O fosso das desigualdades
O Governo prossegue em passo acelerado uma estratégia de concentração da riqueza, que é a fortuna de poucos à custa da miséria de milhões.
Uma realidade que tem vindo a acentuar-se de forma dramática, como se pode constatar pelo agravar da pobreza para níveis dificilmente vistos depois do 25 de Abril.
Os mais recentes dados do INE relativos às condições de vida e aos rendimentos dos portugueses assim o comprovam, evidenciando que a pobreza não pára de aumentar como não pára de crescer a injustiça na distribuição da riqueza nacional.
Foi essa leitura da realidade que o deputado comunista Jorge Machado levou na passada semana, dia 26, ao debate de actualidade suscitado pelo BE, no Parlamento, onde esteve presente o ministro da Solidariedade Mota Soares.
Citando o INE, lembrou que o risco de pobreza atingiu em 2012 os 18,7% (o valor mais elevado desde 2005), ou seja, cerca de dois milhões de portugueses. Se corrigido o efeito da quebra generalizada dos rendimentos, porém, ainda segundo o instituto estatístico nacional, o risco de pobreza sobe para 24,7%, o que corresponde a cerca de dois milhões e 600 mil portugueses.
O deputado do PCP anotou ainda que 40,2 % dos desempregados e 10,5% dos empregados são pobres e que o risco de pobreza entre os menores de 18 anos é de 24,4%. Tendo presente os dados do inquérito do INE, assinalou por fim que os mesmos revelam que em 2013 25,5% da população sofria de privação material, 10,9% sofria de privação material severa, enquanto aumentou o fosso entre os mais ricos e os mais pobres.
«Os mais ricos, os grupos económicos, os bancos, esses que engordam à tripa forra, esse sim, têm razões para com o Governo atirar foguetes», sublinhou Jorge Machado, não vendo que outra atitude possam aqueles ter quando 12 mil milhões são garantidos à banca, 7300 milhões são pagos em juros da dívida por ano, 1045 milhões são concedidos só em 2013 em benefícios fiscais que são escondidos dos portugueses, 850 milhões são pagos em PPP ou 1008 milhões em contratos SWAP.
Não admira assim, pois, que os milionários tenham num só ano aumentado as suas fortunas em 17%, como não admira que os grupos económicos tenham registado lucros que Jorge Machado não hesitou em classificar de «obscenos»: EDP, 1012 milhões em 2012 e 1005 em 2013; Portucel, 211 milhões em 2012 e 210 milhões em 2013; BES, 96 milhões em 2012 e 517 milhões em 2013; GALP, 359 milhões em 2012 e 310 milhões em 2013; Sonae, 33 milhões em 2012 e 319 milhões em 2013; Grupo Jerónimo Martins, 360 milhões em 2012 e 382 milhões em 2013.
São estes números que ajudam a compreender a razão pela qual é cada vez mais fundo o fosso das desigualdades: os pobres são cada vez mais e cada vez mais pobres e os ricos, esses, são cada vez mais ricos.