Homenagem aos activistas anti-apartheid

Jerónimo de Sousa evoca «vitória de todos nós»

O Secretário-geral do PCP interveio, no dia 29, numa iniciativa da embaixada da África do Sul em homenagem aos activistas da luta anti-apartheid, quando se assinalam os 20 anos de liberdade no país.

O PCP foi convidado a falar na iniciativa da embaixada

Começando por manifestar a «especial alegria» com que o PCP se associava a tão simbólica iniciativa, Jerónimo de Sousa lembrou que para os comunistas portugueses, como para muitos outros democratas, «a vitória do povo sul-africano sobre o regime do apartheid foi sentida como uma vitória de todos nós». Existem razões históricas para esta tão profunda identificação, garantiu o Secretário-geral do Partido, sublinhando a luta comum que o povo português e os povos irmão africanos travaram contra os regimes coloniais aliados do apartheid, nomeadamente a ditadura fascista de Salazar e Caetano.

O PCP «sempre entendeu que a luta de libertação do povo português do regime fascista passava também pelo fim do regime colonial português e a conquista pelos povos das então colónias portuguesas da sua liberdade e independência», acrescentou Jerónimo de Sousa, enfatizando que «não podia ser livre o nosso povo enquanto Portugal continuasse a oprimir outros povos.»

A luta comum dos trabalhadores e do povo português com a luta de libertação dos povos de Angola, Moçambique, Guiné-Bissau, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste fez com que o PCP «se orgulhe de ter tecido relações de profunda amizade e cooperação não só com o MPLA, o PAIGC, a FRELIMO, mas também com outros movimentos de libertação nacional africanos, como a SWAPO ou a ZAPU e a ZANU, e com o Partido Comunista Sul-africano e o ANC».

Entre outras importantes conquistas, a Revolução de Abril significou o fim da guerra colonial e o reconhecimento da independência dos povos das colónias portuguesas, valorizou Jerónimo de Sousa. O Portugal de Abril, acrescentou, «não só se solidarizou com os novos países independentes como prosseguiu o seu apoio aos povos que continuavam a luta pela sua independência».

Coragem e unidade

A vitória do povo sul-africano não foi fácil, sublinhou Jerónimo de Sousa, lembrando os combates que os sul-africanos tiveram que travar contra um regime que «utilizou a mais violenta opressão para impor a segregação racial e a exploração». O mesmo regime que, lembrou, «contou com o apoio económico, político e militar daqueles que, fechando, durante décadas, os olhos aos crimes cometidos contra o povo sul-africano, contavam com o regime do apartheid como aliado do colonialismo no continente africano e, em particular, na África Austral».

O grande obreiro da libertação da África do Sul de tão odioso regime foi o povo sul-africano, as «classes e grupos sociais que sofrendo na pele a segregação racial e a exploração, nunca desistiram de lutar e acreditaram sempre num futuro de paz, justiça, igualdade e liberdade para o seu país», valorizou o dirigente do PCP. Desde logo, uma das grandes conquistas alcançadas neste longo combate foi – e continua a ser – a sua unidade, acrescentou Jerónimo de Sousa. A Aliança Tripartida, de que faz parte o ANC, o PC Sul-Africano e a central sindical COSATU, é a mais notável expressão dessa unidade.

Sublinhando o papel do povo sul-africano na derrota do apartheid, Jerónimo de Sousa considerou «justo evocar aqueles que dedicaram a sua vida a essa luta». Em primeiro lugar, Nelson Mandela, que «figurará na história como o grande dirigente histórico da luta do povo sul-africano»; mas também outros, como Oliver Tambo, Joe Slovo ou Chris Hani, «heróis e dirigentes do ANC ou do Partido Comunista Sul-africano que, fosse no exílio, na clandestinidade ou na luta armada, deram contributos fundamentais para a vitória do seu povo».


Solidariedade de sempre

Na sua intervenção, o Secretário-geral do PCP lembrou a solidariedade com os movimentos de libertação na África Austral sempre demonstrada pelo Partido. «Dirigentes como Oliver Tambo, Nelson Mandela, Sam Nujoma ou Robert Mugabe eram bem conhecidos do PCP», recordou Jerónimo de Sousa, garantindo que Álvaro Cunhal tinha com eles relações próprias e que aquando das suas visitas ao País, em épocas diferentes, contaram com «recepções calorosas».

Mas o PCP, para além da sua acção própria, «procurou sempre contribuir para a ampliação e carácter unitário do movimento de solidariedade». O movimento contra o apartheid nasceu ainda antes da Revolução de Abril, a partir da mobilização dos democratas e antifascistas portugueses, com um papel fundamental do movimento da paz. Depois do 25 de Abril, recordou, este movimento «conheceu um amplo desenvolvimento, tendo-se constituído o Movimento Português contra o Apharteid, o racismo e o colonialismo na África Austral».

Esta solidariedade, garantiu o dirigente do PCP, teve alguns momentos particularmente altos, como a Conferência Mundial contra Apartheid, o racismo e o colonialismo na África Austral», realizada em Lisboa em 1977 (e que contou com a participação, entre outros, de Oliver Tambo, Sam Nujoma, Joshua Nkomo ou Rubert Mugabe), e que impulsionou a constituição do Comité Internacional conta o Apartheid, o Racismo e o Colonialismo no Sul de África; a Conferência Internacional de Solidariedade com os Estados da Linha da Frente, realizada em 1983, e a própria visita de Nelson Mandela ao País, em 1993. 




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