À espera da transição de poderes

Missão iraquiana na ONU

Ao mesmo tempo que aumentam as acções de resistência à ocupação, intensificam-se as medidas para «iraquianizar» o domínio dos EUA no Iraque.

«Não estamos a pedir o impossível, a ONU é um “guarda-chuva”»

O secretário-geral da ONU, Kofi Annan, recebe a 19 de Janeiro uma delegação iraquiana com quem vai debater o papel a desempenhar pela organização no Iraque até Junho, data prevista para a transferência do poder para os iraquianos.
Segundo o porta-voz do secretário-geral, Fred Eckhard, a delegação é integrada por Abdel Aziz al-Hakim, que ocupou em Dezembro a presidência rotativa do Conselho de Governo Transitório, e por Adnan Pachachi e Massud Barzani, seus sucessores no cargo em Janeiro e Fevereiro.
A missão iraquiana deverá também analisar com Annan a possibilidade de se realizarem de imediato eleições locais no Iraque, como afirmou Ibrahim Jaafari à Agência France Presse.
De acordo com Jaafari, o Conselho de Governo Transitório quer ver reforçado o papel da ONU durante o período de transição, e admite a «realização de eleições locais com base nas senhas de racionamento alimentar» distribuídas no país ao abrigo do programa «petróleo por alimentos».
«Não estamos a pedir o impossível, a ONU é um «guarda-chuva» que abrange todos os países, incluindo os Estados Unidos e a Grã-Bretanha», disse Jaafari.
As iniciativas para «iraquianizar» o domínio norte-americano no Iraque intensificam-se à medida que se torna mais evidente que a recente captura de Saddam Hussein não pôs termo à resistência, que pelo contrário se intensificou. As expectativas vão mesmo no sentido do aumento das operações da resistência à ocupação, como reconheceu há dias o alto representante britânico no Iraque, Jeremy Greenstock, segundo o qual é de esperar o uso de meios de combates mais aperfeiçoados para enfrentar as forças estrangeiras.
Pouco antes de se reunir com o primeiro-ministro inglês, Tony Blair, de visita à cidade de Bassora, Greenstock afirmou que a resistência está a ficar mais complexa com o uso de bombas de maior poder e de controles mais avançados.
O representante britânico reconhece que a situação é muito perigosa e admite a ocorrência de «golpes maiores».
Greenstock atribuiu entre 75 e 85 por cento das acções contra as forças ocupantes ao partido Baas e outros apoiantes de Saddam, e as restantes a combatentes estrangeiros que apoiam a resistência.

Escândalo em Londres

Entretanto, no mesmo dia em que o Tony Blair visitava as tropas inglesas no Iraque, o jornal inglês «The Independent» revelava que, em Setembro de 2003, soldados britânicos mataram à pancada um prisioneiro iraquiano no Sul do país. Segundo o diário, que teve acesso ao relatório médico sobre o caso, os militares agrediram violentamente oito jovens iraquianos aprisionados em Basra, e um deles ficou tão ferido que acabou por morrer.
Também a Amnistia Internacional manifestou a sua indignação pela morte do jovem Baha Mousa - um recepcionista de hotel cujo «crime» parece ter sido o facto de ser filho de um coronel da polícia iraquiana -, e exigiu uma investigação independente à alegada tortura dos prisioneiros iraquianos.
De acordo com o «Independent», militares britânicos ofereceram à família de Baha Mousa o equivalente a 8000 dólares, como compensação, se eles confirmassem a versão de que os soldados não tinham sido responsáveis pela morte do jovem. Ainda segundo o diário, a proposta foi rejeitada e a família da vítima pretende levar o caso a tribunal. O Ministério de Defesa britânico abriu uma investigação sobre o ocorrido, mas o «Independent» afirma que os soldados envolvidos, que chegaram a ser detidos, já estão em liberdade.

Pioneiros do século XXI

Na visita surpresa a Basra, o primeiro-ministro, Tony Blair, afirmou aos cerca de 10 000 soldados do Reino Unido que eles «são os novos pioneiros do serviço militar do século 21», em luta contra o terrorismo, as armas de destruição maciça e os regimes brutais.
Afirmando que a segurança mundial foi abalada pelo «vírus do extremismo islâmico» e agitando o fantasma dos «estados brutais e repressivos que estão a desenvolver armas que podem causar ampla destruição», Blair reafirmou que o objectivo da ocupação é «ajudar o Iraque a tornar-se um país estável, próspero e democrático que será governado pelos iraquianos sob o controle e a soberania dos iraquianos».


Mais artigos de: Internacional

Cuba socialista resiste e avança

O Teatro Karl Marx foi pequeno para acolher as 5 mil pessoas que, no sábado, marcaram presença na cerimónia comemorativa dos 45 anos da Revolução Cubana.

«Santa aliança» contra Chávez

Tanto os EUA como a Igreja Católica venezuelana estão preocupados com a «revolução bolivariana» e alertam para os «riscos» da amizade com Cuba.

EUA abençoam constituição

Após três semanas de acesa discussão em torno dos moldes e conteúdos do novo texto constitucional afegão, os mais de quinhentos delegados da Loya Jirga, nome pelo qual é conhecida a Assembleia Nacional (AN) do país, aprovaram a versão final do documento.O presidente daquela estrutura provisória, Sibghatullah Mujaddedi,...

Dirigentes muçulmanos em França apelam à calma

Em vésperas do debate do projecto de lei sobre os símbolos religiosos nas instituições públicas, o Conselho Francês do Culto Muçulmano (CFCM), reunido segunda-feira na Mesquita de Paris, pediu «calma» e «serenidade» aos muçulmanos.O projecto de lei sobre a laicidade nos locais públicos, que proíbe nomeadamente o uso do...

Vitória do presidente anunciado

Mikhail Saakachvilli venceu, domingo, as eleições presidenciais antecipadas na Geórgia com uma votação a rondar os 85 por cento, deixando a larga distância os outros quatro candidatos que se apresentaram às urnas.O homem que surgiu como primeira figura da chamada «revolução rosa», que há cerca de seis semanas levou à...

Tribunal invalida congresso da FNL

O Tribunal de Argel invalidou o VIII congresso da Frente de Libertação Nacional, (FNL, com maioria no parlamento) e congelou os bens do partido.Esta decisão, tomada no final de 2003, resulta de uma queixa apresentada por um grupo de dissidentes da FNL, denominado «Movimento de Renovadores», e traduz-se no congelamento...

Coreia do Norte teme agressão dos EUA

A Coreia do Norte acusa os Estados Unidos de pretenderem uma «solução militar» para o conflito com a península coreana, a exemplo do que fizeram em relação ao Iraque e ao Afeganistão. Um comentário recentemente publicado no jornal «Minju Jason», citado pela Prensa Latina, acusa Washington de jogo duplo ao falar muito de...

Estado de emergência continua

A pedido do presidente do Sudão, Omar al-Bashir, o parlamento sudanês aprovou, no final de Dezembro, o prolongamento do estado de emergência no país por mais um ano. A decisão, tomada com 213 votos a favor, dois contra e duas abstenções, baseia-se na alegada insegurança que persiste em algumas regiões e na ausência de um...