A música foi à guerra! E venceu!
Com pancadas secas de tambor se iniciou, na sexta-feira, o espectáculo «Opus 1945», uma produção feita especialmente para a Festa do Avante! para comemorar os 60 anos da Vitória dos povos sobre o nazi-fascismo, em 1945. As pancadas, semelhantes a três pontos e um traço no código morse, simbolizavam a letra «V», de vitória, e eram usadas pela BBC nas emissões noticiosas sobre o desenvolvimento da II Guerra Mundial.
Nos primeiros minutos do espectáculo – seguido por milhares de pessoas, de todas as idades e formações – imagens da guerra em vídeo acompanhavam as quatro célebres pancadas, que logo se transformaram nas primeiras notas da 5.ª Sinfonia de Beethoven.
Quando começou a actuação dos 104 músicos da Sinfonietta de Lisboa já o relvado estava repleto de público, após terem dançado com entusiasmo e sofreguidão a primeira «Carvalhesa» do ano no palco 25 de Abril.
Era um público variado e diversificado: dos conhecedores das obras aos curiosos; dos amantes do género aos que pela primeira vez ouviam e gostavam; dos que eram movidos por motivações políticas e apreciavam a música aos apreciadores das sonoridades mais eruditas e que ficavam depois atraídos pelos ideais que sustentavam o espectáculo.
Após a abertura, com Beethoven, foi a vez da «música que foi à guerra», como lhe chamou Cândido Mota. Seguiram-se obras de Sergei Prokofieff, Aaron Copland e Bohuslav Martinu, a deste último (o 2.º andamento da 4.ª Sinfonia) em estreia absoluta em Portugal.
Mas não foi só a música erudita a ir à guerra, lembrou o apresentador. A música popular também foi. E não podia faltar à Festa que evocou a Vitória dos povos sobre o fascismo, nessa guerra. Ana Brandão, revelou os seus dotes de cantora (e de poliglota), acompanhada pelo pianista João Carlos Esteves da Silva e pelo contrabaixista Carlos Bica, interpretou três canções populares: uma francesa, uma alemã e uma inglesa. As interpretações de L’Affiche Rouge (de Louis Aragon e Jean Ferrat), Die Moorsoldaten e We’ll Meet Again remeteram para os dias da guerra, para as angústias do avanço nazi-fascista e para a alegria da vitória. E o público deixou-se contagiar pelas canções e contagiou os músicos com o entusiasmo da sua adesão ao espectáculo.
A terminar, voltou a música clássica, com o primeiro e o quarto andamentos da Sinfonia «Leninegrado», de Dimitri Shostakovitch, a que se poderiam chamar, como avançou Cândido Mota, respectivamente «Guerra» e «Vitória». As imagens projectadas no ecrã gigante seguiam as diferentes fases da guerra, acompanhando o frenético ritmo da obra, nomeadamente no quarto andamento. Após uma interminável salva de palmas, o fogo de artifício e a «Carvalhesa» continuaram a comemoração da Vitória do Exército Vermelho e dos povos sobre o nazi-fascismo. Tam-tam-tam-taaaaam! Vitória!
Xutos e Clã levaram a Festa ao rubro
Os Xutos & Pontapés tiveram, no sábado à noite, uma das maiores enchentes alguma vez vistas na Quinta da Atalaia. O relvado estava repleto, bem como as ruas próximas e os espaços das organizações que ficavam mais perto do palco 25 de Abril. A banda ofereceu um espectáculo enérgico e bastante politizado, iniciado com a canção «Estupidez», que contesta o rumo seguido por esta «União da tanga», pela «Europa de Portugal», na qual «está tudo mal, tudo mal», afirma a histórica banda. As canções seguintes não ficaram atrás, em energia, entrega e conteúdo. Todas as canções foram seguidas em uníssono por um público variado mas unido no afecto à música. A meio do espectáculo, o guitarrista Zé Pedro denunciou diversas injustiças do mundo e apelou a todos para que façam algo para mudar o rumo das coisas. Às vezes basta um pequeno gesto, como um voto, afirmou. E, dirigindo-se ao presidente dos Estados Unidos, declarou: «Nós já decidimos. Preferimos a liberdade à submissão». E «Submissão» foi o nome da canção que se seguiu, com Zé Pedro a assumir a posição de vocalista.
