Vender os CTT é traição ao interesse nacional

Mais um banquete para o capital

Um «vergonhoso negócio» que serve apenas interesses privados em prejuízo do interesse público, assim classifica o PCP a venda dos CTT, uma operação que encaixa na política de «traição ao interesse nacional e de ataque às condições de vida dos trabalhadores e populações».

Governo vende a retalho a soberania e a democracia económica

Image 14669

«Pela primeira vez em cinco séculos de história, os correios são entregues aos interesses privados dos grupos económicos», sublinhou o deputado comunista Bruno Dias, para quem o Governo teve o atrevimento de «ir mais longe do que foi a própria ditadura fascista» no que toca aos CTT e ao serviço público postal.

Palavras muito duras que perpassaram toda a declaração política que proferiu na passada semana em nome da sua bancada, dirigidas contra um Governo que em sua opinião está a «vender a retalho a soberania nacional e a democracia económica».

Falando na véspera da muito falada «estreia bolsista» dos CTT, ocorrida dia 5 e tida como ponto alto da privatização, o deputado comunista viu-a como um «obsceno espectáculo de enriquecimento de alguns à custa do empobrecimento de quase todos».

E sobre a propaganda que a precedeu, não poupando na crítica, considerou-a «uma provocação e um insulto». «Os Correios, que são do Estado porque o seu dono é o povo, são desta forma roubados aos portugueses – e os portugueses são convidados a comprar acções na bolsa, da empresa que lhes é roubada», censurou.

Vale tudo

Importante na intervenção de Bruno Dias foi ainda a demonstração do carácter doloso, sob todos os pontos de vista, desta decisão do Governo PSD/CDS-PP.

No plano das contas públicas, especificou, o Estado perde as receitas dos dividendos que deixa de receber, perde receitas fiscais, perde o «controlo estratégico de um serviço público que é factor fundamental de desenvolvimento e qualidade de vida, de coesão territorial na ligação às regiões».

Nada que pareça incomodar ou preocupar os partidos que suportam o Governo, como se voltou a constatar pela reacção no debate à declaração política do PCP. Surgiu pela voz do deputado Luís Menezes (PSD), com este fixado sobretudo em valorizar o encaixe obtido no imediato pelo Estado com a venda dos CTT, o qual nas suas contas míopes será «quase aquilo que receberia por 12 anos de dividendos futuros».

A merecer a dura crítica de Bruno Dias esteve ainda o comportamento do Governo em todo este processo que apelidou de «verdadeiramente escandaloso». O que se assistiu foi ao «transformar de um serviço público num negócio privado», salientou, lembrando que valeu tudo para atingir esse objectivo.

Encerraram-se centenas de estações de correio, arrancaram-se centenas de marcos de correio, degradou-se o serviço postal votando ao abandono as populações, exemplificou, lembrando que em paralelo outras linhas de ataque ganharam terreno atingindo o emprego com direitos e chegando mesmo à destruição de centenas de postos de trabalho.

Venda a retalho

As «maiores suspeitas e preocupações», segundo Bruno Dias levanta igualmente o chamado «protocolo» assinado entre o Governo e os CTT para a criação do que é designado por «Espaços Loja do Cidadão» em estações de correio. As circunstâncias em que tal ocorrerá não são conhecidas, observou, o que se sabe é que está prevista a mobilização de fundos públicos e comunitários, «colocando funções do Estado e da administração pública nas mãos de interesses privados».

Numa prática destinada a favorecer os privados, que Bruno Dias resumiu como sendo a «venda a retalho» da soberania nacional e da democracia económica, o Governo procedeu ainda à alteração do Contrato de Concessão do Serviço Postal, permitindo assim o fecho mais fácil de estações de correio, «aumentos de preços e discriminações tarifárias facilitadas, eliminação do próprio conceito de Rede Pública Postal e do seu Plano de Desenvolvimento».

Sem deixar de notar que com esta privatização a hora é de «banquete» para o Governo e o poder económico, Bruno Dias deixou porém um aviso: «Fazem a festa com o que está a ser roubado ao País e ao povo, mas o povo e os trabalhadores, mais cedo que tarde, hão-de estragar-vos a festa. Porque a luta aí está e vai continuar».

