Desinvestir não salva vidas
A inoperacionalidade das viatura médicas de emergência e reanimação (VMER) no distrito de Évora (em dois acidentes graves com perda de seis vidas ocorridos nos últimos quatro meses este meio não foi accionado) espelha bem as «consequências extremamente gravosas» para os utentes da política de degradação e desinvestimento no SNS. Esta situação foi denunciada com veemência por Carla Cruz, que referiu não saber se tais vidas teriam sido salvas mas saber que o «accionamento atempado dos meios de emergência adequados tem salvado muitas vidas», o que neste caso não ocorreu.
E recordou, segundo o que tem vindo a público, que a VMER de Évora esteve em 2103 parada 1521 horas, o mesmo acontecendo em outras regiões como Torres Vedras, Guarda ou Almada.
E por isso o PCP apresentará em breve uma proposta concreta para «assegurar a operacionalidade dos meios de emergência pré-hospitalar», anunciou Carla Cruz.
A inoperacionalidade na VMER de Évora foi entretanto resumida a uma «falha de escala», segundo a deputada do PSD Conceição Bessa Ruão, que se mostrou satisfeita por a operacionalidade média destas ambulâncias se situar em 95,9%. Carla Cruz não partilhou do mesmo grau de satisfação, sublinhando que o PCP o que defende no que toca à emergência pré-hospitalar é a operacionalidade a 100%, uma cobertura nacional. E para isso, precisou, «é preciso que haja dotação financeira», o que não tem acontecido.
Desafiou por isso a deputada laranja a questionar o Governo sobre a razão pela qual a DMER de Évora fica tantas vezes inoperacional. Certo e seguro é que o hospital de Évora não recebe um cêntimo para a ter na região, o que explica muito sobre a origem do problema.
À deputada do PSD, que insinuara ter o PCP na véspera alegadamente defendido os privados (em debate sobre convenções do SNS), Carla Cruz deixou bem vincado que a sua bancada o que defendeu foi o uso pleno da capacidade instalada do SNS na realização dos exames complementares de diagnóstico. «O que defendemos é o SNS público e não a transferência de dinheiros do público para o privado», reiterou, insistindo que por mais que PSD e CDS-PP tentem esconder o que os dados do INE confirmam é a transferência de recursos do SNS para o sector privado.
O papel do PS
Em resposta à deputada do PS Luísa Salgueiro, que dissera acompanhar as preocupações do PCP nesta matéria, imputando também culpas pela situação presente à troika, Carla Cruz tratou de lembrar que os «partidos do arco da dívida» (expressão que a deputada comunista Paula Baptista utilizara momento antes ainda no período de declarações políticas numa troca de palavras com o deputado do PS Carlos Zorrinho) têm responsabilidades pela situação em que se encontra o SNS, e em concreto pela situação da VMER de Évora.
E considerou que o PS tem a obrigação de esclarecer os portugueses sobre qual o compromisso que está disposto a assumir no sentido de salvaguardar o SNS, no cumprimento estrito do que está consagrado na Constituição e não na transferência de serviços para o sector privado, como aquele partido fez num passado muito recente.
Não basta pois endossar culpas para a troika estrangeira, tanto mais que, recordou, esse pacto de agressão tem a assinatura do PS. Mais: a alteração no transporte de doentes não urgentes começou com o PS, entre tantos outros exemplos, lembrou.