Privatização da EGF

Mercantilizar o serviço público

O PCP requereu na comissão parlamentar do Ambiente, Ordenamento do Território e Poder Local uma audição pública sobre o processo de privatização da Empresa Geral de Fomento.

Governo disposto a sacrificar serviço público de qualidade em favor do lucro

Image 15526

A EGF é uma «sub-holding» do grupo Águas de Portugal (AdP), integrando 11 empresas concessionárias, responsáveis pela recolha, transporte, tratamento e valorização de resíduos sólidos urbanos.

Numa área estratégica como é a dos resíduos, esta é uma empresa «rentável, que dispõe de modernas tecnologias e infraestruturas, possuiu trabalhadores qualificados e movimenta anualmente cerca de 170 milhões de euros», como refere o Grupo Parlamentar do PCP na texto entregue em 21 de Março onde solicita a apreciação parlamentar ao decreto-lei que aprova a privatização da EGF.

Para a audição que pretende ver realizada no âmbito deste processo, cujo pedido foi formalizado dia 10 pelos deputados Paula Santos e Miguel Tiago, o PCP quer ver convidados todos os interessados, desde autarquias às empresas multi-municipais, passando pelas organizações representativas de trabalhadores e comissões de utentes.

Na base desta iniciativa está a consideração de que a privatização, além de não corresponder às necessidades do País e das populações, corresponde a uma «manifestação de desprezo pelo trabalho do poder local democrático».

Recordado no texto é o facto de a entrada da EGF no capital de 11 sistemas multi-municipais (correspondente a 60% do sector de resíduos do País e onde detém uma posição superior a 51% do capital) ter representado o «apoio do Estado Central ao poder local na concretização de metas e objectivos que o próprio Estado definiu», sendo apontada como exemplo de parceria bem sucedida entre uma empresa pública e as autarquias, «com resultados ambientais e financeiros além do satisfatório». Sublinhada é ainda a circunstância de a constituição desses sistemas entre autarquias e EGF, «partilhando o capital das empresas», ter assumido como ponto de partida a «natureza pública do parceiro EGF».

A privatização da EGF é assim, na perspectiva do PCP – registe-se que a Associação Nacional de Municípios e muitos municípios individualmente considerados têm assumido uma posição igualmente contrária à privatização da EGF –, um passo claro para a «estratégia de privatização de “baixo para cima” do grupo Águas de Portugal», delineada e perseguida desde o primeiro governo PS de José Sócrates.

Que a concretizar-se, adverte a formação comunista, implicará uma distorção nos objectivos do Serviço Público prestado por estas empresas. Desde logo, pela introdução do factor lucro para além das necessidades de investimento, o que inevitavelmente acarretará um custo acrescido para as populações. Mas também porque subverte a «hierarquia das prioridades, sobrepondo o objectivo da obtenção de lucro ao objectivo da prestação de um serviço público de qualidade e ambientalmente adequado».

Em suma, para o PCP, porque a gestão de resíduos é «fundamental ao desenvolvimento equilibrado do País e essencial à preservação e conservação do meio ambiente», bem como à «coesão social e económica, à saúde pública e à qualidade de vida das populações», este é um sector que deve permanecer na esfera pública e nunca ser sujeito à ganância do lucro.

 



Mais artigos de: Assembleia da República

A saúde não é um luxo

O Governo persiste no favorecimento dos grandes grupos económicos do sector da saúde em prejuízo dos doentes. Este é um dos eixos da política em curso orientada para o desmantelamento e desagregação do Serviço Nacional de Saúde (SNS), acusa o PCP.

Desinvestir não salva vidas

A inoperacionalidade das viatura médicas de emergência e reanimação (VMER) no distrito de Évora (em dois acidentes graves com perda de seis vidas ocorridos nos últimos quatro meses este meio não foi accionado) espelha bem as «consequências extremamente...

Cuidados de saúde transfronteiriços

Objecto do voto contra do PCP e do PEV na passada semana em matéria de saúde foi a proposta de lei que transpõe duas directivas europeias respeitantes, por um lado, aos cuidados de saúde transfronteiriços, e, por outro, ao reconhecimento de receitas médicas emitidas noutro...

PCP propõe alterações ao regime

Foram formalizadas e entregues pela bancada comunista na passada semana, baixando à comissão, propostas de alteração ao decreto-lei que estabelece o regime jurídico das convenções no Serviço Nacional de Saúde.

Muito por esclarecer

A Comissão parlamentar do Orçamento, Finanças e Administração Pública rejeitou dia 9 o requerimento do PCP para a audição da secretária de Estado do Tesouro sobre os contratos SWAP. A audição de Isabel Castelo Branco em sede de...

Resposta integrada e inclusiva

Foram aprovados na generalidade, baixando à comissão por 45 dias, os projectos de lei do PCP, PS, PSD e CDS-PP sobre a revisão da lei tutelar educativa. A passagem dos dois diplomas das oposições foi conseguida através da abstenção dos partidos da maioria...

Auditor de segurança rodoviária

A Assembleia da República aprovou na generalidade, com os votos favoráveis da maioria PSD/CDS-PP, do PS e BE (PCP e PEV abstiveram-se), a proposta de lei que estabelece um novo regime de acesso e de exercício da profissão de auditor de segurança rodoviária. Para o PCP este...

Défice tarifário na energia

Foram chumbadas recentemente pelos partidos da maioria governamental e pelo PS as propostas do PCP destinadas a eliminar o défice tarifário no sector da energia eléctrica. O mesmo destino teve idêntico diploma do BE. Na origem do chamado «défice tarifário» está...