 

Ouvir o governador

O caminho agora aberto à criação de um Banco Postal, possibilidade negada durante décadas em nome do interesse público, é mais um exemplo de como o Governo aposta tudo em favorecer interesses privados. E por isso o PCP quer ouvir na AR sobre esta matéria o governador do Banco de Portugal, tendo para o efeito requerido na Comissão de Orçamento as diligências para esse efeito.

Concretizando a decisão tomada nas suas recentes Jornadas Parlamentares no Algarve, a bancada comunista formalizou já também a apreciação parlamentar do decreto-lei que altera as bases da concessão do serviço postal universal.

 



Mais artigos de: Assembleia da República

O insuportável fardo dos juros

O PCP insiste em considerar que a dívida pública é insustentável e que não poderá ser paga com as política actuais, reiterando que só a renegociação da mesma (nos juros, prazos e montantes) serve os interesses de Portugal e dos portugueses.

A prova da humilhação

A maioria chumbou a iniciativa legislativa do PCP que pedia o fim da prova de acesso à carreira dos professores. Igual destino tiveram idênticos pedidos de cessação de vigência apresentados pelos restantes partidos da oposição, na sequência da apreciação...

Em memória de Mandela

A Assembleia da República aprovou por unanimidade um voto subscrito por todas as bancadas e pela presidente, Assunção Esteves, no qual expressa «profundo pesar» ao povo e às autoridades sul-africanas pela «perda de um estadista universal». No texto, ao qual se associou...

Não às portagens na Via do Infante

A maioria PSD/CDS-PP voltou a chumbar uma proposta do PCP de abolição das portagens na Via do Infante. Esta foi a sexta diligência da bancada comunista para pôr fim a uma medida que teve «consequências desastrosas para a região algarvia», como referiu o deputado...

Homenagem a Alcino Soutinho

A AR aprovou, recentemente, por unanimidade, um voto de pesar pelo falecimento de Alcino Soutinho, reconhecendo nele, além de prestigiado arquitecto, «um Homem de profundas convicções democráticas e um lutador antifascista». No texto, apresentado pelo PCP, é lembrada a sua...

Olhar minucioso sobre a realidade algarvia

Nas Jornadas Parlamentares do PCP, como é seu hábito, os deputados comunistas aprofundam ao máximo o seu conhecimento sobre a realidade regional. Assim voltou a verificar-se através de um intenso programa de visitas, reuniões e contactos com as populações, entidades, instituições, organizações sociais e sindicais. Ouviram atentamente queixas e preocupações, registaram exigências, identificaram problemas, apontaram caminhos e soluções.

Pelo povo e pelo País

A realização dia 19 de uma interpelação ao Governo sobre as funções sociais do Estado e os serviços públicos, na perspectiva da sua defesa intransigente, constitui uma das iniciativas do PCP que marcará a agenda do plenário da AR na próxima...

Por melhores cuidados de saúde

Anotada no decurso das Jornadas foi a degradação das condições de prestação de cuidados de saúde no Hospital do Barlavento Algarvio. Esse foi um facto registado com grande preocupação na reunião que os deputados comunistas tiveram com o executivo...

Defender Escola Pública

Na visita à Escola Secundária João de Deus, em Faro, os deputados do PCP puderam comprovar, uma vez mais, os efeitos terríveis das actuais políticas de destruição da escola pública. Entre as preocupações recenseadas está, por exemplo, a...

Exploração sem freio

Degradação económica e social, elevado desemprego, desregulação dos horários de trabalho, salários em atraso, salários abaixo da média nacional e em contínua baixa, fecho de empresas, precariedade e encerramento de serviços públicos. Este...

Defender património

Avaliada nas Jornadas foi igualmente a política de conservação e valorização de património. Também neste domínio o panorama não é animador, reflectindo os efeitos de uma «política de desfiguração do Estado que se traduz no...

Fortes assimetrias

Sobre os efeitos nefastos do encerramento de serviços públicos na vida das populações recolheram os deputados comunistas testemunhos vários na sessão pública realizada na sede da Junta de Freguesia de São Bartolomeu de Messines. Ali se fez ouvir também em...

Aeroporto de Faro

Inquietação quanto ao seu futuro e ao da própria empresa e do Aeroporto de Faro têm hoje os trabalhadores da ANA Aeroportos. Depois de verem desmantelada a «Escala de Faro» na TAP e de assistirem à privatização da gestora aeroportuária, os trabalhadores...