Parados contra o roubo
A greve deu um inequívoco sinal de revolta
«De Norte a Sul do País, estão encerradas centenas de escolas dos vários níveis de ensino; hospitais a funcionar só com serviços mínimos e centros de Saúde sem quaisquer consultas; serviços do Instituto da Segurança Social; repartições de finanças encerradas ou a laborar muito deficientemente; adesões de cem por cento em vinte cinco embaixadas e consulados no estrangeiro» – este retrato foi traçado pela Federação Nacional dos Sindicatos da Função Pública, que na tarde de 24 de Novembro saudou «todos os trabalhadores do sector que hoje contribuíram, com a sua disponibilidade e o seu esforço, para o êxito da greve geral».
Para a FNSFP/CGTP-IN, «a injustiça e a gravidade das medidas que o Governo tem vindo a tomar, sob o pretexto do acordo com a troika, levaram a que mais de 70 por cento dos trabalhadores da Administração Pública central aderissem à greve, provocando com isso o encerramento de muitos serviços centrais e periféricos, dos sectores da Saúde, da Educação, da Segurança Social, das Finanças, da Administração Interna, da Justiça ou dos Negócios Estrangeiros».
Isto, assinala a federação, «apesar da intensa campanha levada a cabo pelo Governo e por quem apoia as suas políticas, designadamente o grande capital, no sentido de tentar fazer crer que as medidas adoptadas são inevitáveis e que supostamente recaem de igual modo sobre todos», e contrariando igualmente «as pressões exercidas nos últimos dias, em particular sobre os trabalhadores com emprego precário».
Depois de realçar que «os trabalhadores da Administração Central mostraram, mais uma vez, que o caminho está na luta», a federação exorta ao reforço da unidade e da organização nos locais de trabalho, para assim consolidar «as condições para o prosseguimento da luta que se perspectiva intensa e duradoira, sempre com a convicção de só assim alcançaremos uma vida mais digna e um Portugal desenvolvido».
O Sindicato Nacional dos Trabalhadores da Administração Local, por seu turno, saudou «os milhares de trabalhadores das câmaras municipais, serviços municipalizados, juntas de freguesia, empresas municipais e concessionárias de serviços públicos locais, bombeiros, escolas, jardins de infância, transporte urbanos municipais e demais entidades inseridas no âmbito da Administração Local e Regional, que hoje deram corpo ao seu descontentamento e à sua revolta numa poderosa adesão» à luta geral.
Com uma adesão global que o STAL/CGTP-IN situa acima de 85 por cento, os trabalhadores «deram um sinal inquestionável de revolta contra a política de roubos, injusta e imoral do Governo PSD/CDS-PP», levando à «paralisação de uma enorme quantidade de serviços», com efeitos visíveis, enunciados pelo sindicato: lixo por recolher na maioria das cidades, transportes públicos paralisados, centenas de serviços de atendimento ao público encerrados, encerramento de juntas de freguesia, museus, bibliotecas, parques desportivos, serviços de fiscalização, escolas e jardins-de-infância, afectando ainda bombeiros municipais, sapadores e voluntários.
Persistir
contra coacção
«Diversas situações de pressão, chantagem e coacção» foram referenciadas pelo STAL, que expressou solidariedade «aos trabalhadores que de forma ignóbil foram feridos na sua dignidade e no seu direito inalienável à greve», e condenou «autarcas, chefias e forças de segurança que, de uma ou de outra forma, foram protagonistas directos ou coniventes com inqualificáveis actos de violação da lei da greve, destacando-se as situações vividas em Oeiras, em Sintra, em Braga e na Madeira».
Assegurando que a luta vai continuar, o sindicato anunciou para hoje uma concentração de protesto junto da Assembleia da República, no âmbito de uma jornada europeia promovida pela Federação Sindical Europeia de Sindicatos de Serviços Públicos. Também para São Bento, está marcada uma Tribuna Pública, a 12 de Dezembro, em defesa do poder local, contra a redução de autarquias e de trabalhadores. Nesta ocasião, o STAL pretende entregar no parlamento uma petição que conta já com milhares de assinaturas.
Polícias solidários
A Comissão Coordenadora Permanente dos Sindicatos e Associações dos Profissionais das Forças e Serviços de Segurança, num comunicado que divulgou dia 23, declarou-se «solidária com a greve geral de amanhã, desejando que seja um sucesso na defesa dos direitos dos trabalhadores e do povo».
Por um lado, a CCP reiterou «o apoio aos profissionais do SEF, da Guarda Prisional e da ASAE que, amanhã, se associam ao protesto». Por outro lado, em nome das estruturas representativas da GNR, da PSP e da Polícia Marítima, a coordenadora deixou «bem vincado que só não aderem à greve geral porque a lei não lhes confere tal direito». É que, como se assinala no comunicado da CCP, «os profissionais das forças e serviços de segurança atravessam um momento delicado, tal como a restante população, sendo gravemente afectados pelos cortes salariais, pelo aumento das comparticipações para os serviços de Saúde, pelo agravamento dos impostos e por todas as situações transversais aos restantes sectores da sociedade».