Capitalismo é crise mas não cai por si

«Capitalismo: desigualdades, crises e contradições, e a luta pelo socialismo como alternativa» foi o tema do debate que encheu, ao início da tarde de sábado, 12, um auditório de uma unidade hoteleira em Lisboa.

Grandes perigos coexistem com grandes potencialidades

A iniciativa promovida pela Organização Regional de Lisboa do PCP no âmbito do Centenário do PCP, foi moderado por Miguel Soares, do Comité Central, e teve como oradores iniciais o militante comunista e Professor Doutor António Avelãs Nunes, e o membro da Comissão Central de Controlo e director de O Militante Albano Nunes.

A abrir os trabalhos, Avelãs Nunes deixou alguns pontos indicativos que considerou fundamentais para a análise da situação em que se encontra o sistema, visando a sua superação. Sendo verdade que a história do capitalismo é também a história das suas crises cíclicas, não é menos verdade que, ao contrário do que muitos proclamaram, as políticas keynesianas não as curam.

O ponto a que chegámos fruto da consolidação do poder do grande capital financeiro, da economia capturada pelos especuladores, potencia «a ocorrência de crises cada vez mais frequentes e mais difíceis de ultrapassar e generaliza o crime sistémico».

Mas o sistema capitalista «começou também a gerar pandemias cíclicas, fruto das políticas de mercantilização da vida, arrastando consigo crises económicas e sociais gravíssimas», de que a mais recente é um exemplo, sustentou Avelãs Nunes, para quem, despojados os estados de instrumentos soberanos de intervenção, ficam os povos ameaçados por «uma espécie de keynesianismo sob a batuta do complexo militar industrial».

Ora, prosseguiu, ao invés do que também alguns apregoam, a globalização capitalista não é «consequência incontornável do desenvolvimento científico e tecnológico», mas obra da «ditadura do grande capital financeiro». O desenvolvimento científico e tecnológico deve ser um elemento para libertação do ser humano, não para a perpetuação e aprofundamento da sua opressão e exploração, como anteciparam Marx e Engels, que assinalaram que o avanço científico e tecnológico gerou um tal desenvolvimento das forças produtivas que as relações burguesas se tornaram demasiado estreitas para conterem a riqueza criada.

Quer isto dizer que é «mais necessário do que nuca despertar a alma colectiva das massas», concluiu Avelãs Nunes.

Alternativa

Para Albano Nunes, quando o PCP afirma que «o socialismo é uma exigência da actualidade e do futuro», não está a manifestar uma aspiração, mas a constatar a actualidade da alternativa socialista cientificamente sustentada por Marx e Engels e a frisar que «são os próprios limites do capitalismo que determinam a necessidade da sua superação revolucionária».

Citando as teses do XXI Congresso do PCP, Albano Nunes acrescentou que «o amadurecimento das condições materiais objectivas para o desenvolvimento de processos revolucionários que apontem como objectivo o socialismo, independentemente das fases e etapas e das formas concretas que vierem a assumir de acordo com a situação concreta de cada país», confirma «as teses fundamentais de Lénine sobre o imperialismo e particularmente a tese de que a Revolução de Outubro inaugurou uma nova época histórica, de passagem do capitalismo ao socialismo».

«Mas o capitalismo não cai por si», advertiu o dirigente do PCP, antes de sublinhar que «é necessária a existência de condições subjectivas protagonizadas pela intervenção organizada da classe operária e das massas populares e a acção dos partidos comunistas e de outras forças revolucionárias».

«Os tempos são ainda fundamentalmente de resistência e acumulação de forças», contudo «grandes perigos de regressão social e mesmo civilizacional coexistem com reais potencialidades de transformação progressista e revolucionária», pelo que, lembrando leis gerais comuns aos diferentes processos revolucionários e chamando a atenção para a experiência própria do PCP e da Revolução de Abril, Albano Nunes realçou que «é de decisiva importância para um partido revolucionário como o PCP ter sempre presente o objectivo supremo do socialismo na sua acção quotidiana e estar preparado para as formas de intervenção que a evolução da luta de classes reclame», como de resto faz.

A luta continua

Além de Avelãs Nunes e Albano Nunes, o debate contou também com contributos de Tiago Cunha, sobre a proletarização das camadas intelectuais; Miguel Tiago, sobre a luta de classes em torno das matérias-primas, da qualidade de vida e do ambiente; Rego Mendes, André Levy e José Manuel Jara, sobre o agravamento das desigualdades; Libério Domingues sobre a actualidade da luta dos trabalhadores na formação da consciência de classe; Ana Oliveira sobre trabalho em plataformas digitais; Artur Sequeira acerca da ofensiva aos trabalhadores da Administração Pública e às funções sociais do Estado; José Pereira da Silva e Hugo Janeiro sobre a importância da batalha ideológica e dos meios de comunicação de massas nesta e na afirmação da alternativa socialista.

