Karl Marx nasceu há 190 anos

Genial teórico e dirigente revolucionário

Teórico notável, Karl Marx, sempre com a próxima colaboração do seu amigo e colaborador Friedrich Engels, foi também um eminente dirigente proletário. Nestas páginas, lembramos alguns momentos fundamentais da vida e da obra destes dois geniais pensadores revolucionários, cujo contributo para a luta revolucionária do proletariado é único.
Karl Marx nasceu a 5 de Maio de 1818, em Trier, na província renana da Prússia, filho do advogado Heinrich Marx e de Henriette Pressburg. Dois anos e meio depois, na mesma província, mas em Barmen, nascia aquele que se tornaria seu fiel amigo e próximo colaborador, Friedrich Engels, filho do industrial têxtil Friedrich Engels e de Elisabeth van Haar.
Entre 1930 e 1935 Marx estuda no liceu em Trier. Em Outubro do ano seguinte, vai para a Universidade de Berlim, onde se inscrevera na Faculdade de Direito. Mas é a filosofia que o atrai e, em 1841, recebe o título de doutor em Filosofia, pela Faculdade de Iena. A sua tese de doutoramento é intitulada Di­fe­rença da Fi­lo­sofia da Na­tu­reza de De­mó­crito e Epi­curo.
Nos escritos e no percurso do jovem Marx, é já possível antever a sua fidelidade à causa revolucionária, que marcaria os anos seguintes da sua vida. Em 1935, em Re­fle­xões de um jovem pe­rante a es­colha de uma pro­fissão, escreve: «Se tivermos escolhido a posição na vida na qual mais podemos fazer pela humanidade, não haverá dificuldades que nos possam vergar, porque são sacrifícios para o bem de todos; não desfrutamos de pequenas alegrias limitadas e egoístas, pelo contrário, a nossa felicidade pertence a milhões de homens.»

Pri­meiros passos re­vo­lu­ci­o­ná­rios

1842 é um ano decisivo para Karl Marx. No início desse ano, faz a sua primeira intervenção como publicista, com o artigo Ob­ser­va­ções sobre o mais re­cente de­creto prus­siano sobre a cen­sura. Em Maio, colabora já com a Ga­zeta Re­nana, onde defende os interesses da «massa pobre, política e socialmente sem posses». Esta colaboração dá frutos e, em Outubro, torna-se chefe de redacção do jornal. Nos seus artigos, esboça-se já a passagem do idealismo para o materialismo, da democracia revolucionária para o comunismo.
Em Novembro, conhece o homem que se tornaria o seu mais próximo amigo e colaborador. A caminho de Inglaterra, Engels visita a redacção da Ga­zeta Re­nana.
Entre Maio e Outubro de 1843, Karl Marx vive em Kreuznach, onde escreve Para a Crí­tica da Fi­lo­sofia de Hegel. Entretanto, em Junho, casa com Jenny von Westphalen. No final de Outubro, o casal chega a Paris, onde Marx frequenta reuniões de operários e entra em contacto com a Liga dos Justos.
No ano seguinte, em Fevereiro, sai o número duplo da revista Anais Franco-Ale­mães. Os artigos de Marx Para a Questão Ju­daica e Para a Crí­tica da Fi­lo­sofia do Di­reito de Hegel. In­tro­dução, traduzem a passagem definitiva para o materialismo e o comunismo.
Entre Abril e Agosto, trabalha nos Ma­nus­critos Eco­nó­mico-Fi­lo­só­ficos. Nesta obra afirma, por exemplo, que «o operário tornou-se uma mercadoria e é uma sorte para ele quando consegue encontrar quem a compre» e que «quanto mais objectos o operário produz, tanto menos pode possuir e tanto mais cai sob a dominação do seu produto, do capital». A 28 de Agosto encontra-se novamente com Engels, desta vez em Paris. É neste segundo encontro que se inicia verdadeiramente a sua grande amizade e colaboração. Começam a escrever a sua primeira obra conjunta, A Sa­grada Fa­mília, ou a Crí­tica da Crí­tica Crí­tica. Contra Bruno Bauer e Con­sortes.

