Cem anos de história com presente, futuro e memória
A 45.ª Festa do Avante!, número que encerra singularidade digna de registo, foi especial porque nela se assinalou os 100 anos do PCP, com destaque no Espaço Central em debates e numa exposição política. O «pavilhão vermelho», estrutura que convidava a desfrutar do descanso e do convívio fraternal no Café da Amizade, continha também a loja com materiais de banca.
A exposição principal atraiu milhares de visitantes de diferentes gerações, testemunhou como o Partido honra o seu passado mas dirige-se ao futuro, como referiu Jerónimo de Sousa.
O Secretário-geral do PCP visitou a exposição a meio da tarde de sábado, acompanhado por Alexandre Araújo e Rui Braga, ambos do Secretariado do Comité Central, Jaime Rocha, Adelaide Alves e José Monginho, do grupo de trabalho que concebeu e montou a exposição.
Em conversa com o Avante!, José Monginho explicou os desafios que estavam colocados na produção da mostra, designadamente a necessidade de apresentar os conteúdos aliando fluidez de circulação, eficácia de apreensão e dinâmica, assim como o facto de esta ser uma exposição do Partido com presente, futuro e memória no ano do seu Centenário.
Para José Monginho os propósitos foram alcançados, e, agradecendo aos museus de Loures, do Trabalho, em Setúbal, e do Ciclismo, nas Caldas da Rainha, salientou que a cedência de objectos e peças de arqueologia rural, industrial e do quotidiano permitiu que os visitantes conhessecem de perto as condições de vida nos anos da fundação do PCP e durante todo o período de resistência ao fascismo.
O futuro tem Partido
Aproximar o mais possível o visitante do contexto político e social foi, aliás, uma preocupação presente nos cinco grandes módulos temáticos. E, por isso, nas duas primeiras áreas, a acompanhar os painéis de texto e fotos que abordavam a fundação e primeiros anos do PCP e dos 48 anos de resistência ao fascismo, havia documentos e objectos originais do acervo do PCP. No circuito expositivo estavam, igualmente, materiais usados na mais rigorosa clandestinidade em que os comunistas e o povo combatiam a ditadura, um prelo da imprensa clandestina (os 90 anos do Avante! foram justamente evocados), ou uma bicicleta, meio de deslocação de funcionários e quadros do Partido à época.
Tridimensionado numa parede da exposição foi, por outro lado, o assassinato de José Dias Coelho, acompanhado por referências a outros militantes comunistas assassinados pelo fascismo, bem como alusões à defesa militante das casas clandestinas.
Nas demais três áreas da exposição, subordinadas à Revolução de Abril, à contra-revolução e à política alternativa e projecto de futuro do Partido, respectivamente, o circuito expositivo incluiu materiais valiosos tais como fotos de Eduardo Gageiro acompanhadas por textos de autores portugueses acerca da Revolução Portuguesa; um barco decadente simbolizando a destruição a que o nosso aparelho produtivo foi conduzido com a adesão à Europa das grandes potências; uma instalação denunciando que a natureza exploradora do capitalismo não se altera, exemplificada no teletrabalho; as maquetes das esculturas efectuadas por Sérgio Vicente e José Aurélio em homenagem aos presos políticos de Caxias e Peniche, demonstrando, através do contributo de duas distantes gerações de artistas plásticos, que a história do Partido, a sua intervenção e projecto libertador são indissociáveis e prosseguem por mãos revolucionárias. Hoje e amanhã, como ontem.
Projecto exaltante
Entre sexta e domingo, no Auditório e no Fórum do Espaço Central ocorreram 14 debates. Quatro deles conjugaram o orgulho deste PCP no seu passado e a legitimidade com que se reclama herdeiro e contribuidor do movimento operário e comunista, as tarefas e propostas imediatas e o projecto de que não abdica.
Sexta-feira, 3, no Auditório, Pedro Guerreiro, Ângelo Alves, Carina Castro e João Pimenta Lopes estiveram à conversa com a plateia sobre os «150 anos da Comuna de Paris e a luta pela emancipação social e nacional», tendo ficado claro que o capitalismo, dito triunfante, está imerso em contradições e não só não responde aos grandes problemas da humanidade como os agrava, avançando na concentração de riqueza, no abafamento da democracia e no militarismo. A sua superação revolucionária é, assim, uma necessidade e os comunistas têm na Comuna de Paris e na URSS ensinamentos valiosos. Como têm nas análises do PCP e no muito que foi conquistado pelos povos sob influência daquele sistema social superior, sendo certo que é ao comunismo e ao socialismo que pertence o triunfo na luta de classes, sublinhou-se.
Já ao início da tarde de sábado, 4, no Fórum, a plateia esteve à conversa com Manuela Pinto Ângelo, Manuel Rodrigues, Ricardo Costa e Inês Rodrigues acerca do «Centenário do PCP – Liberdade, Democracia, Socialismo – o Futuro tem Partido», tendo os oradores abordado os objectivos do PCP e das comemorações dos seus 100 anos, a vida do Partido ao serviço dos trabalhadores e do povo, a sua natureza de classe e independência, a solidariedade internacionalista que estimula e é indissociável das suas tarefas nacionais, e o papel, hoje e sempre, do PCP na luta da juventude.
No domingo, 5, dois debates no Auditório e Fórum, centrados na intervenção e propostas actuais do PCP, suscitaram o interesse de muitos visitantes. Em «Portugal em 2021 e a intervenção do PCP na luta por uma vida melhor», José Lourenço deu elementos sobre a situação económica e social do País, depois de Vasco Cardoso ter abordado a ofensiva da grande burguesia no actual contexto epidémico. Ofensiva dirigida aos direitos e rendimentos dos trabalhadores, matéria sobre a qual detalhou João Dias Coelho, seguido por Fernanda Mateus e João Oliveira no uso da palavra, um e outro apontando responsabilidades ao Governo na manutenção das opções favoráveis ao grande capital, em matéria de política social e de serviços públicos e em todas as questões estratégicas, realçaram.
Do outro lado do Espaço Central, Rui Fernandes, António Rodrigues, António Filipe e Vasco Marques debateram «Forças Armadas e independência nacional», com os dois primeiros a fazerem o enquadramento das questões gerais de Defesa Nacional e a atribuírem à política de direita e aos seus executantes as responsabilidades pela carência de meios, pela degradação da condição militar e dos direitos associativos e pelo desrespeito da missão constante na Constituição da República, e os dois últimos a focarem-se na ausência de resposta aos ex-combatentes, deficientes e familiares, e na subjugação das forças armadas portuguesas ao militarismo e à guerra imperialistas.