«Preocupações» de pouca dura
A SIC, nos dias que se seguiram às eleições, foi palco privilegiado para vários comentários que anunciaram pela enésima vez, a propósito dos resultados, o inelutável desaparecimento do PCP sobre o qual, nas suas palavras, só falta saber quanto tempo demorará. Foi assim que surgiram, logo na segunda-feira, José Miguel Júdice a caracterizar o PCP como «insignificante», ou Marques Mendes a classificar o PEV como «fraude política» e a afirmar que o PC «continua no século passado» – dois dos exemplos mais insultuosos, mas longe de serem únicos.
O forte interesse demonstrado pela estação de televisão pelo futuro do PCP teve até continuidade nos dias seguintes, com directos ao longo do dia de terça-feira e da manhã de quarta-feira, a propósito da reunião do Comité Central. Foram vários minutos de televisão, mas vazios de conteúdo. Quando já havia algo para dizer, depois da conferência de imprensa, a peça do Jornal da Noite dessa quarta-feira começou precisamente por aquilo que não esteve presente na reunião. Num novo momento a fazer lembrar a já famosa primeira página falsa do New York Times sobre a Festa do Avante! de 2020, a pivô lança a peça dizendo que «a continuidade de Jerónimo de Sousa» foi aprovada por unanimidade. Ora, para isso era preciso que o Comité Central se tivesse debruçado sobre isso, o que é logo desmentido no início da própria peça.
O esforço da SIC em escrutinar o futuro (ou o desejo em transmitir o pretendido fim) do PCP esfumou-se nesse mesmo dia. A partir daí, as duas sessões públicas concretizadas nos últimos fins-de-semana, em Lisboa e no Porto, não tiveram espaço nos noticiários da SIC – apenas no caso do Porto houve lugar para uma pequena passagem, mas na SIC Notícias. Também o encontro com a Liga dos Bombeiros Portugueses, na última semana, não despertou o mínimo interesse à televisão do grupo Impresa.
Aparentemente, o interesse da SIC sobre a acção do PCP esgota-se precisamente quando esta se dá. Nem uma semana passou e o Partido foi capaz de encher salas em Lisboa e, na semana seguinte, no Porto, desmentindo os habituais profetas da morte do PCP. Este é o Partido que está «contigo todos os dias», mesmo quando as câmaras de televisão desaparecem, mesmo quando alguns o rotulam como «irrelevante». A SIC, ao dar palco a estes últimos enquanto esconde a realidade que os desmente toma partido. O que, não sendo novo, é sempre útil relembrar.