Nos 80 de Adriano

Manuel Pires da Rocha

Estas são as bandeiras vermelhas por que cantou Adriano Correia de Oliveira, ainda o Avante! era impresso em papel-bíblia e passado por mão clandestina. Cantou-as nas sessões de Canto Livre dos dias de Revolução, nos dias difíceis da resistência à contra-revolução, nas Festas do Avante! de 1976 a 1982. São, por isso, merecimento, estes rostos de Adriano pintados nos pavilhões das organizações regionais e no da Juventude; e é merecimento o carinho de quem desenhou nos muros da Festa as frases dos poemas que divulgou, de quem pintou a prancha de banda desenhada no muro de contraplacado - o herói é um rapaz de Avintes que a cantar se tornou indispensável. E presente.

A Festa do Avante! comemorou os 80 anos de Adriano Correia de Oliveira. A evocação iniciou-se no painel com que o Espaço Central recebeu os visitantes das exposições e os participantes nos debates. Já a música de Adriano subiria ao palco do Auditório 1.º de Maio, no sábado e no domingo - primeiro com Canto D’Aqui e a Orquestra Filarmónica de Braga, a que se juntariam Sebastião Antunes e Uxía, depois com Paulo Bragança.

No sábado de manhã, no espaço da organização regional de Coimbra, António Avelãs Nunes apresentou a palestra sobre os 60 anos da Crise Académica de 1962, contextualizando a luta estudantil nas muitas lutas operárias e camponesas contra o fascismo – luta tenaz e criativa, em que a escrita, a pintura, as canções, foram elementos de mobilização. Manuel P. Rocha e João Queirós deixaram, a meias, palavras de homenagem e três canções de Adriano Correia de Oliveira.

Na Festa do Livro, na tarde de sábado, debateu-se em torno dos livros O Perigoso Pacifista e Adriano – Um Canto em Forma de Abril. Um álbum de BD, o primeiro; um conjunto de depoimentos no segundo, sob a capa de Álvaro Siza Vieira. Foram quatro, os participantes. Manuel Matos saudou os participantes em nome do Centro Artístico, Cultural e Desportivo Adriano Correia de Oliveira e apelou ao apoio à petição que reclama a classificação e protecção da obra de Adriano enquanto bem de importância nacional. De O Perigoso Pacifista falaram João Mascarenhas, que desenhou, e Paulo Vaz de Carvalho, autor do argumento e guitarrista que acompanhou Adriano Correia de Oliveira nos últimos anos da sua vida, também no seu último espectáculo em Mondim de Basto, numa sessão do PCP. Jorge Pires, dirigente do Partido de Adriano, abordou a militância do artista, realçando a prontidão permanente para levar ao povo a mensagem combativa do PCP (no corpo sedutor de cada canção).

Também a Organização Regional do Porto se associou à evocação, numa sessão em que os testemunhos de Olga Dias e de Jorge Sarabando evidenciaram o papel do artista comunista que, cantando, deixou dito que «ninguém pode calar a voz da liberdade». Por isso permanece entre nós, cantando (lutando) por interpostas vozes.

 



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