Dez anos de privatização vistos pelos trabalhadores

Festa sem razão na OGMA

O País, a Força Aérea e os trabalhadores da OGMA sofreram graves prejuízos com a privatização e não têm razões para celebrar, contrapôs o Steffas, no dia em que Paulo Portas foi a Alverca comemorar a sua decisão de 2004.

A manutenção de aeronaves militares nacionais foi reduzida a dois modelos

«Para o País e para os trabalhadores desta empresa, não há razões para celebrar», protestaram dirigentes e delegados do Sindicato dos Trabalhadores Civis das Forças Armadas, Estabelecimentos Fabris e Empresas de Defesa (Steffas/CGTP-IN), na segunda-feira, dia 6, no portão da OGMA Indústria de Aeronáutica, enquanto a administração, o presidente da Embraer e o vice-primeiro-ministro comemoravam lá dentro os dez anos da privatização.
O sindicato, no comunicado que ali distribuiu, começa por lembrar que foi um governo de composição igual à do actual que, em 2004, entregou o controlo de uma das mais importantes empresas portuguesas ao capital estrangeiro, por cerca de onze milhões de euros.

O que conta 

Para avaliar o resultado, o foco é colocado nos interesses do País, na operacionalidade da Força Aérea Portuguesa (FAP) e nos direitos dos trabalhadores. O Steffas refere que, além da perda do controlo da empresa, «também a relação com a FAP se degradou imenso», passando a administração a considerá-la «um cliente como qualquer outro». Antes da privatização, a OGMA efectuava a manutenção de todos os modelos de aeronaves que equipavam a FAP, mas hoje trabalha apenas com dois e «os prejuízos para a operacionalidade da FAP têm sido evidentes». Sabendo-se que «as valências adquiridas pela OGMA para a manutenção das aeronaves da FAP são as mesmas valências que permitem depois captar trabalho de outras forças aéreas», «não vale a pena fingir surpresa pela quebra de trabalho na área da aviação militar».
Estes dez anos, para os trabalhadores, foram «o período de exploração mais agravada da sua força de trabalho». Embora sejam eles «os únicos geradores dos lucros de que a empresa tanto se orgulha», estão «diariamente confrontados com um clima de assédio laboral constante, por parte da administração e das chefias».
«O ganho não só está à vista, como tem sido bastante propagandeado», por parte de «quem comprou, por tão simpática soma, um estabelecimento de referência a nível mundial no campo da manutenção e fabricação aeronáutica, completamente limpo de passivos, pleno de pessoal especializado e possuidor de um saber e de uma cultura de trabalho inultrapassáveis, com as (dispendiosas!) certificações necessárias, além de uma carteira recheada de importantes contratos». Comprou... e «tem retirado lucros consistentes».
O «principal autor da venda», Paulo Portas, na altura ministro da Defesa, também obteve, «através deste e de outros destacados negócios em que esteve envolvido, um ganho evidente». O sindicato observa que ele «cresceu», «agora é vice-primeiro-ministro», mas não mostra ter «melhor olho para o negócio», uma vez que, «pelo menos no que toca à Defesa, vendeu sempre barato e comprou sempre caro».
«Há quase três anos não é actualizada a tabela salarial», esperando o Steffas que a administração da OGMA marque a primeira reunião para discussão da proposta reivindicativa já entregue, depois de aprovada, por unanimidade, em plenário de trabalhadores, e na qual se reclama 3,5 por cento de actualização, com um mínimo de 35 euros.
O sindicato confia que, se a atitude da administração for idêntica à dos últimos anos, «os trabalhadores da OGMA saberão intensificar a luta».

 



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