Proclamação da Conferência Nacional

Outro rumo, nova política

1.

A 24 e 25 de Novembro de 2007 realizou-se, no Seixal, a Conferência Nacional do PCP sobre Questões Económicas e Sociais dedicada ao tema «Outro Rumo, Nova Política ao serviço do Povo e do País».

2.

A Conferência Nacional do PCP constituiu uma inequívoca afirmação de confiança, num País de progresso, com mais justiça social, soberano e independente. Pela sua realização e resoluções, a Conferência reafirma a convicção dos comunistas portugueses de que é possível, e está nas mãos dos trabalhadores e do povo, a construção de um Portugal com futuro, assente num novo rumo e numa nova política ao serviço do povo e do País alcançáveis pela ruptura com as políticas de direita que há três décadas agravam os problemas nacionais, degradam as condições de vida e comprometem as possibilidades de desenvolvimento do País.
A Conferência Nacional do PCP afirma perante o País que há uma outra política e um outro rumo, e assume a sua determinação de lutar com os trabalhadores e o povo pela concretização de uma política alternativa.

3.

A Conferência Nacional do PCP confirma a dimensão e a gravidade da situação económica e social que o País enfrenta.
As dificuldades que o País atravessa, a vulnerabilização crescente da economia nacional, o continuado agravamento da situação social, o persistente aumento das desigualdades e das injustiças sociais, não são uma fatalidade nem o simples resultado de conjunturas externas, mas sim a expressão das opções e políticas de direita que, baseadas nos dogmas do capitalismo e do neoliberalismo, têm servido uma estratégia de reconstituição do poder económico pelo grande capital e de destruição dos direitos e conquistas sociais adquiridas com a Revolução de Abril.
Portugal não está condenado à estagnação económica, ao definhamento do seu aparelho produtivo, à persistência dos crónicos défices energético e alimentar, a um modelo de desenvolvimento assente em baixos salários e na fraca incorporação científica e tecnológica no processo produtivo, à crescente dependência das orientações e interesses da União Europeia e dos países que a comandam.
Os trabalhadores e o povo português não estão condenados a uma política que viola frontalmente direitos elementares, que protege e fomenta a exploração e as crescentes injustiças que gera, que faz da mercantilização de direitos constitucionalmente consagrados uma linha condutora destinada a favorecer a acumulação dos lucros e da riqueza nas mãos dos principais grupos económicos e financeiros.
É a ruptura com estas políticas e opções que a Conferência Nacional proclama como necessária e indispensável a um Portugal de progresso, soberano e desenvolvido.

4.

A política alternativa que o PCP apresenta e propõe exige uma mudança real nos objectivos e conteúdos da política nacional, uma política de efectiva confiança em Portugal e no povo português, uma política assente na dinamização da economia e num sustentado crescimento económico.
Uma política que assuma a ruptura com as orientações e opções dominantes de direita, prosseguidas pelos sucessivos governos nos últimos trinta anos e acentuadamente agravadas com o actual governo do PS, presidido por José Sócrates. Uma política que, no respeito pela Constituição da República Portuguesa e no cumprimento dos princípios fundamentais da organização económica e social nela consagrados, assegure uma política liberta dos interesses e das orientações do capital monopolista e financeiro, a recuperação pelo Estado das suas responsabilidades económicas e sociais, a soberania e a independência nacionais como valores fundamentais para a defesa dos interesses económicos e sociais do País.
A Conferência Nacional do PCP proclama como objectivos centrais de uma alternativa económica e social, o aumento do bem-estar e da qualidade de vida das populações, a redução das desigualdades, o pleno emprego, o crescimento económico, a defesa, desenvolvimento do aparelho produtivo nacional, a coesão económica e social do território nacional, uma gestão racional dos recursos naturais e um sistema de ensino e uma política cultural virados para a formação integral do povo português.
Para o PCP constituem vectores estratégicos de uma nova política económica e social: a recuperação pelo Estado do comando político e democrático do processo de desenvolvimento e da afirmação de uma economia mista, não dominada pelos monopólios, com uma presença maioritária do sector público nos sectores estratégicos; a valorização do trabalho e dos trabalhadores; o direito ao trabalho e a garantia da segurança no emprego; o combate decidido à dependência estrutural da economia; a superação progressiva dos défices estruturais; o desenvolvimento dos sectores produtivos; o combate a financeirização da economia; a dinamização do mercado interno; a afirmação do primado dos serviços públicos na área das políticas sociais, da saúde e segurança social; a assunção da educação, da cultura e da ciência como factores nucleares do desenvolvimento económico e social
A Conferência Nacional do PCP reafirma a sua firme convicção de que não é apenas necessária como possível a construção de um outro rumo e de uma nova política, capaz de responder à exigência inadiável de desenvolvimento económico do País e de dar concretização a importantes direitos económicos e sociais consagrados na Constituição da República.

