Transformar o presente, conquistar o futuro
O trabalho de milhares de militantes e amigos criou condições novas e, do Cabo à Atalaia, mostraram-se lutas, avançaram-se reivindicações, celebraram-se vitórias, conheceram-se tradições, transformaram-se os dias na 42ª Festa. Feita para todos foi a mais bela, a mais espaçosa e a melhor arrumada. Nela demos a conhecer o Partido que a constrói, o jornal que lhe dá o nome e tudo aquilo que nos motiva a levar Avante! o sonho de, em vida, transformarmos o Mundo.
Ainda não estão passadas as portas da Quinta do Cabo e já se misturam os votos de «Boa Festa, amigos» e de «Bom trabalho, camarada». Assim que a EP é devolvida, apetece deitar a correr, para não perder nada do que aos primeiros metros já se consegue alcançar: stands, sombras, murais com propostas e soluções. À nossa frente, ao nosso lado, atrás de nós, o mar de gente começa a viver e a usufruir intensamente três dias de alegria, de amizade e de luta.
À Festa chegam famílias inteiras e muitas com quatro gerações: bebés e bisavós, netos e avós, filhos e pais. Mas também vizinhos e amigos de longa data e outros acabados de conhecer. O vasto programa não dá tréguas ao descanso, é consultado e discutido vezes sem conta. Querendo ir além, convencem-se os amigos que é já ao virar da rua ou querendo estar ali atravessa-se o País. Chamados pelos familiares para provar uma iguaria de que ainda não ouvimos falar mas dizem os entendidos não podes perder.
A Festa mais bela seguiu ao ritmo da militância e da amizade. Passaram tocadores com bombos e concertinas, cabeçudos, filarmónicas e ranchos. Numa mesa, cantadeiras e cantadores soltavam a voz com A Internacional. Num grupo combinava-se encontro com hora certa para a boleia e noutro quem ia comprar comida e bebidas porque o fresco das árvores e o Tejo ali tão perto convidavam a fazer piquenique. Olhando à volta constatava-se o esforço comum de ter a Festa bonita e limpa.
No palco Arraial ensaiado o som, afinadas as vozes, o coro parecia cantar o horizonte festivo alcançado da Esplanada ou da Roda «E lá do alto, bem do alto tenho paixão pelo que vejo».
De dentro de um balcão diziam: «Camaradas, vamos fazer mudança de turno. Agradecemos a compreensão.» Saíam uns, entravam outros, cruzavam-se connosco os mais novos e os mais velhos em tratamento igual. Podia lá ser de outra maneira quando se quer o Mundo transformado. E na Festa mais espaçosa demos conta que a felicidade vivida pelo mar de visitantes é a mesma felicidade que motivava milhares de construtores a cumprir turnos.
«Tanto trabalho para três dias», dizia quem a visitava pela vez primeira. «Tanta camaradagem e alegria para levar e guardar até ao próximo ano», dizia quem nela cresceu e a fez crescer.
Não há Festa como esta, assim, poderosa nos valores, na diversidade e em dar voz às populações. E na Festa as organizações regionais empenharam-se na procura dos produtos com que encheram as bagagens. Afinal, há quem espere de um Setembro a outro para comer uma refeição ou um petisco feitos por quem transformar em nova qualidade qualquer produto que até o rico ar da Atalaia e do Cabo fica melhor temperado.
O melhor que o País tem
A passo e de comboio, ao ritmo da Carvalhesa e de demais cadências, o mar de gente tomando conta do tempo e do espaço, foi do Norte ao Sul, do Continente às Ilhas. Num breve destaque sobre os produtos trazidos pelas regiões, encontrámos em Viana do Castelo onde os corações – os humanos e os decorativos – brilham mais pela vitória recente da CDU em Darque, sanguinha, filigranas e bordados. Ao lado no Algarve, xarém de berbigão, mariscos, conservas, peixe fresco, medronho, cestos de empreita e de cana, amendoada e figos. Em Aveiro, feijoada de leitão, ovos-moles em moliceiros e barricas a lembrar o trabalho árduo, gelados de ovos-moles, tripas de chocolate. A seguir em Setúbal, peixes, mariscos, sandes de choco frito e de língua fumada, sopa caramela, e os símbolos comunistas levantados numa praça. Na Madeira, sopa de trigo, bolo do caco, barrete de vilão, brinquinhos e até uma réplica em escala natural de um carrinho de cesto. Em Bragança, posta Mirandesa, vitela no Pote, azeite, mel, bola sovada, pão da Inês e instrumentos musicais tradicionais. Em Coimbra, porco no espeto, espumante branco e tinto, coquetéis, pastéis de Santa Clara e de Lorvão. Em Viseu, vitela arouquesa assada no forno ou em posta na brasa, vinhos premiados, de monocasta, rosé e espumantes, cavacas (das boas). Depois Braga com massa à lavrador, frigideiras, enchidos, louça pintada à mão, brinquedos de madeira e cestos de palha. No Alentejo, cozido de grão, aguardentes, talegos, alforjes, bonecos de pano e uma escultura-homenagem aos comunistas clandestinos. No Porto, sandes de pernil de porco com queijo, Porto datado com a 42ª edição da Festa, filigranas, calçado em couro, malhas e mantas. Em Vila Real, vitela dos baldios transmontanos, canelos fumados, cristas de galo, Moscatel, vinho fino e de adega. Em Castelo Branco e Guarda, bacalhau, maranho, feijocas serranas, vinhos de toda a região, mel, queijos e presunto. Em Lisboa, sopa saloia, frango assado, leitão para todos os gostos, vinhos, fruta em salada e em sumo, um pórtico vermelho. Nos Açores, polvo, caldo de peixe, licores de frutos, pimenta regional, bolo lêvedo, artesanato em basalto e em escama de peixe. A seguir em Santarém, naco e pica-pau, ambos de touro bravo, bifanas na caralhota, abafado, ginjinha, demonstração de vinhos regionais, pampilhos e arrepiados. Em Leiria, frango e sardinha na brasa, migas, conservas de peixe, o vidro trabalhado ao vivo por um artesão que o moldou em anéis e animais, e o copo desta 42.ª edição.
