PCP contesta medidas e adverte

Esta política destrói o País

«Totalmente desproporcionada e inaceitável», assim classifica o PCP a actuação policial que culminou na detenção de dois dirigentes sindicais. Um caso que revela o crescente nervosismo do Governo.

Aplicação do OE gera recessão

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«Onde é que já se viu serem detidos dois dirigentes sindicais naquelas condições?», perguntou quarta-feira da passada semana, numa declaração política em nome da sua bancada, Bernardino Soares, no dia seguinte aos acontecimentos ocorridos junto à residência do primeiro-ministro, no final de um plenário de trabalhadores da administração pública.

Para o líder parlamentar do PCP, que não isenta o Governo de responsabilidade política perante esta lamentável ocorrência, o que a mesma evidencia é o nervosismo governamental perante a «forte e justa contestação dos trabalhadores e do povo».

«É um nervosismo constante, bem patente nas reacções às críticas, seja na Assembleia da República ou fora dela às suas medidas e à sua política», observou o presidente do Grupo comunista, que voltou a contestar firmemente medidas recentes do Governo PS inscritas no OE de 2011 como os cortes salariais, o congelamento das reformas (incluindo as reformas mínimas), o ataque às prestações sociais ou o ataque ao direito à saúde, materializado no agravamento dos custos com medicamentos ou com os transportes de doentes, para além da degradação dos serviços públicos.

Bernardino Soares não se esqueceu também dos aumentos dos preços de bens e serviços essenciais, citando, entre outros, os combustíveis cujo preço atingiu um nível recorde «por efeito combinado do aumento do IVA decidido pelo PS e pelo PSD e da ganância do lucro dos accionistas da GALP e das restantes petrolíferas».

O deputado do PCP fez ainda soar as campainhas quanto a outras medidas que estão na calha, alertando, nomeadamente, para alterações à legislação laboral, com vista a facilitar os despedimentos, «provavelmente à custa de um fundo que o Governo não exclui poder ter fundos públicos ou das contribuições dos trabalhadores».

Rejeitando este Orçamento do Estado, que em sua opinião prenuncia uma «grave recessão» (pelo menos de 1,3 por cento, segundo o Banco de Portugal), com o consequente aumento do desemprego, Bernardino Soares reiterou a convicção de que ele não é inevitável, sendo possível um outro caminho, «de ruptura e mudança», que imponha uma outra política ao serviço do povo e do País.

 

Silêncio ensurdecedor

 

A ausência de qualquer reacção das bancadas do PS e do PSD às duras críticas de que foram alvo por parte de Bernardino Soares levou este a questionar a coragem política dos deputados daqueles partidos. Falando do Orçamento do Estado e das graves medidas nele contidas, o líder parlamentar comunista considerara momentos antes que os partidos que o aprovaram, bem como todos aqueles que «o apoiam, o admitem e o avalizam» estão a caucionar a continuação de «uma política que está a destruir o País».

Uma acusação forte que não desencadeou, ao contrário do que seria de esperar, qualquer pedido de esclarecimento dos deputados do PS ou do PSD. Apenas a deputada do BE Helena Pinto interpelou Bernardino Soares, levando-o, na resposta, a achar «curioso» que nenhum deputado do PS e do PSD tenha tomado a iniciativa de defender as medidas que aprovou.

«Então onde é que está a coragem para defender as medidas que votaram em Outubro e Novembro, para defender um OE que agora está a cortar nos salários dos trabalhadores?», questionou, insistindo: «estiveram aqui para aprovar medidas como esta e, agora, que chega a hora da verdade, ninguém se levanta para a defender?»

«É esta a vossa coragem política?», repetiu, inconformado com o corte nos salários aplicado aos trabalhadores do sector empresarial do Estado, medida que em sua opinião constitui uma «indignidade», porquanto, explicou, não corresponde a nenhuma «justa repartição de sacrifícios».

«É sempre a mesma injusta repartição dos sacrifícios, de tal modo que nenhum deputado do PS ou do PSD teve o descaramento de a defender», sublinhou o presidente da formação comunista, vendo naquele silêncio um facto a marcar este debate realizado no dia em que se produziram os cortes dos salários dos trabalhadores da administração pública.



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