previam com esse plano um «correcto aproveitamento» dos cerca de 110 mil hectares dos diversos perímetros de rega da Zona de Influência de Alqueva.

Entre outras medidas, o PCP propunha a criação de um banco de terras do Estado que permitisse o acesso à terra por parte de jovens agricultores, trabalhadores e pequenos agricultores com terra suficiente, apoios especiais para as culturas com carácter de fileira, acções de formação para agricultores ou a qualificação e articulação das acessibilidades rodoviárias e ferroviárias com o aeroporto de Beja e o Porto de Sines. Do palco do comício, Jerónimo de Sousa afirmou que o projecto de resolução não foi votado porque a Assembleia da República foi dissolvida e garantiu que o PCP retomará a iniciativa a seguir às eleições de 5 de Junho.

O deputado João Ramos, que encabeça a lista da CDU por Beja, interveio antes do Secretário-geral do Partido para lembrar que Catarina morreu exigindo trabalho e pão e que hoje, 57 anos depois, «há mais de 600 mil portugueses sem trabalho e dois milhões com muito pouco pão». Se o fim do trabalho de sol a sol e a reclamação da jornada de oito horas também mobilizaram os operários agrícolas do Alentejo nas décadas de 50 e 60 do século passado, hoje o horário de oito horas parece ser «quase um luxo», denunciou. Jerónimo de Sousa retomaria a ideia momentos depois para afirmar que 35 anos de política de direita mostraram à saciedade que os direitos e as conquistas «não são eternos no capitalismo».

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Quem viu morrer Catarina...

 

  •  Luís Gomes

 

«Catarina, tu não devias vir aqui connosco porque o teu marido trabalha para o Estado e ainda é despedido», disse a Catarina Eufémia uma prima de Maria Dionísia, quando caminhavam na direcção do olival, onde iam tentar convencer outros trabalhadores, que tinham pegado ao trabalho, a juntar-se aos que queriam exigir, na praça, um aumento de salário», explicou ao Avante! Maria Dionísia.

«Eu não luto só por mim, luto por nós todas», respondeu Catarina, mãe de dois filhos, seguindo, estrada fora, à frente de um grupo de assalariadas agrícolas de Baleizão que, no dia 19 de Maio de 1954, ousaram exigir um pouco mais de salário, em pleno fascismo de Salazar.

Maria Dionísia tinha 17 anos quando assistiu ao crime que o povo português nunca esquecerá e lembra-se do acontecimento «como se fosse hoje, até parece que a estou a ver». «Fomos exigir um aumento de salário, nem que fosse de dez tostões. O que nos pagavam nunca passava de doze escudos, quase nem dava para sobreviver e havia gente a passar fome», recordou a então assalariada da Herdade do Vale da Arcádia, a mesma onde estava Catarina.

Quando os de Baleizão chegaram perto do olival, para falarem e convencerem os que lá trabalhavam a unirem-se à luta, juntando-se na praça, «um guarda tentou impedir-nos de passar, mas porque insistimos, lá se compadeceu e autorizou que um grupo de dez a doze de nós pudesse ir lá falar aos outros».

«Íamos as doze pela estrada quando, ao pularmos a vala que separava a estrada do olival, deparámos com o tenente da GNR, Carrajola. Com um filho de seis meses ao colo, Catarina Eufémia avançou para ele, ergueu a criança nos braços e disse «eu quero trabalho mas quero paz». Estas foram as suas últimas palavras antes de tombar, assassinada.

«Ele deu-lhe um sopapo primeiro, chamou-lhe “burra”, e quando ela já se voltava para se juntar a nós, ele levantou os pés da criança, ao colo de Catarina, e deu-lhe um tiro na barriga», recordou Maria Dionísia. Perante a indignação e o sentimento de revolta de quem viu, o fascista «ainda disparou mais tiros para o ar, para nos meter medo».

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Nos meses que se seguiram, a repressão, as rusgas, as detenções, os interrogatórios da PIDE e as intimidações de toda a espécie não deram descanso a este heróico povo alentejano, que soube resistir corajosamente a todas as privações. O sentimento de revolta provocado por este assassinato foi determinante para que, dois meses depois, Maria Dionísia, que aos doze anos já trabalhava na monda e na ceifa, tenha passado à clandestinidade como funcionária do Partido Comunista Português. «Foi a camarada Mariana Paturnilha que me levou ao Partido», recordou.

Hoje, vive num concelho da margem sul do Tejo, onde prossegue uma dedicada e empenhada militância, de que muito se orgulha.



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