Fernanda Mateus

Pobreza resulta de opções políticas

Como consequência das políticas económicas e sociais dos Governos nos últimos 30 anos, a pobreza alarga-se a novos segmentos da população e representa um grave problema nacional. Atinge cidadãos desprovidos de meios de subsistência e afecta, de forma preocupante, os trabalhadores com emprego, os reformados, em resultado dos baixos salários, da desvalorização do salário mínimo nacional, dos baixos montantes das reformas e do conjunto das prestações da Segurança Social, a par dos constantes aumentos de preços de bens e serviços essenciais, das despesas com a saúde e com a educação.
Cerca de 21% da população portuguesa vive abaixo do limiar da pobreza face aos 16% na UE/25; 10,9% dos trabalhadores por conta de outrem vivem abaixo da linha de baixo salário (ou seja 2/3 do ganho liquido mensal mediano), dos quais 16% são mulheres e 7,5% homens; 23% são crianças e 29% dos idosos são pobres. A pobreza tem fortes incidências regionais em resultado, designadamente, da desertificação e envelhecimento associada à fragilização ou destruição do tecido produtivo.
(…) A pobreza e a exclusão social não são fenómenos naturais, nem uma fatalidade histórica ou política cuja intervenção política assente na assistência e na caridade para responder, de forma pontual, às necessidades mais prementes dos mais pobres mantendo, entretanto, inalterável as causas e factores que estão na sua génese.
Tem sido esta a orientação dos Governos, seja do PSD ou do PS, nos seus projectos de combate à pobreza e de inclusão social, subordinados às orientações neoliberais da União Europeia, do Banco Mundial e do FMI.
(…) São feitos apelos à sociedade para que esta seja solidária quando a larga maioria dos portugueses e portuguesas estão confrontados com a ausência de solidariedade política e social dos sucessivos governos de direita para com os seus direitos mais elementares.
Mas a situação a que se chegou mostra a impossibilidade destas políticas, e das concepções ideológicas que a suportam, cumprirem as suas promessas por mais criativas e sedutoras que sejam as soluções apresentadas.
O Governo do PS é responsável pelo agravamento das injustiças e desigualdades sociais e regionais e na sua profunda ofensiva contra os direitos económicos e sociais conquistados com a Revolução de Abril e consagrados na Constituição da República, com expressão, designadamente, no código laboral e flexi-segurança e na subversão do papel do Sistema Público de Segurança Social, de que é exemplo o logro da promessa do PS de combate à pobreza entre os idosos, que apenas «privilegiou» 50 mil entre os milhares que se encontram na pobreza.
(…) Vencer a pobreza implica rejeitar a ideia de que «sempre houve e haverá pobres» e romper com as orientações de direita que presidem ao actual modelo económico e social e que se afasta perigosamente das conquistas de Abril e da Constituição da República (…)


Mais artigos de: Em Foco

Outro rumo, nova política

1.A 24 e 25 de Novembro de 2007 realizou-se, no Seixal, a Conferência Nacional do PCP sobre Questões Económicas e Sociais dedicada ao tema «Outro Rumo, Nova Política ao serviço do Povo e do País».2. A Conferência Nacional do PCP constituiu uma inequívoca afirmação de confiança, num País de progresso, com mais justiça...

Resposta clara e de ruptura com as políticas de direita

(…) Da realização da Conferência Nacional e do conjunto de iniciativas preparatórias se confirmou a dimensão e gravidade da situação económica e social do País e com ela a sua real situação, os seus verdadeiros problemas e dificuldades que desmentem a enganadora propaganda das soluções da política de direita na resolução...

Um vasto trabalho de análise e proposta

Com as 4 sessões plenárias de hoje e amanhã da Conferência sobre Questões Económicas e Sociais, completa-se o vasto trabalho desenvolvido pelo colectivo partidário desde que, em Outubro do passado ano, o Comité Central do PCP decidiu avançar para a sua realização. Concretizamos assim a oportuna decisão do CC, e...

Perigos e potencialidades

Vivemos tempos de agudas tensões e instabilidade nas relações internacionais e de grande incerteza quanto à sua evolução no curto e médio prazo. Com o desaparecimento da URSS e as derrotas do socialismo, o mundo ficou mais exposto à natureza exploradora e opressora do sistema capitalista, à dinâmica das suas...

Construir um Estado democrático

A incapacidade para construir um Estado democrático não obstante as profundas transformações democráticas e revolucionárias alcançadas com a revolução de Abril, constituiu (como se afirma no relatório ao VIII Congresso apresentado por Álvaro Cunhal) a falha maior da Revolução portuguesa.As transformações sócio-económicas...