5.

A Conferência Nacional do PCP salienta que a ruptura com as actuais políticas e a construção de uma política alternativa são inseparáveis do decidido combate à política do actual governo PS e da firme resistência à ofensiva que este desenvolve contra direitos e conquistas sociais. Mas também inseparáveis do indispensável combate à repetição de falsas alternativas assentes em meras soluções de alternância que, em nome da rotação de protagonistas e responsáveis, deixa incólume o sentido, opções e conteúdos das políticas que arrastaram o País para a crise que hoje enfrenta.

6.

A Conferência Nacional reafirma, perante o País e os portugueses, que o desenvolvimento da luta da classe operária, dos trabalhadores e do povo e o reforço da influência política, eleitoral e social do PCP são condições nucleares para a construção de uma alternativa política que dê suporte a uma nova política.
A política alternativa que o PCP defende corresponde a uma ampla aspiração de afirmação de soberania nacional, dá resposta às sentidas dificuldades que a generalidade dos trabalhadores e da população enfrenta e abre horizontes e perspectivas de esperança e de confiança num Portugal mais justo e mais desenvolvido.
Aos trabalhadores, ao povo e ao País, a Conferência Nacional do PCP apresenta um caminho e um rumo alternativos para a política nacional. Está nas mãos dos trabalhadores e do povo contribuir para a sua construção, pela sua participação, pela sua luta e pelo seu apoio ao PCP.
Força insubstituível na resistência à política de direita, partido de luta, de proposta e de projecto, o PCP, coerente com o seu património de acção em defesa dos interesses dos trabalhadores e do País, proclama a sua determinação em prosseguir o objectivo de alcançar uma política alternativa e de, pelo seu reforço e pelo alargamento da frente social de oposição à política de direita, construir a alternativa política que lhe dê suporte.

7.

Com a realização da Conferência e das suas conclusões, o PCP assume perante a classe operária, os trabalhadores e o povo o firme compromisso de um projecto nacional de emancipação e de progresso, capaz de respeitar direitos e garantias dos trabalhadores, e de prosseguir uma política de elevação das condições de vida do povo português.
Fundado na convicção do valor de um projecto com raízes nos legítimos interesses e aspirações dos trabalhadores e do povo, o PCP reafirma a sua inabalável confiança num Portugal com futuro e um sinal de esperança a todos os que, aspirando a uma sociedade mais justa, não se conformam nem desistem do sonho e da luta por um País de progresso e bem-estar.


Mais artigos de: Em Foco

Resposta clara e de ruptura com as políticas de direita

(…) Da realização da Conferência Nacional e do conjunto de iniciativas preparatórias se confirmou a dimensão e gravidade da situação económica e social do País e com ela a sua real situação, os seus verdadeiros problemas e dificuldades que desmentem a enganadora propaganda das soluções da política de direita na resolução...

Um vasto trabalho de análise e proposta

Com as 4 sessões plenárias de hoje e amanhã da Conferência sobre Questões Económicas e Sociais, completa-se o vasto trabalho desenvolvido pelo colectivo partidário desde que, em Outubro do passado ano, o Comité Central do PCP decidiu avançar para a sua realização. Concretizamos assim a oportuna decisão do CC, e...

Perigos e potencialidades

Vivemos tempos de agudas tensões e instabilidade nas relações internacionais e de grande incerteza quanto à sua evolução no curto e médio prazo. Com o desaparecimento da URSS e as derrotas do socialismo, o mundo ficou mais exposto à natureza exploradora e opressora do sistema capitalista, à dinâmica das suas...

Construir um Estado democrático

A incapacidade para construir um Estado democrático não obstante as profundas transformações democráticas e revolucionárias alcançadas com a revolução de Abril, constituiu (como se afirma no relatório ao VIII Congresso apresentado por Álvaro Cunhal) a falha maior da Revolução portuguesa.As transformações sócio-económicas...

Valorizar o trabalho e os trabalhadores

(…) A realidade dos dias que correm para a generalidade dos trabalhadores é a de um ataque que chega de todos os lados, de um garrote que se aperta e compromete os seus direitos e condições de vida.É o desemprego e a impossibilidade em muitos casos de ter sequer acesso ao subsídio de desemprego. (…) A tudo isto...

