Onde a solidariedade e a luta se encontram
Enquanto recobrávamos forças sentados à sombra de uma das esplanadas do Espaço Internacional, um grupo de jovens decididos passa pela entrada com a energia de quem sabe que o futuro lhe pertence e se dispõe a reclamá-lo. Questionamos o que os faz correr sem fadigas. É a liberdade para sonhar e fazer que aqui se concretiza – concluímos.
Durante três dias cada um é o que é e sem demoras entrega-se a esta Festa. Muitos encontram respostas e questionam o que a burguesia lhes impinge. Outros decidem tomar partido aderindo à única força política capaz de fazer a Festa que lhes dá a conhecer um País de quem mais ninguém fala e um mundo feito de solidariedade e luta.
Espreitando, dá para perceber que o grupo se encontra com outro semelhante. Decidem ficar por ali, parados no meio da escadaria que dá para a praça central, decorada com quatro lonas colocadas a quatro metros de altura que lembram que o capitalismo é opressão e guerra, que a solidariedade é a nossa força, e que a luta é o caminho que torna possível transformar o sonho em vida e o socialismo o futuro dos povos.
Fosse outra a hora e os que ocupam quase por completo o acesso ouviriam sonoros «conlicenças» vindos de quem não perde pitada dos debates e espectáculos que preencheram a programação do Palco Solidariedade, que teve rivais à altura nos convívios espontâneos realizados nos pavilhões do MPLA, do Bloco Nacionalista Galego, do PC da Catalunha e do seu homólogo de Cuba.
Dois jovens acompanham-se na curiosidade afastando-se dos restantes. Esgueiram-se sobre o pavilhão do Partido Comunista de Espanha. No interior, prepara-se nova jornada, a qual terminará invariavelmente em grande folia, com diferentes gerações a cantar e a dançar sem falsas convenções e constrangimentos.
Remexem t-shirts, contornam uma camarada que limpa as mesas e recolhe papéis e plásticos despojados. Uns metros ao lado fixam-se na frase inscrita na parede que uma bandeira republicana pinta de cores vivas: «Nem nos domaram/Nem nos dobraram/Nem nos vão domesticar». Um fica a pensar com os olhos no nome do autor – Marcelino Camacho, comunista e histórico dirigente operário das Comisiones Obreras –, o outro arregala os olhos para pinchos e sangria.
Ainda é cedo, terá pensado arrastando o amigo para o lado oposto onde se juntam a uma fila compacta que espera um caipifrutas. Estão junto do PCdoB e entre movimentos mecânicos (tiram a carteira, olham em volta) deixam-nos ver que a simpatia com que os camaradas brasileiros recebem os visitantes vem recheada da confiança de «que vai nascer um Brasil como nunca se viu».
No bom caminho
Tomamos o caminho oposto dos grupos que fundidos se preparam para percorrer os corredores da estrutura em forma de estrela. Mais tarde vamos encontrá-los de novo dispersos. Coisas do apetite. Se para uns a cachupa de Cabo Verde vem mesmo a calhar, outros decidem provar uns Pielmeni na Associação Iúri Gagarine. Os petisqueiros, que sempre existem em conjuntos heterogéneos, também não terão sido mal servidos, quer tenham optado pelo Espaço da Paz e da Solidariedade, quer tenham seguido as sugestões dos pavilhões dos partidos comunistas do Uruguai ou do Partido dos Trabalhadores do Brasil.
Apontamos em direcção à Porta da Quinta da Princesa e encontramos uma frase de Lénine que apela à união de todos os trabalhadores e povos oprimidos. Estamos no bom caminho! Mas no caminho dos justos estaríamos também se do lado contrário do Espaço Internacional deparássemos com os murais apelando à justiça, liberdade e democracia para o povo das Honduras, exigindo a retirada das tropas portuguesas do Afeganistão ou estimulando à luta porque o capitalismo é crise e o tempo é de dizer basta!
Mais adiante trocamos impressões sobre a situação política com comunistas do Chile. Campanha presidencial em curso para derrotar a política de direita e, simultaneamente, trabalha-se para o reforço do partido, dizem. Lá como cá, as tarefas complementam-se. Avançamos e apercebemo-nos de que os partidos germânicos também preparam actos eleitorais. No Partido «A Esquerda», um alemão esforça-se por se entender com um visitante que sorve café colombiano em tragos meditados, mas no espaço do PC Alemão o material de banca e a tradução portuguesa do órgão central Unsere Zeit (Nosso Tempo) quebram o gelo a um maior número de conversas.
Unidos no comício
Com o estômago a protestar e um mojito a finar-se no copo, decidimos tomar medidas. Encostados a uma das paredes do pavilhão do Conselho Português para a Paz e Cooperação (CPPC), organização que espicaça a acção com um eloquente «a paz não sai na raspadinha», um casal de namorados devora pitas shoarmas. Está decidido! É lá que vamos. Ultrapassamos camaradas que transportam artesanato, cuja oferta no Espaço Internacional ia das peças andinas bolivianas e peruanas às «matrioscas» russas, sem esquecer o artesanato tradicional de Timor-Leste e de Moçambique.
Saciada a fome, damos uma volta pelo recinto. Pensamos em dar um pulo à Frente POLISÁRIO para tomar um último chá e repousar na tenda berbere. De caminho, detemo-nos mais atentamente na exposição que o CPPC trouxe sobre o Sahara Ocidental. Mas as bandeiras da CDU já se misturam com as de partidos de outros países e o projecto fica adiado mais um ano.