Di­ri­gentes pro­le­tá­rios

O ano de 1845 começa com a expulsão de Marx de França. É já em Bruxelas que redige as famosas Teses sobre Feu­er­bach, que Engels considerará o «primeiro documento onde está consignado o germe genial da nova visão do mundo». É nesta obra que Karl Marx afirma que «os filósofos têm apenas interpretado o mundo de diversas formas; trata-se de o transformar».
Entre Julho e Agosto, Marx e Engels viajam para Inglaterra, onde estabelecem contactos com os dirigentes do cartismo e com os dirigentes londrinos da Liga dos Justos. No final do ano, começam a escrever A Ide­o­logia Alemã. É aqui que formulam a tese de que o Estado «nada mais é do que a forma de organização que os burgueses se dão, tanto externa como internamente, para garantia mútua da sua propriedade e dos seus interesses».
No início de 1846, Karl Marx e Friedrich Engels fundam o Comité de Correspondência Comunista de Bruxelas, preparando o terreno para a criação de uma organização proletária internacional. É nesse período que aceitam o convite do comité londrino da Liga dos Justos para aderirem à organização e colaborarem na sua reorganização e elaboração de um programa.
No ano seguinte, Marx escreve a obra Mi­séria da Fi­lo­sofia, considerada por Lénine uma das «primeiras obras do marxismo maduro». É nesta obra que afirma que «nas mesmas relações nas quais se produz a riqueza se produz também a miséria».
Nesse mesmo ano, Engels participa, em Londres, no Congresso da Liga dos Justos. Marx não está presente por razões económicas. A liga foi reestruturada e passou a designar-se Liga dos Comunistas. A divisa adoptada é de Marx e Engels: «Proletários de todos os países, uni-vos!»
No final de 1847, dá-se o segundo Congresso da Liga dos Comunistas em Londres. Marx e Engels tomam parte activa nos trabalhos. O Congresso encarrega-os da elaboração do Programa e aprova os Estatutos.
Em Dezembro, Marx dá conferências na Associação dos Operários Alemães de Bruxelas sobre economia política. Daqui nasceria mais tarde a obra Tra­balho As­sa­la­riado e Ca­pital.
.
Tempos de re­vo­lução

1848 inicia-se com a publicação, em Londres, do Ma­ni­festo do Par­tido Co­mu­nista, primeiro documento programático do marxismo (ver páginas seguintes ). Em Março, Marx e Jenny são presos em Bruxelas e libertados 48 horas depois. Marx e a família deixam a Bélgica e rumam a França onde, coincidindo com a publicação do Ma­ni­festo, eclodira a revolução democrática burguesa. A luta nas barricadas conduziu à proclamação da República.
No início de Abril, Marx e Engels vão para a Alemanha, onde se desencadeara também a revolução, para participarem directamente nos acontecimentos. No último dia de Maio, é publicado o primeiro número da Nova Ga­zeta Re­nana. Marx é o director e Engels um dos redactores. Anos mais tarde, Lénine referir-se-ia a este jornal, como «o melhor, insuperável órgão do proletariado revolucionário». Engels caracterizaria desta forma o trabalho no jornal nesses tempos de revolução: «Vê-se o efeito de cada palavra diante dos olhos, vê-se como os artigos caem como se fossem granadas e como a carga explosiva rebenta».
A 16 de Maio de 1849, as autoridades prussianas expulsam Marx. Engels é perseguido por ter participado no levantamento de Erberfeld.
Após uma breve passagem por Paris, de onde também seria expulso, Marx muda-se para Londres em Agosto. A família junta-se a ele em Setembro e Engels chega dois meses depois.

O longo exílio

Em Março de 1850, Marx e Engels redigem a Men­sagem da Di­recção Cen­tral da Liga dos Co­mu­nistas. Neste documento, tiram-se as lições da luta do proletariado na revolução passada e traça-se o programa da sua acção futura. A Nova Ga­zeta Re­nana inicia a publicação de uma série de artigos de Marx sob o título «De 1848 a 1849». Mais tarde, estes textos serão compilados e publicados por Engels com o título As Lutas de Classes de 1848 a 1850. Na Primavera deste ano, Marx entrega-se aos seus trabalhos de Economia Política. Engels vai para Manchester como empregado da casa Ermem e En­gels, o que lhe permite prestar uma ajuda regular a Marx e à família.
Em 1851, Marx e Engels começam a colaborar com diversos jornais ingleses e norte-americanos: Notes to the People e The People's Paper e, nos Estados Unidos da América, o New York Daily Tri­bune. Entre Dezembro e Março do ano seguinte, Marx redige O 18 Bru­mário de Louis Bo­na­parte.
No final desse ano, entrega-se ao folheto Re­ve­la­ções sobre o Pro­cesso dos Co­mu­nistas em Co­lónia.
Entre 1861 e 1863, Marx trabalha no manuscrito que comporta todas as partes do futuro O Ca­pital, incluindo a da crítica histórica «Teoria sobre a Mais-Valia». Entre Agosto desse ano e Dezembro de 1865, redige uma nova versão, insistindo nos problemas que constituirão os volumes II e III.

