MEC responde com pressões e ameaças

Cambridge com resistência

A greve de pro­fes­sores de ou­tras dis­ci­plinas ao ser­viço de vi­gi­lância da prova es­crita do exame PET, no dia 6, somou-se ao pro­testo dos do­centes de In­glês e o pró­prio MEC mos­trou que os efeitos da re­sis­tência fazem-se sentir.

Para iludir os efeitos da greve o MEC não tem li­mites fi­nan­ceiros

Um ofício, as­si­nado pelo pre­si­dente do IAVE e o di­rector-geral da DGEsTE e en­viado a di­rec­tores de es­colas e agru­pa­mentos, no se­gui­mento da prova do «exame Cam­bridge» de quarta-feira da se­mana pas­sada, foi co­men­tado pela Fe­de­ração Na­ci­onal dos Pro­fes­sores como a con­fir­mação da grande adesão dos pro­fes­sores à greve con­vo­cada a todo o ser­viço re­la­ci­o­nado com o exame e a de­mons­tração de que o MEC en­ve­redou pela pressão ile­gí­tima e pela ameaça.

«Em tom de no­tório de­ses­pero», re­fere-se na nota di­vul­gada dia 11, se­gunda-feira, pelo Se­cre­ta­riado Na­ci­onal da Fen­prof, aqueles dois altos res­pon­sá­veis «con­firmam o in­su­cesso da “con­vo­cação” dos pro­fes­sores para for­mação» e, «por essa razão, or­denam, agora, a di­rec­tores que con­vo­quem os “pro­fes­sores clas­si­fi­ca­dores por si de­sig­nados que não con­cluíram, até à data, a cer­ti­fi­cação para as fun­ções de clas­si­fi­cador”», acres­cen­tando que «na au­sência do do­cente às ses­sões para as quais foi re­gu­lar­mente con­vo­cado, a Di­recção de­verá agir em con­for­mi­dade».

A este tom de ameaça a Fen­prof con­trapõe que é «ab­so­lu­ta­mente legal» a au­sência dos pro­fes­sores à for­mação, como a todas as ac­ti­vi­dades re­la­ci­o­nadas com este exame. Mas já é «la­men­tável e exe­crável que, 41 anos após o 25 de Abril de 1974, os di­ri­gentes do IAVE e da DGEsTE façam este tipo de pressão ile­gí­tima».

A Fen­prof re­jeita que os dois or­ga­nismos falem em «falta de com­pa­rência ao ser­viço» por parte dos pro­fes­sores que, em greve, não re­a­li­zaram as «ses­sões de Spe­a­king». «Há, isso sim, adesão a uma greve con­vo­cada para per­mitir que os pro­fes­sores re­cusem en­volver-se num pro­cesso que sai do âm­bito das suas fun­ções, que pre­ju­dica a sua ac­ti­vi­dade na es­cola com os seus alunos (essa sim, es­sen­cial para a va­lo­ri­zação e pro­moção da qua­li­dade do en­sino e da apren­di­zagem da língua in­glesa) e que se mantém en­volto por manto pouco trans­pa­rente», sa­li­enta a Fen­prof.

A fe­de­ração vê também no ofício a con­fir­mação de que, «para este pro­cesso, não há li­mites fi­nan­ceiros», já que nele se afirma que quem re­a­lizar mais de seis «ses­sões de Spe­a­king» terá, «a tí­tulo ex­cep­ci­onal, uma con­tra­par­tida fi­nan­ceira» por «tra­balho adi­ci­onal» – uma «fi­gura ju­rí­dica criada para este efeito», como a fe­de­ração as­si­nala.

Mas os di­ri­gentes má­ximos da DGEsTE e do IAVE lem­bram também que re­a­lizar as «ses­sões de Spe­a­king» dá di­reito a pa­ga­mento do trans­porte «in­de­pen­den­te­mente da dis­tância per­cor­rida».

Cerca de seis mil alunos fi­caram im­pe­didos de re­a­lizar a prova es­crita do «Pre­li­mi­nary En­glish Test», porque muitos pro­fes­sores re­sis­tiram às pres­sões e fi­zeram greve ao ser­viço de vi­gi­lância, des­ta­caram as sete or­ga­ni­za­ções sin­di­cais de pro­fes­sores (entre as quais está a Fen­prof) que con­vo­caram esta luta, que se pro­longa até dia 22, li­mite para a re­a­li­zação de provas orais.

As or­ga­ni­za­ções da Pla­ta­forma Sin­dical ad­mitem, na nota que di­vul­garam ainda no dia 6, que o pe­ríodo de greve a todo o ser­viço do «exame Cam­bridge» possa es­tender-se para lá da­quela data, se o MEC alargar o pe­ríodo de exames.

O im­pacto da adesão à greve só não foi maior porque o MEC al­terou as con­di­ções nor­mais da re­a­li­zação do exame, per­mi­tindo vi­gi­lân­cias apenas por um pro­fessor, con­vo­cando do­centes à úl­tima hora e sem terem par­ti­ci­pado nas reu­niões pre­pa­ra­tó­rias da prova, im­pondo a des­lo­cação de do­centes para ou­tras es­colas dos seus agru­pa­mentos.

 

A greve falou

«Com a sua adesão à greve, os pro­fes­sores pre­ten­deram dizer ao MEC que exigem res­peito pelo seu tra­balho, re­jei­tando ser tra­tados como “pau-para-toda-a-obra”, com a im­po­sição de ta­refas que saem do âm­bito das suas fun­ções», des­tacam as or­ga­ni­za­ções da Pla­ta­forma Sin­dical. Os pro­fes­sores «dis­seram ainda que exigem res­peito pelos seus alunos e pela ac­ti­vi­dade que lhes está atri­buída nas es­colas», o que não se com­pa­dece com a anu­lação de aulas em muitas es­colas – a qual, no caso dos pro­fes­sores de In­glês, foi de­ci­dida em nome da ava­li­ação da pro­fi­ci­ência lin­guís­tica dos alunos.
Na nota sobre os re­sul­tados da greve no dia 6, a Pla­ta­forma su­blinha que «nunca exigiu, por exemplo, que este ser­viço fosse pago aos pro­fes­sores, o que sempre exigiu foi que o mesmo não im­pli­casse a perda de aulas por parte dos alunos e que a par­ti­ci­pação dos pro­fes­sores no pro­cesso fosse vo­lun­tária». E «in­formou mesmo os res­pon­sá­veis mi­nis­te­riais, em reu­nião re­a­li­zada em 31 de Março, que sus­pen­deria a greve, caso fosse essa a de­cisão do MEC». Como não foi assim de­ci­dido, o pré-aviso de greve veio «pro­teger le­gal­mente os pro­fes­sores cuja opção fosse o tra­balho com os seus alunos e não a par­ti­ci­pação neste pro­cesso».

 



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