A hora dos povos

Carlos Lopes Pereira

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A Humanidade enfrenta nestes dias um dos momentos mais críticos deste a II Guerra Mundial. Um ataque militar directo dos Estados Unidos contra a Síria pode alastrar a guerra a todo o Médio Oriente e até para além da região.

Esta foi uma das principais conclusões do debate de sábado, 8, no Espaço Internacional da Festa do Avante!, sobre «Paz e guerra no Mediterrâneo Oriental-Médio Oriente». No Palco Solidariedade, com muita gente a assistir, o debate, moderado por Carlos Almeida, contou com a participação de Jorge Cadima (PCP), de Costakis Constantinu (AKEL – Partido Progressista do Povo Trabalhador, de Chipre) e de Mustapha Meshal (FPLP – Frente Popular de Libertação da Palestina). O secretário-geral do Partido Comunista Libanês, Khaled Hadadah, e a delegação do Partido Comunista da Turquia não puderam estar presentes, já que o agravamento da situação exigiu a sua permanência nos respectivos países.

Foi Jorge Cadima quem chamou a atenção para o perigo do alastramento do conflito a toda a região, caso se concretize a ameaça de agressão militar norte-americana contra a Síria. Com a concentração de navios de guerra, mísseis e tropas no Mediterrâneo – dos Estados Unidos e aliados, mas igualmente da Rússia, que se opõe à agressão dos EUA –, a intervenção «cirúrgica» anunciada pelo presidente Obama poderia incendiar também o Líbano, a Turquia e, claro, o Irão, o alvo principal.

No debate foi reafirmada a existência, por detrás destas guerras de agressão e rapina, de uma estratégia clara do imperialismo norte-americano, intensificada nas últimas duas décadas, depois da destruição da União Soviética: recolonizar o Planeta, consolidar a hegemonia mundial, enfraquecer e destruir estados, redesenhar fronteiras, pilhar as riquezas dos povos.

Foi lembrado que o imperialismo estado-unidense, quando se trata de «justificar» agressões militares, tem um longo cadastro de mentiras, manipulações e provocações (o incidente do Golfo de Tonquim, no Vietname; as «armas de destruição maciça» no Iraque; a «limpeza étnica» no Kosovo; a «intervenção humanitária» na Líbia; e, agora, as «armas químicas» na Síria).

E foi denunciado que, na Síria, foram os Estados Unidos, a Grã-Bretanha, a França (do «socialista» Hollande!) e seus aliados regionais – a Arábia Saudita, o Qatar, a Turquia, Israel – que organizaram, financiaram e armaram os grupos terroristas da «oposição» a Bachar al-Assad, militarizando desde o início um conflito que já causou milhares de mortes e milhões de refugiados.

O debate na Atalaia foi também consensual em torno da ideia de que a solidariedade das forças progressistas mundiais com os povos agredidos como o sírio e o palestino e a crescente oposição dos trabalhadores e povos às guerras de agressão – como se viu na própria Grã-Bretanha, em França, nos Estados Unidos – podem ainda travar a intervenção imperial na Síria.

Quando soam forte os tambores de guerra, a Paz está nas mãos dos povos.

Outros caminhos são possíveis

«América Latina: realidades e experiências de cooperação» foi o tema do debate realizado no domingo, no Palco Solidariedade da Festa do Avante!. Moderado por Luís Carapinha, participaram Pedro Guerreiro (PCP), Régis Barbosa (Partido dos Trabalhadores, do Brasil), Jaime Cedano (PC Colombiano), Edgar Melendez (PC da Venezuela) e Raul Verrier (PC de Cuba).

Os intervenientes convergiram na opinião de que, na América do Sul, com a resistência heróica de Cuba socialista ao bloqueio estado-unidense e com a chegada ao poder de Hugo Chávez na Venezuela, avançou um processo de transformações progressistas. Processo que aponta um outro caminho para os povos, que mostra que é possível enfrentar a dominação imperialista, com base na cooperação entre estados. Organizações como a ALBA (Aliança Bolivariana para as Américas), a CELAC (Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos), o Mercosul ou a Unasur, organizações intergovernamentais, são respostas dos países sul-americanos baseadas na cooperação entre iguais e na recusa de soluções neocoloniais assentes na dominação e na exploração.

Também na América Latina e no Caribe – região ainda há pouco considerada o «quintal» dos Estados Unidos – os comunistas e outras forças progressistas, os trabalhadores e os povos desenvolvem lutas anti-imperialistas que interessam a toda a Humanidade.

Como a luta dos patriotas da Colômbia, levada a cabo nas montanhas, nos campos agrícolas ou à mesa das negociações em Havana, por uma paz com justiça.

O que é também notável, nos últimos anos, é que em Cuba, na Venezuela bolivariana, na Bolívia, no Equador, mas também no Brasil ou na Nicarágua, com situações diferenciadas, os povos procuram os seus próprios caminhos de construção do futuro e proclamam, como o fizeram dirigentes latino-americanos na Festa do Avante!, que o imperialismo norte-americano, o principal inimigo dos povos, pode ser derrotado.

Daí a necessidade da intensificação do combate à escala mundial contra a dominação imperialista, que passa também pelo reforço da solidariedade entre forças progressistas de diferentes continentes.

Solidariedade de que a Festa do Avante!, a deste ano também, é um belo exemplo.




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