Transformar o presente, conquistar o futuro

Ana Alves Miguel


O trabalho de milhares de militantes e amigos criou condições novas e, do Cabo à Atalaia, mostraram-se lutas, avançaram-se reivindicações, celebraram-se vitórias, conheceram-se tradições, transformaram-se os dias na 42ª Festa. Feita para todos foi a mais bela, a mais espaçosa e a melhor arrumada. Nela demos a conhecer o Partido que a constrói, o jornal que lhe dá o nome e tudo aquilo que nos motiva a levar Avante! o sonho de, em vida, transformarmos o Mundo.

Ainda não estão passadas as portas da Quinta do Cabo e já se misturam os votos de «Boa Festa, amigos» e de «Bom trabalho, camarada». Assim que a EP é devolvida, apetece deitar a correr, para não perder nada do que aos primeiros metros já se consegue alcançar: stands, sombras, murais com propostas e soluções. À nossa frente, ao nosso lado, atrás de nós, o mar de gente começa a viver e a usufruir intensamente três dias de alegria, de amizade e de luta.

À Festa chegam famílias inteiras e muitas com quatro gerações: bebés e bisavós, netos e avós, filhos e pais. Mas também vizinhos e amigos de longa data e outros acabados de conhecer. O vasto programa não dá tréguas ao descanso, é consultado e discutido vezes sem conta. Querendo ir além, convencem-se os amigos que é já ao virar da rua ou querendo estar ali atravessa-se o País. Chamados pelos familiares para provar uma iguaria de que ainda não ouvimos falar mas dizem os entendidos não podes perder.

A Festa mais bela seguiu ao ritmo da militância e da amizade. Passaram tocadores com bombos e concertinas, cabeçudos, filarmónicas e ranchos. Numa mesa, cantadeiras e cantadores soltavam a voz com A Internacional. Num grupo combinava-se encontro com hora certa para a boleia e noutro quem ia comprar comida e bebidas porque o fresco das árvores e o Tejo ali tão perto convidavam a fazer piquenique. Olhando à volta constatava-se o esforço comum de ter a Festa bonita e limpa.

No palco Arraial ensaiado o som, afinadas as vozes, o coro parecia cantar o horizonte festivo alcançado da Esplanada ou da Roda «E lá do alto, bem do alto tenho paixão pelo que vejo».

De dentro de um balcão diziam: «Camaradas, vamos fazer mudança de turno. Agradecemos a compreensão.» Saíam uns, entravam outros, cruzavam-se connosco os mais novos e os mais velhos em tratamento igual. Podia lá ser de outra maneira quando se quer o Mundo transformado. E na Festa mais espaçosa demos conta que a felicidade vivida pelo mar de visitantes é a mesma felicidade que motivava milhares de construtores a cumprir turnos.

«Tanto trabalho para três dias», dizia quem a visitava pela vez primeira. «Tanta camaradagem e alegria para levar e guardar até ao próximo ano», dizia quem nela cresceu e a fez crescer.

Não há Festa como esta, assim, poderosa nos valores, na diversidade e em dar voz às populações. E na Festa as organizações regionais empenharam-se na procura dos produtos com que encheram as bagagens. Afinal, há quem espere de um Setembro a outro para comer uma refeição ou um petisco feitos por quem transformar em nova qualidade qualquer produto que até o rico ar da Atalaia e do Cabo fica melhor temperado.

O melhor que o País tem
A passo e de comboio, ao ritmo da Carvalhesa e de demais cadências, o mar de gente tomando conta do tempo e do espaço, foi do Norte ao Sul, do Continente às Ilhas. Num breve destaque sobre os produtos trazidos pelas regiões, encontrámos em Viana do Castelo onde os corações – os humanos e os decorativos – brilham mais pela vitória recente da CDU em Darque, sanguinha, filigranas e bordados. Ao lado no Algarve, xarém de berbigão, mariscos, conservas, peixe fresco, medronho, cestos de empreita e de cana, amendoada e figos. Em Aveiro, feijoada de leitão, ovos-moles em moliceiros e barricas a lembrar o trabalho árduo, gelados de ovos-moles, tripas de chocolate. A seguir em Setúbal, peixes, mariscos, sandes de choco frito e de língua fumada, sopa caramela, e os símbolos comunistas levantados numa praça. Na Madeira, sopa de trigo, bolo do caco, barrete de vilão, brinquinhos e até uma réplica em escala natural de um carrinho de cesto. Em Bragança, posta Mirandesa, vitela no Pote, azeite, mel, bola sovada, pão da Inês e instrumentos musicais tradicionais. Em Coimbra, porco no espeto, espumante branco e tinto, coquetéis, pastéis de Santa Clara e de Lorvão. Em Viseu, vitela arouquesa assada no forno ou em posta na brasa, vinhos premiados, de monocasta, rosé e espumantes, cavacas (das boas). Depois Braga com massa à lavrador, frigideiras, enchidos, louça pintada à mão, brinquedos de madeira e cestos de palha. No Alentejo, cozido de grão, aguardentes, talegos, alforjes, bonecos de pano e uma escultura-homenagem aos comunistas clandestinos. No Porto, sandes de pernil de porco com queijo, Porto datado com a 42ª edição da Festa, filigranas, calçado em couro, malhas e mantas. Em Vila Real, vitela dos baldios transmontanos, canelos fumados, cristas de galo, Moscatel, vinho fino e de adega. Em Castelo Branco e Guarda, bacalhau, maranho, feijocas serranas, vinhos de toda a região, mel, queijos e presunto. Em Lisboa, sopa saloia, frango assado, leitão para todos os gostos, vinhos, fruta em salada e em sumo, um pórtico vermelho. Nos Açores, polvo, caldo de peixe, licores de frutos, pimenta regional, bolo lêvedo, artesanato em basalto e em escama de peixe. A seguir em Santarém, naco e pica-pau, ambos de touro bravo, bifanas na caralhota, abafado, ginjinha, demonstração de vinhos regionais, pampilhos e arrepiados. Em Leiria, frango e sardinha na brasa, migas, conservas de peixe, o vidro trabalhado ao vivo por um artesão que o moldou em anéis e animais, e o copo desta 42.ª edição.