Dentro de escassas dezenas de minutos, camaradas de várias nacionalidades juntar-se-ão à multidão que desfilará avenida abaixo até fazer transbordar o Palco 25 de Abril. Vamos também que a luta continua!
Durante três dias cada um é o que é e sem demoras entrega-se a esta Festa. Muitos encontram respostas e questionam o que a burguesia lhes impinge. Outros decidem tomar partido aderindo à única força política capaz de fazer a Festa que lhes dá a conhecer um País de quem mais ninguém fala e um mundo feito de solidariedade e luta.
Espreitando, dá para perceber que o grupo se encontra com outro semelhante. Decidem ficar por ali, parados no meio da escadaria que dá para a praça central, decorada com quatro lonas colocadas a quatro metros de altura que lembram que o capitalismo é opressão e guerra, que a solidariedade é a nossa força, e que a luta é o caminho que torna possível transformar o sonho em vida e o socialismo o futuro dos povos.
Fosse outra a hora e os que ocupam quase por completo o acesso ouviriam sonoros «conlicenças» vindos de quem não perde pitada dos debates e espectáculos que preencheram a programação do Palco Solidariedade, que teve rivais à altura nos convívios espontâneos realizados nos pavilhões do MPLA, do Bloco Nacionalista Galego, do PC da Catalunha e do seu homólogo de Cuba.
Dois jovens acompanham-se na curiosidade afastando-se dos restantes. Esgueiram-se sobre o pavilhão do Partido Comunista de Espanha. No interior, prepara-se nova jornada, a qual terminará invariavelmente em grande folia, com diferentes gerações a cantar e a dançar sem falsas convenções e constrangimentos.
Remexem t-shirts, contornam uma camarada que limpa as mesas e recolhe papéis e plásticos despojados. Uns metros ao lado fixam-se na frase inscrita na parede que uma bandeira republicana pinta de cores vivas: «Nem nos domaram/Nem nos dobraram/Nem nos vão domesticar». Um fica a pensar com os olhos no nome do autor – Marcelino Camacho, comunista e histórico dirigente operário das Comisiones Obreras –, o outro arregala os olhos para pinchos e sangria.
Ainda é cedo, terá pensado arrastando o amigo para o lado oposto onde se juntam a uma fila compacta que espera um caipifrutas. Estão junto do PCdoB e entre movimentos mecânicos (tiram a carteira, olham em volta) deixam-nos ver que a simpatia com que os camaradas brasileiros recebem os visitantes vem recheada da confiança de «que vai nascer um Brasil como nunca se viu».
No bom caminho
Tomamos o caminho oposto dos grupos que fundidos se preparam para percorrer os corredores da estrutura em forma de estrela. Mais tarde vamos encontrá-los de novo dispersos. Coisas do apetite. Se para uns a cachupa de Cabo Verde vem mesmo a calhar, outros decidem provar uns Pielmeni na Associação Iúri Gagarine. Os petisqueiros, que sempre existem em conjuntos heterogéneos, também não terão sido mal servidos, quer tenham optado pelo Espaço da Paz e da Solidariedade, quer tenham seguido as sugestões dos pavilhões dos partidos comunistas do Uruguai ou do Partido dos Trabalhadores do Brasil.
Apontamos em direcção à Porta da Quinta da Princesa e encontramos uma frase de Lénine que apela à união de todos os trabalhadores e povos oprimidos. Estamos no bom caminho! Mas no caminho dos justos estaríamos também se do lado contrário do Espaço Internacional deparássemos com os murais apelando à justiça, liberdade e democracia para o povo das Honduras, exigindo a retirada das tropas portuguesas do Afeganistão ou estimulando à luta porque o capitalismo é crise e o tempo é de dizer basta!
Mais adiante trocamos impressões sobre a situação política com comunistas do Chile. Campanha presidencial em curso para derrotar a política de direita e, simultaneamente, trabalha-se para o reforço do partido, dizem. Lá como cá, as tarefas complementam-se. Avançamos e apercebemo-nos de que os partidos germânicos também preparam actos eleitorais. No Partido «A Esquerda», um alemão esforça-se por se entender com um visitante que sorve café colombiano em tragos meditados, mas no espaço do PC Alemão o material de banca e a tradução portuguesa do órgão central Unsere Zeit (Nosso Tempo) quebram o gelo a um maior número de conversas.
Unidos no comício
Com o estômago a protestar e um mojito a finar-se no copo, decidimos tomar medidas. Encostados a uma das paredes do pavilhão do Conselho Português para a Paz e Cooperação (CPPC), organização que espicaça a acção com um eloquente «a paz não sai na raspadinha», um casal de namorados devora pitas shoarmas. Está decidido! É lá que vamos. Ultrapassamos camaradas que transportam artesanato, cuja oferta no Espaço Internacional ia das peças andinas bolivianas e peruanas às «matrioscas» russas, sem esquecer o artesanato tradicional de Timor-Leste e de Moçambique.
Saciada a fome, damos uma volta pelo recinto. Pensamos em dar um pulo à Frente POLISÁRIO para tomar um último chá e repousar na tenda berbere. De caminho, detemo-nos mais atentamente na exposição que o CPPC trouxe sobre o Sahara Ocidental. Mas as bandeiras da CDU já se misturam com as de partidos de outros países e o projecto fica adiado mais um ano.
Dentro de escassas dezenas de minutos, camaradas de várias nacionalidades juntar-se-ão à multidão que desfilará avenida abaixo até fazer transbordar o Palco 25 de Abril. Vamos também que a luta continua!