Exposições, homenagens, murais, solidariedade
A combatividade das populações mostrou de novo que, a luta pela defesa da permanência dos CTT (correios), da CGD (balcões), centros de saúde, jardins-de-infância e postos de trabalho, é comum e ficará sempre desconhecida caso só atendamos ao que chega nas notícias diárias.
Evocações dos centenários de Armando Castro e Papiniano Carlos (Porto), da população do Couço que há 60 anos realizou a Grande Greve contra o fascismo e a Maria Lamas (Santarém).
Nos murais, vale contar que junto à exigência de 1% para a Cultura, os tocadores de Lavacolhos assentaram no chão os bombos e as caixas. Depressa as crianças se acercaram e não demorou a que pegassem nas baquetas e macetas para percutiram nas peles algumas delas maiores que a sua altura. Com imaginação dos futuros visitantes ou construtores da Festa levavam à prática a reivindicação do Direito à criação e à fruição cultural.
E como a transformação do Mundo é obra da Humanidade, Marx também esteve presente na Festa que festejou o II Centenário do seu nascimento.
Oito debates integrados no ciclo «Momentos de Solidariedade» levaram às várias regiões representantes da Colômbia, da Venezuela, da Bolívia, do Saara Ocidental, da Palestina, do Brasil, de África, da Ucrânia e de Cuba, para falar sobre a situação dos seus países desmontando os papões do círculo vicioso das notícias diárias.
«A Festa do Avante! que sentimos como nossa», disse de viva voz Lucas Rincón Romero – Embaixador da Venezuela em Portugal –, demonstrando reconhecimento e agrado, perante mais de duas centenas de participantes, durante o debate «Venezuela Bolivariana».
E muitos outros debates feitos nas regiões levaram a conhecer as soluções e as propostas do Partido para o nosso País. Debatendo a redução do horário de trabalho (Alentejo), o novo aeroporto (Setúbal), o direito à cidade (Espaço Fado/Lisboa), a produção de mel (Bragança), o papel do Turismo (Algarve), os 45 anos do Congresso da Oposição Democrática (Aveiro), as questões da floresta e o mundo rural (Leiria), os incêndios florestais de 2017 (Coimbra), o desenvolvimento do Alentejo (Alentejo), os horários, salários e emprego com direitos (Setúbal), as precariedades da ciência em Portugal (Café-concerto Lisboa), os transportes e mobilidade (espaço Fado), bem como, a apresentação da revista Diagonal (Porto) e Caderno Vermelho (Lisboa).
Cultura e debates
Espalhados pelo espaço destinado às regiões, vários palcos – Alentejo, Lisboa (Café-concerto e Espaço Fado), Setúbal e Palco Arraial –, receberam grupos ecléticos do fado ao cante, do orfeão à música filarmónica, do rock à música popular, do coro ao solista, dos pauliteiros ao baile folk, do folclore ao jazz. O caloroso público pediu encores e juntou a voz às dos artistas que aproveitaram para explicar as técnicas executadas.
Dialética
Percorrer as regiões através da doçaria que tanto dificulta a escolha permite saber a partir de quando aqueles produtos guardados no fresco das vitrinas chegaram ao consumo popular. Frutos – secos e frescos –, mel, açúcar, baunilha, chocolate, entre outros, e até receitas e electrodomésticos, só após a Revolução de Abril com a vida melhorada pelo aumento dos salários deixaram de estar apenas nas mesas das classes abastadas e nas cozinhas conventuais e passaram a ser adquiridos e provados por quem os cultivava e transformava. Tal como a cultura, a praia, a escola, a roupa e o calçado, o acesso aos alimentos também é conquista do 25 de Abril.