Mais tarde, o vocalista Tim agradeceu à organização da Festa, ironizando: «Ainda falam os outros em festivais». E, apontando para a vasta assistência, assinalou que «vocês sabem o que é estarem todos juntos. Quem me dera estar aí entre vocês».
«Dá um mergulho no mar», com direito a fogo e a um banho, e «A minha casinha» deram o mote para o final.
A seguir foram os Clã a subir ao palco 25 de Abril. E se a banda que os antecedeu ofereceu um concerto de puro rock, a banda portuense entregou-se a um concerto onde
passou em revista os maiores sucessos e algumas canções menos conhecidas mas nem por isso de menor qualidade. A todas as canções o público respondeu dançando, cantando, saltando. Fora do relvado eram muitos os que assistiam. Mais velhos que, não conhecendo a fundo o trabalho da banda, transpareciam alegria, felicidade e dançavam, dançavam e dançavam. Terminado o concerto, foi tempo de mais dança, com a «Carvalhesa» e com o fogo de artifício. E a Festa prosseguiu, noite fora…
Palco 25 de Abril
A Festa de todas as músicas
A «Carvalhesa» deu o sinal para o início do segundo dia de folia que arrancou com uma banda em busca de consagração. Do country ao rockabilly, do blues ao jazz, os Bunnyranch, logo no início, agradeceram a oportunidade de poder actuar num palco com a potência sonora do 25 de Abril.
O vocalista e simultaneamente baterista Kaló, afirmou ter sido uma grande honra actuar «no palco mais emblemático do País», e que «Festa é Festa e não há Festa como esta. Sempre ouvi dizer e é verdade».
A paz que reinava no espaço ao som da banda até permitiu a um pai com um bebé aos ombros e uma criança de tenra idade pela mão, chegar às baias de segurança, na frente do palco, sempre dançando com as crianças numa harmonia e um respeito mútuo entre todos os presentes que é de enaltecer. O baterista e vocalista despediu-se com um «Hasta la vitória!».
A singularidade da música dos Primitive Reason que funde o Hardcore com o ska, o reggae e o rock, atraiu os ouvidos de muitos.
A meio do espectáculo, a reprodução da voz de Fidel Castro foi um momento de homenagem à luta internacionalista contra o capitalismo neoliberal. Não faltou ainda uma interpretação distorcida em guitarra eléctrica da «Internacional» comunista.
Seguiu-se depois a irreverência revolucionária de uma das mais emblemáticas bandas de intervenção na Galiza, os Skárnio que, como o nome indica, fazem do Ska e de um particular estilo de RAP reivindicativo que em Espanha se chama rabiamuffim, o seu cardápio musical.
A banda assume a luta pela autodeterminação e independência da Galiza, a independência dos povos e o socialismo e o espectáculo foi autêntico um comício musical.
A malta nova que gosta de dançar de forma mais frenética manifestou, de novo, uma forte dose de respeito por todos os que os circundavam, assistindo calmamente ao espectáculo. Entre eles estava, há mais de duas horas, um camarada que rejubilava de alegria com a sua bandeira do Che. Vítor Sousa, 62 anos, natural de Portimão foi à Festa do seu Partido para constatar como ele tem futuro e como a juventude, com o tempo, o vai compreendendo cada vez melhor.
Os Skárnio homenagearam o PCP com uma versão em ska da canção «Avante, camarada!» e Víctor Jara, através de uma versão, também em ska, do tema «El pueblo unido». Escutou-se ainda partes do discurso de Che Guevara na ONU, e algumas frases proferidas por Fidel Castro. No fim do espectáculo começaram a ouvir-se os passos arrastados na terra que dão início à «Grândola» de Zeca Afonso. Milhares de espectadores entoaram a primeira estrofe da «Terra da fraternidade».
Seguiu-se a celebração do 30.º aniversário da Brigada Víctor Jara que dedicou o espectáculo a Álvaro Cunhal.
Janita Salomé, Lena d’Água, Cristina Branco, o músico Tomás Pimentel e António Pinto interpretaram temas populares recolhidos e adaptados pela Brigada. Entre as músicas, o violinista Manuel Rocha enalteceu a vida da Brigada que, sempre com o povo, o PCP e os seu aliados, soube, ao longo de 30 anos, manter a sua postura e coerência. Manuel Rocha apelou ao voto na CDU, nas próximas eleições autárquicas, salientado que a capacidade de organização da Festa prova a capacidade de realização do PCP e dos seus organizadores, entre eles o candidato à Câmara de Lisboa, Ruben de Carvalho. Manifestou ainda a solidariedade com os povos do Iraque, da Palestina e com a vítimas de Nova Orleães, através de uma canção de embalar.
