Quando a Festa pulsou mais forte
No pulsar intenso da Festa do Avante! o comício de domingo à tarde ganhou um lugar muito especial. Emoção, atenção e participação uniram dezenas de milhares de pessoas em torno de saudações, críticas, observações, propostas e apelos. A força ali reunida acabou por transbordar os limites da Quinta da Atalaia e faz-se já notar na acção revigorada dos comunistas e no apoio crescente às posições do PCP.
As 18 horas aproximavam-se e junto ao Palco 25 de Abril já havia muita gente. É reconhecido justamente que, no cumprimento dos horários, costumamos ser respeitadores do momento marcado. O Sol, que ainda batia com força naquele amplo anfiteatro, dava mais cor às centenas de bandeiras que ali se agitavam. Junto aos pavilhões da Cidade da Juventude, do Porto e do Algarve, as zonas de sombra estavam já preenchidas e ia começando a ficar mais difícil circular, tanto mais quanto se iam encontrando e cumprimentando muitos amigos e conhecidos, com alegria mais ou menos efusiva. Sim, e também porque estão a chegar ao seu destino os desfiles que partiram de vários pontos da Festa, ao apelo da JCP e organizações regionais do Partido. Agora, com bandeiras do PCP e de partidos estrangeiros, amigos e irmãos, passa a «manifestação» que saiu do Espaço Internacional. Antes, o troar dos bombos tinha anunciado o desfile saído da zona de Setúbal.
Olhando em volta, confirmava-se já que este iria ser, mais uma vez, o maior comício partidário que tem lugar em Portugal.
No palco vazio, uma voz feminina faz-se ouvir, em nome do Comité Central do PCP, declarando aberto o comício. Logo de seguida, Maria Adelaide Alves chama, sucessivamente e suscitando longos aplausos da imensa plateia, os membros das delegações estrangeiras, a Direcção da Festa, uma representação da JCP, os membros do Comité Central e dos seus organismos executivos e, por último, o Secretário-geral do Partido.
Na avenida que circunda o terreno do palco, dois jovens, ele e ela nitidamente abaixo dos vinte anos, param uns instantes, cada qual segurando a sua dezena de exemplares do Agit. Olham em redor, a planear os próximos passos para a venda do jornal, interrompem para acompanhar a palavra de ordem «juventude do PC», com que a multidão saúda o anúncio de que vai intervir Diogo D'Ávila, do Secretariado e da Comissão Política da Direcção Nacional da JCP. Seguiram-se José Casanova, membro do Comité Central do Partido e director do Avante!, e Jerónimo de Sousa. Com as páginas seguintes reservadas para os textos das respectivas intervenções, demos mais atenção ao público e ao atento diálogo estabelecido com os oradores, durante cerca de 90 minutos.
Frente ao palco estavam todas as idades, homens e mulheres, muitas crianças, famílias inteiras ou grupos de amigos, casais... Claro, predominavam os símbolos que comprovavam ligação estreita ao Partido, mas abundavam por ali os sinais de que essa ligação seria ténue ou até inexistente. Mas era comum e geral a atenção à mensagem que vinha da tribuna. Começámos por falar em emoção - frequentemente ela foi mais visível em muitos rostos, mostrando que as palavras têm valor e que, quando assim é, os olhos reflectem o que vai no coração.
Mais nítida ainda foi a reacção pronta ao que era dito. O dirigente da JCP foi frequentemente interrompido, designadamente por palavras de ordem que se ouviram nas lutas juvenis dos últimos tempos. A lista dos países de origem das delegações estrangeiras foi lida por José Casanova sob um aplauso contínuo, enquanto a referência aos camaradas falecidos desde a Festa do ano passado foi sublinhada pela garantia de que «a luta continua», gritada a plenos pulmões por milhares de vozes. Mas também se ouviram assobios e apupos, perante referências a partidos ou figuras da política de direita.
Pouco depois das 19.30 horas, terminada a intervenção do Secretário-geral, aquele enorme coro acompanhou o Avante, camarada!, sob o ribombar de morteiros, e A Internacional, com muitos punhos no ar. Quem viu de alguns pontos mais altos - e muita gente viu, porque a Festa não ficou menos cheia, mesmo com a enchente no comício - há-de guardar por muito tempo os minutos finais, em que até parecia que era o próprio terreno que saltava, ritmadamente, ao som da Carvalhesa, que teve neste fecho do comício mais um acto de comemoração dos 25 anos da nova vida que os comunistas lhe deram.
No dia seguinte, num dos programas informativos em que se apela à participação dos ouvintes e telespectadores, a «nova temporada» da política começou por ser focada na tão estimulada quanto inconsistente tese da tensão entre PSD e PS. Dada a palavra ao público, o primeiro participante teceu o seu comentário, contou que tinha ido à Festa do Avante! pela primeira vez, que não é militante comunista e disse que «vi a festa, gostei e percebi por que razão a comunicação social quer ocultar aquela força que ali encontrei». Outras intervenções se seguiram, colocando no ar, através de uma meia dúzia de ouvintes de diferentes idades, profissões e regiões, ideias que se tinham ouvido no comício de domingo à tarde e que foram apreendidas, aprovadas e activamente apoiadas. É apenas um episódio, mas já mostra como a força reunida no comício de domingo à tarde se está a reflectir positivamente muito para lá dos limites da Quinta da Atalaia, na acção diária dos militantes comunistas e no apoio crescente às posições do Partido.