Exposições, homenagens, murais, solidariedade
A combatividade das populações mostrou de novo que, a luta pela defesa da permanência dos CTT (correios), da CGD (balcões), centros de saúde, jardins-de-infância e postos de trabalho, é comum e ficará sempre desconhecida caso só atendamos ao que chega nas notícias diárias.

Evocações dos centenários de Armando Castro e Papiniano Carlos (Porto), da população do Couço que há 60 anos realizou a Grande Greve contra o fascismo e a Maria Lamas (Santarém).

Nos murais, vale contar que junto à exigência de 1% para a Cultura, os tocadores de Lavacolhos assentaram no chão os bombos e as caixas. Depressa as crianças se acercaram e não demorou a que pegassem nas baquetas e macetas para percutiram nas peles algumas delas maiores que a sua altura. Com imaginação dos futuros visitantes ou construtores da Festa levavam à prática a reivindicação do Direito à criação e à fruição cultural.

E como a transformação do Mundo é obra da Humanidade, Marx também esteve presente na Festa que festejou o II Centenário do seu nascimento.

Oito debates integrados no ciclo «Momentos de Solidariedade» levaram às várias regiões representantes da Colômbia, da Venezuela, da Bolívia, do Saara Ocidental, da Palestina, do Brasil, de África, da Ucrânia e de Cuba, para falar sobre a situação dos seus países desmontando os papões do círculo vicioso das notícias diárias.

«A Festa do Avante! que sentimos como nossa», disse de viva voz Lucas Rincón Romero – Embaixador da Venezuela em Portugal –, demonstrando reconhecimento e agrado, perante mais de duas centenas de participantes, durante o debate «Venezuela Bolivariana».

E muitos outros debates feitos nas regiões levaram a conhecer as soluções e as propostas do Partido para o nosso País. Debatendo a redução do horário de trabalho (Alentejo), o novo aeroporto (Setúbal), o direito à cidade (Espaço Fado/Lisboa), a produção de mel (Bragança), o papel do Turismo (Algarve), os 45 anos do Congresso da Oposição Democrática (Aveiro), as questões da floresta e o mundo rural (Leiria), os incêndios florestais de 2017 (Coimbra), o desenvolvimento do Alentejo (Alentejo), os horários, salários e emprego com direitos (Setúbal), as precariedades da ciência em Portugal (Café-concerto Lisboa), os transportes e mobilidade (espaço Fado), bem como, a apresentação da revista Diagonal (Porto) e Caderno Vermelho (Lisboa).

Cultura e debates
Espalhados pelo espaço destinado às regiões, vários palcos – Alentejo, Lisboa (Café-concerto e Espaço Fado), Setúbal e Palco Arraial –, receberam grupos ecléticos do fado ao cante, do orfeão à música filarmónica, do rock à música popular, do coro ao solista, dos pauliteiros ao baile folk, do folclore ao jazz. O caloroso público pediu encores e juntou a voz às dos artistas que aproveitaram para explicar as técnicas executadas.

Dialética
Percorrer as regiões através da doçaria que tanto dificulta a escolha permite saber a partir de quando aqueles produtos guardados no fresco das vitrinas chegaram ao consumo popular. Frutos – secos e frescos –, mel, açúcar, baunilha, chocolate, entre outros, e até receitas e electrodomésticos, só após a Revolução de Abril com a vida melhorada pelo aumento dos salários deixaram de estar apenas nas mesas das classes abastadas e nas cozinhas conventuais e passaram a ser adquiridos e provados por quem os cultivava e transformava. Tal como a cultura, a praia, a escola, a roupa e o calçado, o acesso aos alimentos também é conquista do 25 de Abril.




