Por uma política patriótica e de esquerda
A alternativa do PCP para a situação actual do País e numa perspectiva mais lata foi abordada em dois debates no Fórum. «Com a política que está a ser seguida não se resolve nenhum problema do País, todos tendem a agravar-se», disse Jorge Pires, da Comissão Política, que moderou o de sexta-feira à noite sobre o lema «Por uma política e um governo patrióticos e de esquerda»
A pretexto da crise e ameaçando com a bancarrota, o que as troikas nacional e estrangeira têm procurado com a sua política de austeridade é satisfazer os interesses do capital financeiro à custa de quem trabalha, referiu por outro lado o deputado João Oliveira. Se o pacto de agressão, em 2011, aparecia como a panaceia para o endividamento externo, o défice ou o desemprego, verifica-se mais não ter feito do que agravar esses mesmos problemas, liquidar o tecido produtivo, privatizar, atacar os direitos dos trabalhadores, desfigurar o regime democrático.
Os jovens têm sido dos mais atingidos por esta política. O que lhes resta, questionam-se? Emigrar como o primeiro-ministro manda? Débora Santos, da Comissão Política da JCP, considerou que o País está «cada vez mais desigual e mais injusto» e criticou os ataques à democracia dentro das escolas, que estão a tornar-se uma constante. Isto, para não falar do emprego precário – despede-se agora para voltar a contratar uns meses mais tarde – ou dos baixos salários que impedem os jovens de constituir família e ter uma vida independente.
«A construção da alternativa que tenha por objectivo uma política patriótica e de esquerda é a questão mais difícil com que estamos confrontados no curto e médio prazo», disse Carlos Gonçalves, da Comissão Política do Partido. É «um processo que pode ser de grande complexidade e prolongado». Das várias condições para o concretizar destaca-se o reforço do PCP, o desenvolvimento da luta de massas, a alteração da correlação de forças. A construção dessa alternativa é, pois, tarefa não apenas dos comunistas mas também dos democratas e patriotas que querem uma ruptura com esta política.
O que o PCP quer
Quando o PCP fala de «Uma democracia avançada: os valores de Abril no futuro de Portugal», lema do XIX Congresso, está a falar do seu programa nele aprovado, que «diz de onde vimos e para onde queremos ir: uma sociedade sem classes, o socialismo, o comunismo». Esse foi o tema de sábado à tarde.
Apesar de a revolução democrática e nacional de Abril ter colocado o nosso País no caminho de uma revolução socialista, o processo contra-revolucionário que logo se iniciou «é a causa determinante dos problemas com que estamos confrontados», lembrou Albano Nunes, membro do Secretariado do CC do Partido. E embora sublinhando que há ainda muito a defender, acusou PSD, PS e CDS de quererem levar até ao fim o processo contra-revolucionário. O certo, porém, garante, é que os valores de Abril «perduram ainda na nossa realidade e projectam-se para o futuro democrático e socialista de Portugal».
Aliás, o PCP tem como objectivo supremo a construção do socialismo e do comunismo e a estratégia e táctica do PCP para alcançar esse objectivo é definido a partir da realidade concreta, da sua experiência histórica, da perspectiva da evolução da sociedade e do mundo, disse por sua vez Vasco Cardoso, da Comissão Política do PCP.
Já para António Filipe, membro do CC e deputado, os ataques ao regime democrático têm também projecção nos ataques à democracia política. Dá como exemplos a ofensiva que, «com a ajuda preciosa do PS», vem sendo lançada contra a Constituição e o seu cumprimento, ou a tentativa de confundir a democracia com as políticas que têm sido seguidas, «armadilha», diz, a que é necessário dar forte combate.
Dos ataques à democracia social – que garante a melhoria de condições de vida dos trabalhadores e dos povos – e à democracia cultural – que assegura o acesso generalizado à livre criação e fruição culturais – falou Margarida Botelho, da Comissão Política do PCP. Lembrou os flagelos do desemprego, pobreza, miséria, toxicodependência, prostituição e marginalidade deles resultantes.
A alternativa a esta política existe, lembrou também Agostinho Lopes, membro do CC do Partido: «é a alternativa que o PCP tem vindo sistematicamente a defender» e cuja concretização está na mão do nosso povo. Aliás, essa concretização tem uma matriz económica e social – a Constituição – e ela estará tanto mais próxima «quanto maior for a luta do nosso povo e a força do PCP».
Ambos os foram debates acompanhados atentamente pelos participantes que, sem pressa de acabar, colocaram inúmeras questões a que os oradores procuraram responder.