Manuel Rodrigues, da Comissão Política do PCP encerrou os trabalhos salientando que o PCP afirma que «no Portugal do tempo em que vivemos o caminho do socialismo é o da luta pelo aprofundamento da democracia» - simultaneamente política, económica, social e cultural –, inspirada nos valores de Abril, que «visa resolver muitos dos mais graves problemas actualmente existentes».

Todavia, «a liquidação da exploração capitalista (...) é tarefa histórica que só com a revolução socialista é possível realizar», notou, antes de afirmar que sendo a luta pela democracia e pelo socialismo inseparáveis, «dando continuidade às melhores tradições de luta e às realizações progressistas e revolucionárias do povo português através da sua história, com um exaltante património de intervenção e de luta ao longo de 100 anos, inteiramente posto ao serviço do povo e da pátria, portador do ideal e do projecto comunistas, o PCP é um Partido necessário, indispensável e insubstituível», concluiu.

 



Mais artigos de: PCP

Jaime Serra deixa-nos o exemplo de «revolucionário de corpo inteiro»

«O percurso de vida, o seu exemplo de militante e dirigente do PCP, perdurará em todos e em cada um de nós para prosseguirmos a luta de emancipação dos trabalhadores e dos povos que o animou», assegurou Jerónimo de Sousa no último adeus a Jaime Serra, que faleceu quarta-feira, dia 9.

Seca exige apoios e medidas de fundo

A situação de seca meteorológica que o País enfrenta exige medidas urgentes de apoio aos agricultores e de salvaguarda do abastecimento de água às populações. Mas requer também opções de fundo, afirma o PCP.

Dois caminhos de uma opção comum

Aos 28 anos, Joana sabe bem o que pretende com a sua adesão ao PCP, consumada no passado mês de Novembro: ajudar afazer a diferença num País que vê cheio de problemas a necessitar de solução. Preocupam-na sobretudo os mais jovens, sobre quem paira um futuro incerto. Contribuir para o seu...

Grupo Parlamentar com nova direcção

A deputada Paula Santos, eleita nas listas da CDU pelo círculo eleitoral de Setúbal, assumirá, na próxima legislatura, a presidência do Grupo Parlamentar do PCP. De acordo com uma nota divulgada quinta-feira 10, Bruno Dias, eleito pelo mesmo distrito, e Alma Rivera, eleita pelo círculo eleitoral de Lisboa, assumem a...

PCP reclama respostas para os problemas do País

No final de um encontro com o primeiro-ministro indigitado, que anteontem se realizou, o Secretário-geral do PCP sublinhou que – independentemente dos resultados das eleições de 30 de Janeiro – continuam a faltar «respostas» para os problemas estruturais do País. Neste sentido, Jerónimo de Sousa transmitiu a António...

É Tão Lindo o Meu Partido encheu Évora de emoção e confiança

No dia 12, sábado, realizou-se no Teatro Garcia de Resende, em Évora, mais um dos quatro espectáculos que a DRA do PCP criou para a região histórica do Alentejo, onde a luta pelo direito ao trabalho, pela jornada de oito horas nos campos e pela terra a quem a trabalha marcam indelevelmente o...

Vamos ao Campo Pequeno!

O comício de aniversário do PCP agendado para domingo, 6 de Março, no Campo Pequeno, em Lisboa, culmina as comemorações do centenário do PCP, assinala o seu 101.º aniversário e constituirá uma grande acção de massas. Nas organizações do Partido já se preparam a deslocação e a presença de...

Luta das mulheres foi e é central

A Organização Concelhia do Barreiro do PCP promoveu, sábado, 12, na Sociedade Filarmónica Agrícola Lavradiense, o debate «A luta das mulheres pelos seus direitos». A iniciativa, moderada por Jéssica Chainho Pereira, decorreu no âmbito das comemorações do Centenário do Partido. A anteceder as intervenções da plateia,...

Repetição das eleições no círculo da Europa

Anteontem, 15, o Tribunal Constitucional (TC) decidiu, por unanimidade, declarar a nulidade das eleições legislativas no círculo da Europa, que terão de ser repetidas. Em causa esteve a invalidação de mais de 80 por cento dos votos dos emigrantes por não terem feito acompanhar o seu boletim por uma cópia do cartão de...

Sementes de futuro

Mais de 70 pessoas participaram, domingo, no arranque da jornada de sementeira, que decorre até sábado e tem como objectivo cobrir cerca de nove mil metros quadrados do terreno da Quinta da Atalaia com um novo manto vegetal. Em destaque neste primeiro dia esteve o recinto do Palco 25 de Abril....

«Preocupações» de pouca dura

A SIC, nos dias que se seguiram às eleições, foi palco privilegiado para vários comentários que anunciaram pela enésima vez, a propósito dos resultados, o inelutável desaparecimento do PCP sobre o qual, nas suas palavras, só falta saber quanto tempo demorará. Foi assim que surgiram, logo na...