Arte comprometida com a luta
Álvaro Cunhal conjugou a coerente e profícua elaboração teórica e acção políticas com uma notável intervenção cultural e artística. Uma e outra são indissociáveis entre si e da opção de classe a que dedicou o melhor da sua energia e inteligência, bem como do seu
Partido de sempre, do qual foi o mais relevante construtor. Interventivo, também, na atracção ao Partido de intelectuais e artistas, na defesa da liberdade de produção cultural e da sua democratização às amplas massas populares, no estímulo, nos planos partidário e unitário, ao envolvimento de não intlectuais na definição da política cultural.
Com obra de inegável qualidade nos domínios da escrita, da tradução, da pintura e do desenho, Álvaro Cunhal deixou um acervo de textos onde discute a arte e a estética, a sua origem e evolução, e teoriza sobre forma e conteúdo. Defende o comprometimento
da expressão artística com a realidade social em que ocorre e que, aliás, influencia a obra independentemente da vontade do artista, mas rejeita e combate imposições de primados ou tendências, notando-os como coercivos do «apelo à liberdade, à imaginação, à fantasia, à descoberta e ao sonho».
A construção do PCP e o projecto comunista, a resistência antifascista e o carácter repressivo e opressivo do regime fascista – a ditadura terrorista dos monopólios (associados ao imperialismo) e dos latinfundiários –, a experiência multifacetada dos quadros revolucionários na clandestinidade, os alores, virtudes e defeitos do ser humano no quotidiano da luta e da vida, o entusiasmo de viver, a alegria do convívio popular, estão representados em todas as expressões artísticas a que Álvaro Cunhal dedicou empenho.
Esforço que nunca foi a antítese do prazer, da paixão e iniciativa do criador artístico, mas antes uma busca do aperfeiçoamento da forma e conteúdo que conjugados e apropriados socialmente se assumem como estímulos da consciência e concretização da beleza, a qual Álvaro Cunhal entendia como «parte integrante da felicidade do homem».