Integração à medida dos mais poderosos

Hoje é mais claro para todos a estreita ligação existente entre as orientações políticas da União Europeia e a política portuguesa prosseguida por sucessivos governos do PS, PSD e CDS para conseguir uma mais rápida recuperação do poder, dos privilégios e das fortunas dos grupos económicos e financeiros, para facilitar o...

Desenvolver não é só crescer

(…) Fruto da dinâmica capitalista e das alterações que foi processando no sistema público, o capital percebeu, tal como vinha acontecendo um pouco por toda a chamada «Europa desenvolvida», que sectores significativos do sector público se transformaram em potenciais áreas de negócio bastante lucrativas e desde então tem...

Por um sector público forte e dinâmico

O processo de privatizações em curso constitui um dos mais importantes instrumentos da reconstituição do capitalismo monopolista de Estado. Um processo que do ponto de vista económico e social, resultou numa criminosa operação de concentração e centralização da riqueza nas mãos do grande Capital nacional e...

Lutar para construir a alternativa

Os trabalhadores, o povo e o País precisam de um novo rumo, de uma politica ao seu serviço que rompa com os ataques ao trabalho, com o roubo de direitos e o aniquilar dos serviços públicos, uma politica para a maioria e não dos poucos que enriquecem ás custas da miséria de muitos.Um novo rumo cada vez mais urgente,...

A ideologia da exploração

Sempre, ao longo da História – desde o esclavagismo até aos tempos actuais - os exploradores procuraram justificar a exploração. E sempre tiveram ao seu serviço um exército de ideólogos e propagandistas pagos para produzir e propagar como verdade universal essa justificação.(…) Assim, a destruição das grandes conquistas...

Defender as funções sociais do Estado

A Revolução consagrou na Constituição, designadamente no seu capítulo II, a obrigatoriedade do Estado assegurar a realização de um conjunto de direitos e deveres sociais, dando conteúdo a uma perspectiva de Estado e de Administração Pública, que entrou rapidamente em rota de colisão com o acelerado processo de...

Sem agricultura não há desenvolvimento

(…) Entre 1989 e 2006 desapareceram mais de 250 mil explorações – mais de 40 explorações por dia. A superfície cultivada diminuiu em mais de 30%, aumentando a área de pastagens, devido fundamentalmente ao aumento das áreas não cultivadas. Acentua-se o envelhecimento dos agricultores, a par do aumento do número dos que,...

Pobreza resulta de opções políticas

Como consequência das políticas económicas e sociais dos Governos nos últimos 30 anos, a pobreza alarga-se a novos segmentos da população e representa um grave problema nacional. Atinge cidadãos desprovidos de meios de subsistência e afecta, de forma preocupante, os trabalhadores com emprego, os reformados, em resultado...

«É possível resistir e vencer»

Sob o lema «Outro Rumo, Nova Política ao Serviço do Povo e do País», realizou-se, este fim-de-semana, no Seixal, a Conferência Nacional do PCP sobre Questões Económicas e Sociais. Nesta iniciativa, que contou com a participação de 1165 delegados e outros tantos convidados, os comunistas propuseram uma ruptura com as políticas de direita, com uma «construção europeia» federalista e neoliberal realizada à custa da soberania nacional, com a «obsessão» pelo défice das contas públicas, com a política de reconfiguração do Estado e de subversão do seu papel e funcionamento, com o domínio do capital monopolista e com as políticas de amputação das políticas sociais. A encerrar os trabalhos, Jerónimo de Sousa sublinhou que o actual caminho que a política de direita impõe «não é único», que «há alternativa» e que «há outras soluções capazes de resolver os problemas nacionais e garantir o desenvolvimento do País e melhores condições de vida aos portugueses». «Num mundo em que o capitalismo mostra a sua natureza exploradora e agressiva, a todos dizemos, aos trabalhadores, ao povo português, apoiem este Partido portador de projecto que dá resposta aos problemas centrais da sociedade portuguesa!», frisou o secretário-geral do PCP.

Registos

Agricultura e florestaDe 1989 a 2006 desapareceram mais de 250 mil explorações e a área média das explorações passou de 7,0 para 12,0 hectares. Cresceu a concentração da terra.A agricultura perdeu peso, tendo nas últimas décadas o seu peso na economia passado de 15% para 4%, e no emprego de 31% para 5%.O país carece de...