Mais artigos de: Festa do Avante!

Um mundo novo

Um dos grandes desafios que a Festa do Avante! coloca aos seus visitantes é, ao mesmo tempo, uma das suas maiores riquezas – a diversidade do seu programa, entendendo esta palavra no que ela tem de mais vasto, seja o que se materializa em espectáculos e iniciativas...

Uma obra colectiva erguida a pulso

Abrimos as portas da quadragésima segunda edição da Festa do Avante!. Fazemo-lo com imensa alegria por ver o resultado de uma obra colectiva erguida a pulso pela disponibilidade e vontade militante, por disponibilidade e vontade de muitos amigos do Partido, de muitos amigos da Festa do Avante!...

Socialismo e comunismo são a alternativa

Junto à entrada da Quinta do Cabo estava o Espaço Central. Nas suas paredes, preenchidas com a força de quem luta para transformar o mundo, encontrámos palavras de ordem reflectindo problemas e realidades que, durante os três dias da Festa, ali foram debatidas por muitas centenas de pessoas,...

Intervir e lutar por um Portugal com futuro

«A luta pela alternativa patriótica e de esquerda - A resposta necessária aos problemas do País», debatido, sábado, no Fórum, abordou «aspectos de projecto, mas também de acção e iniciativa política concreta», afirmou Jorge Cordeiro, do Secretariado e da Comissão Política do Comité Central...

A ruptura que faz falta obtém-se com a luta

Os avanços alcançados após as eleições de Outubro de 2015 resultam de medidas limitadas do Governo do PS e só com o prosseguimento da luta e o reforço do PCP será possível romper com a política de direita e avançar para uma justa distribuição da riqueza que o trabalho produz.Esta ideia...

Leis não apagam o crime das privatizações

Desmentidos hoje, pela prática, os argumentos que foram usados como fundamento legal e ideológico da política de privatizações, não é de mais frisar que o objectivo de retirar do Estado para dar ao grande capital marcou a acção dos governos desde 1976 e foi retardado pela luta constante dos...

Informação de classe

Uma exposição do jornal Avante!, «um instrumento da luta dos trabalhadores e do povo», esteve patente no Espaço Central. As páginas deste semanário – que ilustram e comprovam o conteúdo – «levam mais longe a voz do Partido, afirmando a sua identidade, veiculando as suas posições, orientações e...

O fascínio dos Bonecos de Santo Aleixo

Os maganos dos Bonecos foram à Festa! E foi um sucesso. Jóia maravilhosa de tradição oral da cultura popular portuguesa, profundamente enraizados no imaginário alentejano, os Bonecos, títeres de varão de arame, à semelhança das marionetas do sul de Itália, feitos de palmo e meio de madeira,...

Serviços públicos em foco no Auditório

No Espaço Central da Festa houve um outro pólo de debates, propiciando uma maior proximidade para ouvir e interpelar dirigentes do PCP e outros militantes, com intervenção destacada nas mais diversas áreas. Com variações na quantidade de lugares preenchidos – assinalando-se que por mais de uma vez estiveram todas as...

O cinema devolvido ao povo

O CineAvante! avança, confiante. Conquistou um lugar de relevo na Festa e as condições melhoram de ano para ano. O programa de 2018 assinalou o segundo centenário do nascimento de Karl Marx com O Jovem Karl Marx (2017), apresentado por Rui Mota. O filme narra o início da colaboração entre Marx...

O que nos torna mais humanos

Este ano foi ano intercalar entre bienais. Um lapso temporal em que foi decidido que se continuaria a ocupar o mesmo espaço preenchendo-o de forma diversa, sabendo-se de ciência certa que as artes visuais são uma parcela dos saberes e do saber fazer que é o que define a cultura enquanto...

Festa da juventude e da luta

A Festa do Avante! é a festa que a juventude tomou como sua. Não apenas durante os três dias, mas também nos meses que a antecedem e que a sucedem, na sua construção e na sua desimplantação – que, aliás, se iniciou logo com o término da Festa e que irá prosseguir durante os próximos tempos....

Comício dá força à luta

O comício de domingo foi um momento sublime, politicamente marcante e diferenciador. Quase se poderia dizer que nele esteve a síntese do ambiente vivido nos três dias da Festa pelos muitos e muitos milhares que a visitaram e que de múltiplas maneiras aproveitaram a riquíssima programação que...

Esta grande Festa evidencia e projecta a diferença do PCP

Saudações calorosas a todos vós, a todos os construtores, participantes e visitantes da 42.ª edição da Festa do Avante!, que confirmaram mais uma vez a sua natureza e características, na sua dimensão solidária, da paz e da fraternidade, mas também de Festa de Abril. Desse Abril cujos 45 anos...