Toda a praça que envolve o recinto do palco abarrotava de gente que dançava. Os mais idosos estavam à sombra dos pavilhões circundantes, entre mães, país e bebés que não podiam suportar tanto calor. Outros dançavam ao Sol, dando largas à alegria.
Á música portuguesa seguiu-se o espectáculo Blues Fest de Ottis Grand.
«Viva o comunismo», começou o músico britânico por afirmar no fim do primeiro tema. Frente ao palco registou-se uma maior afluência de gente menos jovem, dos fãs do blues que se deliciaram com os solos e as vozes trazidas à Festa da vocalistas Deitra Farr, proveniente de Chicago, Jimmy Thomas, de St Louis, e o harpista e vocalista, Ray Norcia que se foram revezando entre os solos da guitarra de Ottis.
Ottis apelou ao voto na CDU, em Outubro próximo, à solidariedade com a população de Nova Orleães e com o povo do Iraque.
O entusiasmo foi tão transbordante que o pianista saiu das teclas para fazer um pino em pleno palco, enquanto Ottis chegou a descer do cenário para solar a sua guitarra junto a um público totalmente rendido à performance.
Saliente-se que o único objecto atirado ao ar durante toda a Festa não foi qualquer garrafa vazia, mas antes uma fofa e simpática almofada que surgiu no ar já quase no fim da actuação e foi motivo de folia para centenas de espectadores que a fizeram saltar de um lado para o outro da plateia, numa brincadeira cheia de boa disposição.
Domingo
Milhares de jovens voltaram à correria aos primeiros acordes da Carvalhesa, para não perderem, posteriormente, os ritmos de world music onde o reggae, os sons africanos, as sonoridades latino-americanas e até algumas do Médio Oriente se juntam pela mãos dos cada vez mais profissionais Terrakota, com apelos à paz e à concórdia entre os homens. O show deu ânimo mais que suficiente para o terceiro dia de folia.
Seguiram-se os catalães Dr. Calipso, com uma mistura de ska com reggae e rock interventivo, onde não faltou uma homenagem às brigadas internacionalistas republicanas da guerra civil espanhola, além de várias menções de solidariedade com os povos em luta, pela paz.
O concerto dos Galandum Galundaína que antecedeu o comício de domingo foi um regresso às raízes da música popular portuguesa, através dos sons de Miranda do Douro. Com os Pauliteiros de Miranda, assistiu-se a um espectáculo, todo ele em dialecto mirandês. O gaiteiro do grupo revelou que existem palavras que não fazem parte do vocabulário mirandês como educação, saúde, cultura, aludindo desta forma à ausência destes serviços nas terras para lá do Douro. Fizeram ainda uma alusão ao burro mirandês que está em vias de extinção, «ao contrário de outros burros que andam por aí». Depois foi a magia da gaita, dos bombos e dos pauliteiros que foram atraindo mais e mais espectadores.
Após o momento político, a animação prosseguiu com os Blasted Mechanism. Famosos pela estranha coreografia dos fatos que lhes dão um ar de extraterrestres, os Blasted deram largas à sua extravagante e contagiante musicalidade.
Saliente-se o tema final que levou ao rubro dezenas de milhares de espectadores. Quando se ouviu «We got to start a Revolution», nada pôde conter o entusiasmo do público que efusivamente dava mostras de gostar particularmente do refrão. O espectáculo terminou com o vocalista a interpretar, com todo o público, o refrão de «Hasta siempre, comandante», do cubano Carlos Puebla, dedicado a Che Guevara.
O culminar da Festa ficou a cargo dos Da Weasel que através de um RAP cada vez mais consistente, deram o retoque final que lhe faltava.
Milhares de vozes cantaram os mais recentes êxitos com o vocalista Pac Man e os restantes membros da banda de Almada. Com um belo jogo de luzes e uma sonoridade que convida a ouvir as letras, a banda desdobrou-se em apelos sempre correspondidos com entusiasmo pelo público que fez jogos de luz com milhares de telemóveis e isqueiros e, de forma eufórica, acompanhou o som e o ritmo da banda.
