Reforma do IRC

Transferir mais riqueza para o capital

Urge re­a­lizar uma re­forma fiscal que alivie a carga tri­bu­tária sobre os ren­di­mentos dos tra­ba­lha­dores, o con­sumo das fa­mí­lias e a ac­ti­vi­dade das micro, pe­quenas e mé­dias em­presas.

Não é ver­dade que as em­presas pa­guem um im­posto ele­vado

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Esta sim é a ver­da­deira re­forma fiscal de que o País ca­rece, no sen­tido de pro­mover uma mais justa dis­tri­buição e re­par­tição da ri­queza na­ci­onal, não é da «re­forma do IRC» que o Go­verno tem em curso para sa­tis­fazer «ne­ces­si­dades e de­sejos das grandes em­presas e dos grupos eco­nó­micos».

Este foi um dos as­pectos nu­cle­ares da po­sição as­su­mida pela ban­cada co­mu­nista no re­cente de­bate par­la­mentar sobre a re­forma do IRC (Im­posto sobre o Ren­di­mento das Pes­soas Co­lec­tivas), di­ploma ac­tu­al­mente em apre­ci­ação na es­pe­ci­a­li­dade de­pois de apro­vado na ge­ne­ra­li­dade com os votos fa­vo­rá­veis da mai­oria PSD/​CDS-PP, a abs­tenção do PS e os votos contra do PCP, PEV e BE.

Tendo por base o pro­jecto da Co­missão de Re­forma do IRC, li­de­rada por An­tónio Lobo Xa­vier, a pro­posta go­ver­na­mental prevê a re­dução da taxa de im­posto dos 25% para os 23% a partir de 2014. O se­cre­tário de Es­tado dos As­suntos Fis­cais, Paulo Núncio, re­velou no en­tanto ser in­tenção do Exe­cu­tivo re­duzi-la para entre os 17% e os 19% até 2016.

Alargar a pos­si­bi­li­dade de «de­dução de pre­juízos fis­cais dos cinco para os 12 anos se­guintes», isentar a «tri­bu­tação dos di­vi­dendos ob­tidos no es­tran­geiro ou en­vi­ados para o es­tran­geiro», alargar a pos­si­bi­li­dade de «con­so­li­dação dos pre­juízos fis­cais das em­presas par­ti­ci­padas de grupos eco­nó­micos», «con­so­li­dação de lu­cros e pre­juízos fis­cais nas fu­sões, aqui­si­ções e fu­sões», cons­ti­tuem ou­tras vias ad­mi­tidas pelo Go­verno para uma re­dução ainda maior das taxas efec­tivas pagas pelos grandes grupos eco­nó­micos.

Desta forma, «fi­carão pra­ti­ca­mente isentos do pa­ga­mento do IRC», de­nun­ciou Paulo Sá no de­bate par­la­mentar re­a­li­zado a 24 de Ou­tubro.

Na oca­sião, a mi­nistra das Fi­nanças, Maria Luís Al­bu­querque re­correu ao ha­bi­tual chavão de que Por­tugal «pre­cisa de sis­tema fiscal mais com­pe­ti­tivo e amigo do cres­ci­mento», in­se­rindo esta re­forma do IRC no quadro dessas «ac­ções con­cretas» ne­ces­sá­rias à re­so­lução de «pro­blemas es­tru­tu­rais da eco­nomia para que o sector pri­vado crie mais e me­lhor em­prego».

In­justa re­par­tição

Um sis­tema fiscal «com­pe­ti­tivo» e «amigo», sem dú­vida, mas para os grandes grupos, con­trapôs Paulo Sá, su­bli­nhando que para as micro, pe­quenas e mé­dias o Go­verno re­serva é um au­mento do li­mite mí­nimo de Pa­ga­mento Es­pe­cial por Conta de 1000 para 1750 euros. Isto a par da «opção de não de­fi­nição de co­e­fi­ci­entes téc­nico-ci­en­tí­ficos para de­ter­mi­nação da ma­téria co­lec­tável no re­gime sim­pli­fi­cado de tri­bu­tação», o que sig­ni­fica, feitas as contas, que com tais me­didas as micro e pe­quenas em­presas verão con­si­de­ra­vel­mente agra­vada a carga fiscal que recai sobre si.

Aliás, se o Go­verno es­ti­vesse de facto apos­tado em re­solver os pro­blemas das micro e pe­quenas em­presas (a fatia maior do nosso te­cido em­pre­sa­rial) o que co­me­çaria por fazer, como lem­brou ainda Paulo Sá, seria re­solver a «in­su­fi­ci­ência da pro­cura», a «ren­ta­bi­li­dade dos in­ves­ti­mentos» e o «acesso ao cré­dito», pro­blemas que por esta ordem foram iden­ti­fi­cados como sendo os prin­ci­pais sen­tidos pelos em­pre­sá­rios, de acordo com o úl­timo inqué­rito de con­jun­tura ao in­ves­ti­mento re­a­li­zado pelo INE no pri­meiro se­mestre deste ano.

De tudo isto re­sulta, pois, na pers­pec­tiva do PCP, uma ainda «maior in­jus­tiça na dis­tri­buição do es­forço de fi­nan­ci­a­mento do Es­tado e das suas fun­ções». Os dados a esse res­peito não deixam dú­vidas: em 2000 o IRC cor­res­pondia a 69% do IRS pago pelos tra­ba­lha­dores; em 2013 a re­ceita do IRC será apenas 37% da re­ceita do IRS». No fu­turo, com esta re­forma do IRC em pleno, ad­vertiu Paulo Sá, o de­se­qui­lí­brio acen­tuar-se-á. Por isso não he­sitou em clas­si­ficar esta al­te­ração como «mais uma peça na gi­gan­tesca ope­ração de trans­fe­rência de ri­queza do tra­balho para o ca­pital».

 



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