Exaltante expressão do ideal e do projecto comunista

«Esta festa do nosso glorioso Avante!, do nosso glorioso Partido, é a maior, a mais extraordinária, a mais entusiástica, a mais fraternal e humana, realizada no nosso país». Assim caracterizou Álvaro Cunhal em 1976 a primeira Festa do Avante!. Assim a podemos continuar a caracterizar, nesta...

A Festa que a juventude fez sua

Viva a Festa do Avante! A festa da vida, da arte e da cultura, da música e da literatura, do desporto e da alegria, da amizade e da solidariedade! Inseparável do nosso projecto de sociedade, esta é a festa que se constrói e vive como a festa da juventude, dos trabalhadores e do povo, a festa...

Unidos pela paz contra a guerra

O Espaço Internacional na Festa do Avante! foi este ano ainda maior. A estrutura que sempre ocupou o terreno situado paredes meias com a entrada da Quinta da Princesa, no topo Norte da Quinta da Atalaia, galgou para a Liberdade. Para um e outro lados da avenida que lá ao fundo desagua no Palco...

Testemunhos vivos das lutas dos povos

A unidade das forças progressistas é fundamental para fortalecer a luta dos povos face à ofensiva imperialista – foi reafirmado em seis debates no Espaço Internacional da Festa do Avante!. Das dezenas de delegações de partidos comunistas e outras organizações progressistas presentes na 42.ª...

Música de punho erguido no melhor palco do mundo

O palco 25 de Abril abriu no sábado com os TwistConnection, sucedendo-se quase ininterruptamente os temas de rock «puro e duro», com guitarra e baixo bem eléctricos e marcantes, como, por exemplo, no single lançado...

Sonhos de gente comum

«Há quem diga que todas as noites são de sonhos. Mas há também quem garanta que nem todas, só as de Verão. No fundo, isto não tem muita importância. O que interessa mesmo não é a noite em si, são os sonhos. Sonhos que o homem sonha sempre, em todos os lugares, em todas as épocas do ano,...

Tardámos e arrecadámos no Auditório 1.º de Maio

Duas tardes aqui relatadas, passadas no Auditório 1.º de Maio, nesta Festa do Avante! de 2018. Daí se dizer que tardámos, que foi a tarde que nos acolheu, com esse acrescento de arrecadar, para referir agora o ganho...

Sons que aquecem as noites

As três noites do Auditório 1.º de Maio foram passadas em alegria e festa. Na sexta-feira, se se perdeu na quantidade de concertos, ficou o público a ganhar na qualidade dos mesmos. Os primeiros a pisar o palco foram os artistas do Tributo às Independências. A brisa mais fria que se sentiu, pelo anoitecer, não foi o...

A história no pulsar da actualidade

A programação do Avanteatro destacou-se mais uma vez pela qualidade e diversidade dos espectáculos apresentados por grupos de todo o País. Houve marionetas que maravilharam os mais novos, criações de jovens artistas, assim como produções teatrais já com grande...

Escrever para o amigo que virá

A poesia, o romance, o ensaio, o testemunho histórico, estiveram em destaque em mais uma edição da Festa do Livro, diria que das mais concorridas de quantas se realizaram ao longo dos 42 anos da nossa Festa. Estiveram presentes no Auditório, para apresentar novos livros ou para falar da...

Alegria e eterna descoberta

Na Festa deste ano, o Espaço Criança foi mais uma vez um lugar de alegria e convívio da miudagem e das famílias. À sombra acolhedora dos pinheiros, desenrola-se um espaço melhorado de ano para ano com novos bebedouros, bancos, baloiços, um insuflável, um carrossel e outros materiais de...

Três dias de competição, fair play e convivência competitiva

A Comissão de Desporto da Festa do Avante! elaborou um programa vasto e diversificado, que o público aplaudiu com entusiasmo durante os três dias que durou a maior realização política, cultural e artística que acontece no nosso País. No polidesportivo ou nos outros locais e instalações...

Ver, ouvir e experimentar

«O Homem e a Natureza – cooperação e conflito!» foi o tema da exposição do Espaço Ciência! da 42ª edição da Festa do Avante! Tal como acontece ano após ano a exposição é dedicada a um tema sobre o qual podemos durante os três dias de Festa ler, ver, ouvir e experimentar. A atmosfera (ar, luz...

Justa homenagem aos Bombeiros

É precioso o serviço e a cooperação que os bombeiros desde sempre têm dado à Festa. A sua presença assume uma importância enorme e por isso nunca faltou reconhecimento ao seu trabalho. Na edição deste ano essa valorização assumiu contornos ainda maiores com uma exposição a eles dedicada integrando painéis e inúmeros...