A «Carvalhesa» final confirmou o estado de espírito e eram muitos os jovens e menos jovens presentes. «Assim se vê a força do Pcê!», gritavam determinados, os foliões.
Nos primeiros minutos do espectáculo – seguido por milhares de pessoas, de todas as idades e formações – imagens da guerra em vídeo acompanhavam as quatro célebres pancadas, que logo se transformaram nas primeiras notas da 5.ª Sinfonia de Beethoven.
Quando começou a actuação dos 104 músicos da Sinfonietta de Lisboa já o relvado estava repleto de público, após terem dançado com entusiasmo e sofreguidão a primeira «Carvalhesa» do ano no palco 25 de Abril.
Era um público variado e diversificado: dos conhecedores das obras aos curiosos; dos amantes do género aos que pela primeira vez ouviam e gostavam; dos que eram movidos por motivações políticas e apreciavam a música aos apreciadores das sonoridades mais eruditas e que ficavam depois atraídos pelos ideais que sustentavam o espectáculo.
Após a abertura, com Beethoven, foi a vez da «música que foi à guerra», como lhe chamou Cândido Mota. Seguiram-se obras de Sergei Prokofieff, Aaron Copland e Bohuslav Martinu, a deste último (o 2.º andamento da 4.ª Sinfonia) em estreia absoluta em Portugal.
Mas não foi só a música erudita a ir à guerra, lembrou o apresentador. A música popular também foi. E não podia faltar à Festa que evocou a Vitória dos povos sobre o fascismo, nessa guerra. Ana Brandão, revelou os seus dotes de cantora (e de poliglota), acompanhada pelo pianista João Carlos Esteves da Silva e pelo contrabaixista Carlos Bica, interpretou três canções populares: uma francesa, uma alemã e uma inglesa. As interpretações de L’Affiche Rouge (de Louis Aragon e Jean Ferrat), Die Moorsoldaten e We’ll Meet Again remeteram para os dias da guerra, para as angústias do avanço nazi-fascista e para a alegria da vitória. E o público deixou-se contagiar pelas canções e contagiou os músicos com o entusiasmo da sua adesão ao espectáculo.
A terminar, voltou a música clássica, com o primeiro e o quarto andamentos da Sinfonia «Leninegrado», de Dimitri Shostakovitch, a que se poderiam chamar, como avançou Cândido Mota, respectivamente «Guerra» e «Vitória». As imagens projectadas no ecrã gigante seguiam as diferentes fases da guerra, acompanhando o frenético ritmo da obra, nomeadamente no quarto andamento. Após uma interminável salva de palmas, o fogo de artifício e a «Carvalhesa» continuaram a comemoração da Vitória do Exército Vermelho e dos povos sobre o nazi-fascismo. Tam-tam-tam-taaaaam! Vitória!
Xutos e Clã levaram a Festa ao rubro
Os Xutos & Pontapés tiveram, no sábado à noite, uma das maiores enchentes alguma vez vistas na Quinta da Atalaia. O relvado estava repleto, bem como as ruas próximas e os espaços das organizações que ficavam mais perto do palco 25 de Abril. A banda ofereceu um espectáculo enérgico e bastante politizado, iniciado com a canção «Estupidez», que contesta o rumo seguido por esta «União da tanga», pela «Europa de Portugal», na qual «está tudo mal, tudo mal», afirma a histórica banda. As canções seguintes não ficaram atrás, em energia, entrega e conteúdo. Todas as canções foram seguidas em uníssono por um público variado mas unido no afecto à música. A meio do espectáculo, o guitarrista Zé Pedro denunciou diversas injustiças do mundo e apelou a todos para que façam algo para mudar o rumo das coisas. Às vezes basta um pequeno gesto, como um voto, afirmou. E, dirigindo-se ao presidente dos Estados Unidos, declarou: «Nós já decidimos. Preferimos a liberdade à submissão». E «Submissão» foi o nome da canção que se seguiu, com Zé Pedro a assumir a posição de vocalista.
Mais tarde, o vocalista Tim agradeceu à organização da Festa, ironizando: «Ainda falam os outros em festivais». E, apontando para a vasta assistência, assinalou que «vocês sabem o que é estarem todos juntos. Quem me dera estar aí entre vocês».