Valorizar o trabalho e os trabalhadores

(…) A realidade dos dias que correm para a generalidade dos trabalhadores é a de um ataque que chega de todos os lados, de um garrote que se aperta e compromete os seus direitos e condições de vida.É o desemprego e a impossibilidade em muitos casos de ter sequer acesso ao subsídio de desemprego. (…) A tudo isto...

Integração à medida dos mais poderosos

Hoje é mais claro para todos a estreita ligação existente entre as orientações políticas da União Europeia e a política portuguesa prosseguida por sucessivos governos do PS, PSD e CDS para conseguir uma mais rápida recuperação do poder, dos privilégios e das fortunas dos grupos económicos e financeiros, para facilitar o...

Desenvolver não é só crescer

(…) Fruto da dinâmica capitalista e das alterações que foi processando no sistema público, o capital percebeu, tal como vinha acontecendo um pouco por toda a chamada «Europa desenvolvida», que sectores significativos do sector público se transformaram em potenciais áreas de negócio bastante lucrativas e desde então tem...

Por um sector público forte e dinâmico

O processo de privatizações em curso constitui um dos mais importantes instrumentos da reconstituição do capitalismo monopolista de Estado. Um processo que do ponto de vista económico e social, resultou numa criminosa operação de concentração e centralização da riqueza nas mãos do grande Capital nacional e...

Lutar para construir a alternativa

Os trabalhadores, o povo e o País precisam de um novo rumo, de uma politica ao seu serviço que rompa com os ataques ao trabalho, com o roubo de direitos e o aniquilar dos serviços públicos, uma politica para a maioria e não dos poucos que enriquecem ás custas da miséria de muitos.Um novo rumo cada vez mais urgente,...

A ideologia da exploração

Sempre, ao longo da História – desde o esclavagismo até aos tempos actuais - os exploradores procuraram justificar a exploração. E sempre tiveram ao seu serviço um exército de ideólogos e propagandistas pagos para produzir e propagar como verdade universal essa justificação.(…) Assim, a destruição das grandes conquistas...

Defender as funções sociais do Estado

A Revolução consagrou na Constituição, designadamente no seu capítulo II, a obrigatoriedade do Estado assegurar a realização de um conjunto de direitos e deveres sociais, dando conteúdo a uma perspectiva de Estado e de Administração Pública, que entrou rapidamente em rota de colisão com o acelerado processo de...

Sem agricultura não há desenvolvimento

(…) Entre 1989 e 2006 desapareceram mais de 250 mil explorações – mais de 40 explorações por dia. A superfície cultivada diminuiu em mais de 30%, aumentando a área de pastagens, devido fundamentalmente ao aumento das áreas não cultivadas. Acentua-se o envelhecimento dos agricultores, a par do aumento do número dos que,...

«É possível resistir e vencer»

Sob o lema «Outro Rumo, Nova Política ao Serviço do Povo e do País», realizou-se, este fim-de-semana, no Seixal, a Conferência Nacional do PCP sobre Questões Económicas e Sociais. Nesta iniciativa, que contou com a participação de 1165 delegados e outros tantos convidados, os comunistas propuseram uma ruptura com as políticas de direita, com uma «construção europeia» federalista e neoliberal realizada à custa da soberania nacional, com a «obsessão» pelo défice das contas públicas, com a política de reconfiguração do Estado e de subversão do seu papel e funcionamento, com o domínio do capital monopolista e com as políticas de amputação das políticas sociais. A encerrar os trabalhos, Jerónimo de Sousa sublinhou que o actual caminho que a política de direita impõe «não é único», que «há alternativa» e que «há outras soluções capazes de resolver os problemas nacionais e garantir o desenvolvimento do País e melhores condições de vida aos portugueses». «Num mundo em que o capitalismo mostra a sua natureza exploradora e agressiva, a todos dizemos, aos trabalhadores, ao povo português, apoiem este Partido portador de projecto que dá resposta aos problemas centrais da sociedade portuguesa!», frisou o secretário-geral do PCP.

Registos

Agricultura e florestaDe 1989 a 2006 desapareceram mais de 250 mil explorações e a área média das explorações passou de 7,0 para 12,0 hectares. Cresceu a concentração da terra.A agricultura perdeu peso, tendo nas últimas décadas o seu peso na economia passado de 15% para 4%, e no emprego de 31% para 5%.O país carece de...