Nos dez anos do Prémio Nobel a José Saramago

O escritor que é a voz de um povo

Precisamente dez anos depois da atribuição do Prémio Nobel da Literatura a José Saramago, o PCP homenageou o escritor e o militante, que manifestou o seu orgulho pela sua condição de comunista.

«A grandeza da sua obra não é dissociável da sua condição de comunista»

José Saramago voltou, dia 8, ao Centro de Trabalho Vitória, em Lisboa, para uma homenagem promovida pelo seu partido nos dez anos da atribuição do Prémio Nobel da Literatura. Como afirmou Jerónimo de Sousa, há dez anos «aqui festejámos com o camarada José Saramago a grande notícia que a todos encheu de alegria e de orgulho: a alegria de sabermos que o Prémio Nobel da Literatura era, pela primeira vez, um escritor português e da língua portuguesa; e o orgulho, natural, pelo facto de esse escritor ser um camarada, um membro do nosso Partido Comunista Português».
«Desse dia e dos que lhe seguiram, guardamos na memória o sentimento de profunda emoção que tal acontecimento trouxe aos portugueses», recordou o Secretário-geral do Partido. Afirmando que a obra literária de José Saramago, «tivesse ou não tivesse sido o seu autor galardoado com o Prémio Nobel, constituiria sempre um dos grandes marcos da literatura mundial».
E, não querendo misturar os universos da política e da literatura, «não é raro que essa mistura surja», por vezes pelas piores razões. No caso do Prémio Nobel da Economia, ironizou, «é óbvio que se Marx fosse vivo, as probabilidades desse prémio lhe ser atribuído seriam, certamente, baixíssimas, diminutas». Já os teorizadores da escola de Chicago «têm sido galardoados quase todos os anos». Sendo embora certo que na Literatura o fenómeno «não tem sido tão flagrante», é também um facto que, contando os escritores comunistas galardoados, «sobram dedos de uma só mão».
Mas, para Jerónimo de Sousa, no que respeita a José Saramago, «a sua condição de comunista e a grandeza da sua obra literária não são facilmente dissociáveis». Aliás, «estou em crer que sem essa condição a massa humana de muitos dos seus livros não se moveria com o mesmo fulgor e não se sentiria em muitos deles o penoso, trágico, exaltante, contraditório, luminoso, sombrio, incessante movimento da história».
Lembrando as palavras do homenageado há dez anos, na Academia Sueca, Jerónimo de Sousa citou: «A voz que leu estas páginas quis ser o eco das vozes conjuntas das minhas personagens». Mas, continuou, «poderíamos acrescentar: “E essas vozes conjuntas são um eco do povo, dos trabalhadores, dos imperfeitos humanos que constroem a história”».

«Aqui estou!»

Antes da intervenção do Secretário-geral, o próprio José Saramago reafirmou o seu orgulho em ser comunista. E contou um episódio, envolvendo Álvaro Cunhal, em que o histórico dirigente do PCP previu que o escritor nunca abandonaria o Partido. «Tinha razão e aqui estou», afirmou Saramago. Os militantes, que enchiam por completo o salão, aplaudiram.
Segundo José Saramago, Álvaro Cunhal escrevera, na década de 80, cartas a várias pessoas, incluindo a si próprio, para serem entregues caso «não sobrevivesse» a uma «operação de alto risco». «Felizmente, para todos e para ele, sobreviveu, viveu e trabalhou» e as cartas foram destruídas, afirmou José Saramago, revelando ter tido conhecimento das palavras que lá estavam escritas.
Para além das intervenções do próprio José Saramago e de Jerónimo de Sousa, foi lido um excerto do Memorial do Convento e o fadista Carlos do Carmo cantou uma canção a partir de um poema do escritor.


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