«Dá um mergulho no mar», com direito a fogo e a um banho, e «A minha casinha» deram o mote para o final.
A seguir foram os Clã a subir ao palco 25 de Abril. E se a banda que os antecedeu ofereceu um concerto de puro rock, a banda portuense entregou-se a um concerto onde
passou em revista os maiores sucessos e algumas canções menos conhecidas mas nem por isso de menor qualidade. A todas as canções o público respondeu dançando, cantando, saltando. Fora do relvado eram muitos os que assistiam. Mais velhos que, não conhecendo a fundo o trabalho da banda, transpareciam alegria, felicidade e dançavam, dançavam e dançavam. Terminado o concerto, foi tempo de mais dança, com a «Carvalhesa» e com o fogo de artifício. E a Festa prosseguiu, noite fora…
Palco 25 de Abril
A Festa de todas as músicas
A «Carvalhesa» deu o sinal para o início do segundo dia de folia que arrancou com uma banda em busca de consagração. Do country ao rockabilly, do blues ao jazz, os Bunnyranch, logo no início, agradeceram a oportunidade de poder actuar num palco com a potência sonora do 25 de Abril.
O vocalista e simultaneamente baterista Kaló, afirmou ter sido uma grande honra actuar «no palco mais emblemático do País», e que «Festa é Festa e não há Festa como esta. Sempre ouvi dizer e é verdade».
A paz que reinava no espaço ao som da banda até permitiu a um pai com um bebé aos ombros e uma criança de tenra idade pela mão, chegar às baias de segurança, na frente do palco, sempre dançando com as crianças numa harmonia e um respeito mútuo entre todos os presentes que é de enaltecer. O baterista e vocalista despediu-se com um «Hasta la vitória!».
A singularidade da música dos Primitive Reason que funde o Hardcore com o ska, o reggae e o rock, atraiu os ouvidos de muitos.
A meio do espectáculo, a reprodução da voz de Fidel Castro foi um momento de homenagem à luta internacionalista contra o capitalismo neoliberal. Não faltou ainda uma interpretação distorcida em guitarra eléctrica da «Internacional» comunista.
Seguiu-se depois a irreverência revolucionária de uma das mais emblemáticas bandas de intervenção na Galiza, os Skárnio que, como o nome indica, fazem do Ska e de um particular estilo de RAP reivindicativo que em Espanha se chama rabiamuffim, o seu cardápio musical.
A banda assume a luta pela autodeterminação e independência da Galiza, a independência dos povos e o socialismo e o espectáculo foi autêntico um comício musical.
A malta nova que gosta de dançar de forma mais frenética manifestou, de novo, uma forte dose de respeito por todos os que os circundavam, assistindo calmamente ao espectáculo. Entre eles estava, há mais de duas horas, um camarada que rejubilava de alegria com a sua bandeira do Che. Vítor Sousa, 62 anos, natural de Portimão foi à Festa do seu Partido para constatar como ele tem futuro e como a juventude, com o tempo, o vai compreendendo cada vez melhor.
Os Skárnio homenagearam o PCP com uma versão em ska da canção «Avante, camarada!» e Víctor Jara, através de uma versão, também em ska, do tema «El pueblo unido». Escutou-se ainda partes do discurso de Che Guevara na ONU, e algumas frases proferidas por Fidel Castro. No fim do espectáculo começaram a ouvir-se os passos arrastados na terra que dão início à «Grândola» de Zeca Afonso. Milhares de espectadores entoaram a primeira estrofe da «Terra da fraternidade».
Seguiu-se a celebração do 30.º aniversário da Brigada Víctor Jara que dedicou o espectáculo a Álvaro Cunhal.
Janita Salomé, Lena d’Água, Cristina Branco, o músico Tomás Pimentel e António Pinto interpretaram temas populares recolhidos e adaptados pela Brigada. Entre as músicas, o violinista Manuel Rocha enalteceu a vida da Brigada que, sempre com o povo, o PCP e os seu aliados, soube, ao longo de 30 anos, manter a sua postura e coerência. Manuel Rocha apelou ao voto na CDU, nas próximas eleições autárquicas, salientado que a capacidade de organização da Festa prova a capacidade de realização do PCP e dos seus organizadores, entre eles o candidato à Câmara de Lisboa, Ruben de Carvalho. Manifestou ainda a solidariedade com os povos do Iraque, da Palestina e com a vítimas de Nova Orleães, através de uma canção de embalar.
