Cidade da Juventude

Construir um mundo melhor

Miguel Silva

Independentemente do lado por onde se chegava à Cidade da Juventude na Festa do Avante! deste ano, os murais da decoração daquele espaço prendiam os olhos, aliando, de forma brilhante, o evidente valor estético observável à absolutamente pertinente reivindicação política.

Com enorme destaque, e ocupando múltiplos murais, assinalou-se ali, por exemplo, os 60 anos do momento histórico que foi a crise académica de 1962, incluindo painéis com relevantes informações, a cronologia dos principais acontecimentos da luta estudantil de Março e Maio daquele ano, mas também, justificando o título Lutámos no passado, Lutamos no presente, com outros painéis ilustrando e descrevendo as lutas actuais, com particular destaque para as manifestações da juventude em 24 de Março de 2022.

A crise académica de 1962 foi, aliás, tema dum muito bem participado debate na Cidade da Juventude, no domingo, às 12 horas, que contou com a presença de Albano Nunes, dirigente associativo estudantil naquela época, enquanto estudante do Instituto Superior Técnico em Lisboa, a quem coube abrir a discussão elencando uma breve descrição daqueles acontecimentos, e que os considerou como devendo ser analisados sempre inseridos num processo histórico inseparável do contexto político que se vivia no País, e logo indissociável das muitas outras lutas, destacando, por exemplo, em pleno fascismo, as manifestações no 1.º de Maio desse mesmo ano.

Albano Nunes relembrou também que os acontecimentos da crise académica tiveram, para além da repercussão nacional, um impacto também internacional, sendo uma das primeiras grandes lutas estudantis na Europa, bem anterior, por exemplo, ao Maio de 68, em França.

Embora sempre em unidade com outros democratas, «o papel dos comunistas foi central, foi decisivo», afirmou Albano Nunes, aludindo à tentativa permanente de arredar a importância dos jovens quadros comunistas na descrição da crise académica de 1962, como em muitos outros processos de luta da história do nosso país.

Aprender sempre

Também a questão da Paz, com um magnífico mural que marcava o espaço interior da Cidade da Juventude, foi tema dum debate, com a participação de Aritz Rodríguez, presidente da Federação Mundial da Juventude Democrática, novamente com enorme participação, e onde se afirmou a necessidade da análise «científica» dos processos históricos para a luta pela paz. Entre as muitas e incontornáveis referências ao conflito na Ucrânia, foi precisamente Aritz Rodríguez que afirmou a importância de conhecer as origens de tal conflito «não para justificar, mas para explicar», identificando os interesses imperialistas que suportam e alimentam a guerra, e que colidem frontalmente com os interesses de todos os povos.

Dois espaços também bem marcantes celebravam os 80 anos que o indelével cantor comunista Adriano Correia de Oliveira agora completaria, bem como o centenário do escritor maior e militante José Saramago, incluindo, no mural a este último dedicado, trechos dos textos vencedores do concurso literário promovido pela JCP em torno deste escritor. Ainda sobre realizou-se um debate, onde, entre muitos outros contributos, Miguel Januário, artista plástico, que da rua faz tela, afirmou a importância da palavra na arte para além do texto literário.

Em todos os debates ali realizados, como naquele sobre a desconstrução dos mitos liberais e a enorme contaminação ideológica de que todos somos alvo, no domingo, às 14h30, ou sobre a importância da verdadeira democracia, no sábado às 12 horas, ressaltava sempre a rapidez com que cada tema inevitavelmente se ligava, através das intervenções, à vida e ao papel dos jovens para a construção dum mundo melhor, e à imprescindibilidade da luta organizada onde, hoje como ontem, se destaca sempre o papel dos comunistas. Assim o foi na imediata conexão entre a crise académica de 1962 às lutas actuais dos estudantes, mas também nas apresentações dos livros do MJT e do 12.º Congresso da JCP, que ali se realizaram.

No presente a construir futuro

A Cidade da Juventude fervilhava de discussão política. Podia-se assistir, em todo o espaço, aos contactos com os jovens amigos ali presentes para explicar o papel e a importância da JCP na organização da juventude. Mas também fervilhava de actividade e de alegria. Alegria calma, de convívio e conversa sorridente ao início das manhãs, enquanto se retemperavam forças para o dia que estava a começar, e que prosseguia em crescendo contraste, mas sempre harmoniosamente coerente, com a alegria esfusiante presenciada ao final das noites, como nas actuações dos DJ de sexta e sábado, ou nos momentos musicais reservados para domingo, ou ainda na magnífica «abertura» circense com Marta Vasco, na sexta-feira, logo no início da Festa.

Por todo o lado se percebia uma solidariedade enorme nos jovens camaradas que prosseguiam nas tarefas de organização dos espaços da Cidade da Juventude. Os mais experientes nesta ou naquela tarefa, pronta e imediatamente «socorriam» aqueles que se estreavam. Na Cidade da Juventude da Festa do Avante! está sempre tudo a acontecer. Para construir um futuro melhor.



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