A In­ter­na­ci­onal

A 28 de Setembro de 1864, é fundada, numa reunião pública em Saint-Martin's Hall, em Londres, a Associação Internacional dos Trabalhadores, que passaria à história como a I Internacional. Marx é eleito para o Comité Provisório, futuro Conselho Geral. Um mês depois, redige a Men­sagem Inau­gural da As­so­ci­ação In­ter­na­ci­onal dos Tra­ba­lha­dores e os Estatutos provisórios. Na Mensagem, define os objectivos da classe operária: «conquistar o poder político.» Nos Estatutos, surge a famosa consigna: «A emancipação das classes operárias tem de ser conquistada pelas próprias classes operárias.»
Nos dias 20 e 27 e Junho de 1865, Marx profere conferências nas reuniões do Conselho Geral, que serão publicadas mais tarde com o título Sa­lário, Preço e Lucro. Nestes textos, afirma, por exemplo, que os sindicatos «fracassam geralmente por se limitarem a uma guerra de guerrilha contra os efeitos do sistema existente, em vez de simultaneamente o tentarem mudar, em vez de usarem as suas forças organizadas como uma alavanca para a emancipação final da classe operária, isto é, para a abolição última do sistema de salários».
Em Agosto de 1866, Marx redige as Ins­tru­ções para os De­le­gados do Con­selho Geral Pro­vi­sório. As Di­fe­rentes Ques­tões, destinadas aos participantes no Congresso da I Internacional, que se realizaria no mês seguinte.

... e O Ca­pital

No dia 14 de Setembro de 1867, surge O Capital, obra económica fundamental de Marx. Entre Outubro desse ano e Junho do ano seguinte, Engels escreve várias recensões da obra, para melhor a difundir. Num destes textos, Engels realça que «desde que há no mundo capitalistas e operários não apareceu nenhum livro que fosse de tanta importância para os operários como este que temos diante de nós. A relação entre capital e trabalho, o gonzo sobre que gira todo o nosso sistema de sociedade de hoje, está aqui pela primeira vez desenvolvida».
O Congresso da I Internacional, reunido em Bruxelas entre 6 e 13 de Setembro de 1868, aprova uma resolução onde se aconselha os operários de todos os países a estudarem O Ca­pital de Marx. No ano seguinte, é fundado em Eisenach o Partido Social-Democrata da Alemanha, o primeiro partido de inspiração marxista.
A 20 de Setembro de 1870, Engels é eleito por unanimidade para o Conselho Geral da I Internacional. Desempenhará as funções de secretário-correspondente para a Bélgica, Itália, Espanha, Portugal e Dinamarca. Engels dirá mais tarde que «descrever a actividade de Marx na Internacional significaria escrever a história dessa mesma associação».

A Co­muna e os úl­timos anos

Durante a Comuna de Paris, em 1871, Marx e Engels organizam importantes manifestações de trabalhadores a favor da Comuna. Em contacto permanente com a Comuna, Marx e Engels prestam ajuda aos seus membros e organizam uma vasta campanha de apoio.
Após o esmagamento da Comuna, Marx escreve A Guerra Civil em França, apelo do Conselho Geral da Internacional, no qual mostra o alcance histórico e universal da Comuna de Paris enquanto primeira tentativa de instauração da ditadura do proletariado. Na ocasião, escreve que a «classe operária não pode apossar-se simplesmente da maquinaria de Estado já pronta e fazê-la funcionar para os seus próprios objectivos». O «verdadeiro segredo» da Comuna de Paris era, para Marx, o seguinte: «ela era essencialmente um governo da classe operária, o produto da luta de classe produtora contra a apropriadora, a forma política, finalmente descoberta, com a qual se realiza a emancipação económica do trabalho».
Nos anos seguintes, Marx, com Engels, prossegue a sua actividade revolucionária. Em 1875, envia para a Alemanha as suas notas críticas ao projecto de programa do futuro partido operário alemão unificado (e que seria publicado por Engels em 1891 sob o título Crí­tica ao Pro­grma de Gotha). Nestas notas, Marx destaca que «entre a sociedade capitalista e a comunista fica o período da transformação revolucionária de uma na outra. Ao qual corresponde também um período político de transição cujo Estado não pode ser senão a ditadura revolucionária do proletariado».
Em 1879, Marx e Engels colaboram com o jornal clandestino do Partido Social-Democrata Alemão e no ano seguinte Marx trabalha nos livros II e III de O Ca­pital. Em Maio, numa nota biográfica de Engels, considera o companheiro «um dos mais eminentes representantes do socialismo contemporâneo».
Em 1882, Marx e Engels escrevem um prefácio à edição russa do Ma­ni­festo, no qual afirmam já que a Rússia «forma a vanguarda da acção revolucionária na Europa».
Nos últimos anos da sua vida, Marx dedicou-se ao aprofundamento dos seus estudos de Economia Política, enveredando também, por outras áreas, como análise matemática, agroquímica e geologia, ou química orgânica e mineral.
A 14 de Março de 1883, Karl Marx morre em Londres.