Toda a praça que envolve o recinto do palco abarrotava de gente que dançava. Os mais idosos estavam à sombra dos pavilhões circundantes, entre mães, país e bebés que não podiam suportar tanto calor. Outros dançavam ao Sol, dando largas à alegria.
Á música portuguesa seguiu-se o espectáculo Blues Fest de Ottis Grand.
«Viva o comunismo», começou o músico britânico por afirmar no fim do primeiro tema. Frente ao palco registou-se uma maior afluência de gente menos jovem, dos fãs do blues que se deliciaram com os solos e as vozes trazidas à Festa da vocalistas Deitra Farr, proveniente de Chicago, Jimmy Thomas, de St Louis, e o harpista e vocalista, Ray Norcia que se foram revezando entre os solos da guitarra de Ottis.
Ottis apelou ao voto na CDU, em Outubro próximo, à solidariedade com a população de Nova Orleães e com o povo do Iraque.
O entusiasmo foi tão transbordante que o pianista saiu das teclas para fazer um pino em pleno palco, enquanto Ottis chegou a descer do cenário para solar a sua guitarra junto a um público totalmente rendido à performance.
Saliente-se que o único objecto atirado ao ar durante toda a Festa não foi qualquer garrafa vazia, mas antes uma fofa e simpática almofada que surgiu no ar já quase no fim da actuação e foi motivo de folia para centenas de espectadores que a fizeram saltar de um lado para o outro da plateia, numa brincadeira cheia de boa disposição.
Domingo
Milhares de jovens voltaram à correria aos primeiros acordes da Carvalhesa, para não perderem, posteriormente, os ritmos de world music onde o reggae, os sons africanos, as sonoridades latino-americanas e até algumas do Médio Oriente se juntam pela mãos dos cada vez mais profissionais Terrakota, com apelos à paz e à concórdia entre os homens. O show deu ânimo mais que suficiente para o terceiro dia de folia.
Seguiram-se os catalães Dr. Calipso, com uma mistura de ska com reggae e rock interventivo, onde não faltou uma homenagem às brigadas internacionalistas republicanas da guerra civil espanhola, além de várias menções de solidariedade com os povos em luta, pela paz.
O concerto dos Galandum Galundaína que antecedeu o comício de domingo foi um regresso às raízes da música popular portuguesa, através dos sons de Miranda do Douro. Com os Pauliteiros de Miranda, assistiu-se a um espectáculo, todo ele em dialecto mirandês. O gaiteiro do grupo revelou que existem palavras que não fazem parte do vocabulário mirandês como educação, saúde, cultura, aludindo desta forma à ausência destes serviços nas terras para lá do Douro. Fizeram ainda uma alusão ao burro mirandês que está em vias de extinção, «ao contrário de outros burros que andam por aí». Depois foi a magia da gaita, dos bombos e dos pauliteiros que foram atraindo mais e mais espectadores.
Após o momento político, a animação prosseguiu com os Blasted Mechanism. Famosos pela estranha coreografia dos fatos que lhes dão um ar de extraterrestres, os Blasted deram largas à sua extravagante e contagiante musicalidade.
Saliente-se o tema final que levou ao rubro dezenas de milhares de espectadores. Quando se ouviu «We got to start a Revolution», nada pôde conter o entusiasmo do público que efusivamente dava mostras de gostar particularmente do refrão. O espectáculo terminou com o vocalista a interpretar, com todo o público, o refrão de «Hasta siempre, comandante», do cubano Carlos Puebla, dedicado a Che Guevara.
O culminar da Festa ficou a cargo dos Da Weasel que através de um RAP cada vez mais consistente, deram o retoque final que lhe faltava.
Milhares de vozes cantaram os mais recentes êxitos com o vocalista Pac Man e os restantes membros da banda de Almada. Com um belo jogo de luzes e uma sonoridade que convida a ouvir as letras, a banda desdobrou-se em apelos sempre correspondidos com entusiasmo pelo público que fez jogos de luz com milhares de telemóveis e isqueiros e, de forma eufórica, acompanhou o som e o ritmo da banda.
A «Carvalhesa» final confirmou o estado de espírito e eram muitos os jovens e menos jovens presentes. «Assim se vê a força do Pcê!», gritavam determinados, os foliões.