Mais artigos de: Em Foco

Proletários de todos os países, UNI-VOS!

Comemorar os 190 anos do nascimento de Karl Marx e os 160 anos da primeira edição do Manifesto do Partido Comunista, é celebrar a força e a juventude de um ideal que orienta e mobiliza milhões de pessoas em luta contra o capitalismo, por um mundo sem exploradores nem explorados.O cortejo de miséria, fome, domínio e...

Manifesto do futuro

Publicado pela primeira vez em Londres em 1848, o Ma­ni­festo do Par­tido Co­mu­nista é uma obra conjunta de Karl Marx e Friederich Engels, encarregues pelo II Congresso da Liga dos Comunistas, realizado entre Novembro e Dezembro de 1847, de redigir os princípios fundamentais do movimento comunista.

Luta de Classes

«A história de toda a sociedade até agora existente é a história da luta de classes. O homem livre e o escravo, o patrício e o plebeu, o barão feudal e o servo, o mestre de uma corporação e o aprendiz, em suma, opressores e oprimidos, estiveram em constante antagonismo entre si, travaram uma luta ininterrupta, umas vezes...

Burguesia e proletariado

Burguesia e proletariado continuam a representar as partes, dinâmicas, interactivas, em constante mutação, de um tipo determinado de relações sociais de exploração que opõem possidentes a não possidentes, ou, como escreveram Marx e Engels no Manifesto do Partido Comunista, que colocam de um lado «a classe dos...

Internacionalismo proletário

A igualdade de condição dos explorados de todo o mundo e a identidade internacional do objectivo que os une – construir uma sociedade sem classes – tem o seu corolário no apelo lançado por Marx e Engels: «Proletários de todos os países uni-vos!».No Manifesto, fica claro que tendo o proletariado de cada um dos países «de...

Ditadura do proletariado

«O que de novo eu fiz foi: 1. demonstrar que a existência das classes está ligada a determinadas fases de desenvolvimento histórico da produção; 2. que a luta das classes conduz necessariamente à ditadura do proletariado; 3. que esta mesma ditadura só constitui a transição para a superação de todas as classes e para uma...

Vanguarda da luta

As crises de sobreprodução recorrentes e periódicas que colocam a sociedade num «estado de momentânea barbárie» levam Marx e Engels a concluírem o inevitável derrube da burguesia como classe dominante.

Revolução de Outubro

Desde o surgimento do Manifesto do Partido Comunista, muitas foram as tentativas de construção de uma sociedade liberta da exploração do homem pelo homem empreendidas pelos povos.Por todo o século XX e neste início de novo século que nos cabe viver, sobejam exemplos audazes de revoluções animadas pelas ideias contidas no...

Um longo e exaltante caminho

Muito antes da fundação do PCP e da sua transformação num grande partido nacional, já os nomes de Marx e Engels e o Ma­ni­festo do Par­tido Co­mu­nista eram referência teórica e de acção do proletariado português.

Algumas citações

O PCP é a vanguarda da classe operária e de todos os trabalhadores. O papel de vanguarda do Partido decorre da sua natureza de classe, do acerto das suas análises e da sua orientação política, do projecto de uma nova sociedade, da coerência entre os princípios e a prática e da capacidade de organizar e dirigir a luta...

DVD comemora<br>Marx e o <i>Manifesto</i>

Juntamente com este número do Avante!, é posto à venda um DVD que contém uma exposição do PCP sobre a vida e Obra de Karl Marx – a qual é hoje inaugurada, pelas 18h30, no Centro de Trabalho Vitória, em Lisboa, e que ali estará patente até à próxima quinta-feira -; o texto do Manifesto, e outros dois de Álvaro Cunhal...