Pedacinho do mundo novo que havemos de construir
A Festa de 2025 já tem data: 5, 6 e 7 de Setembro
Em 2023, todos nos lembramos, a Festa do Avante! evocou os 50 anos da Revolução de Abril (que seriam celebrados em todo o País, meses depois, em enormes e entusiasmantes acções de massas): no concerto de sexta-feira, nas intervenções políticas e nos debates, na exposição do Espaço Central e na decoração de muitos pavilhões, Abril esteve «em cada canto, em cada gesto», como então escrevemos.
Este ano, precisamente aquele que marca meio século desse acontecimento maior da História nacional, Abril voltou a ser o fio condutor de toda a Festa, não fosse ela própria uma conquista de Abril e não fossem comuns os seus valores: a alegria, a cultura, a fraternidade, a solidariedade, o trabalho criador, a paz. Isso mesmo salientou o Secretário-Geral do Partido, Paulo Raimundo, na «volta» que deu ao recinto pouco depois da abertura das portas. Saudou os construtores da Festa e os que a mantêm a funcionar, sublinhou causas e lutas em curso, salientou a determinação e a coragem dos comunistas e seus aliados, que cumprem as tarefas relacionadas com a Festa com o empenho e criatividade com que se lançam à construção de um País e de um mundo mais justos.
Sim, é de Abril que falamos quando o assunto é a solidariedade com os povos do mundo – e sobretudo com o povo heróico da Palestina, que por estes dias resiste ao genocídio e à barbárie. E que com a sua coragem – e a nossa solidariedade – vencerá!
É de Abril que falamos quando se evoca os 100 anos de Carlos Paredes, músico exímio, dedicado militante comunista e construtor da democracia cultural. Ou de Amílcar Cabral, destacado dirigente anticolonialista, cujo legado permanece vivo nos combates de hoje pela emancipação dos povos africanos. E mesmo Luís de Camões, cujo 5.º centenário se assinalou na Festa (em debates, sessões e poemas espalhados pelo recinto), tem a ver com Abril, pois a sua obra – avançada para o seu tempo – é do povo e não dos sectores reaccionários que dela indevidamente se querem apropriar.
Abril é também sinónimo de cultura popular, que teve na presença da Festa dos Tabuleiros de Tomar uma expressão do carácter mais genuíno das tradições culturais do País.
E o que não é senão Abril a presença na Festa do Avante! de Celeste Caeiro, a mulher que na manhã de 25 de Abril de 1974 distribuiu cravos pelos soldados, que os colocaram nos canos das espingardas? No sábado de manhã, Paulo Raimundo encontrou-se com ela e lembrou que já a tinha conhecido, há muitos anos: «Eu ainda não era Secretário-Geral do PCP, mas tu já eras a Celeste». E a Celeste podia ter dado os cravos e não ser comunista, mas é.
Conquistas de Abril, direitos do povo
A principal exposição política do Espaço Central foi dedicada aos serviços públicos e funções sociais do Estado, eles próprios «conquistas de Abril e direitos do povo», ameaçados pela gula do capital e pela política dos governos que o servem.
Em cada um dos blocos que compunham a exposição, correspondentes a cada um dos direitos em causa (saúde, educação, segurança social, transportes e mobilidade, criação e fruição culturais, desporto, habitação e, num local destacado, os serviços públicos a pensar nas crianças), ilustrava-se com factos e números a acção destruidora de sucessivos governos, apostados em transformar direitos de todos em negócios para uns poucos: na Saúde, por exemplo, o SNS «gasta quase 2 mil milhões de euros na compra de exames, análises e tratamentos ao sector privado, valor que aumentou 30% nos últimos 10 anos»; na Educação, o ano lectivo anterior terminou com 40 mil alunos sem professor a pelo menos uma disciplina; na ferrovia, o encerramento de linhas (2527 quilómetros em 2022 face aos 3607 de 1985) e a diminuição do número de trabalhadores; na habitação, transformada pela especulação cada vez mais num privilégio ao alcance de poucos…
Mas como não podia deixar de ser, ou não fosse a Festa do Avante! organizada pelo PCP, por ali não passou qualquer tipo de desânimo ou inevitabilidade. Na exposição, como na acção diária, apontava-se um caminho alternativo – inscrito aliás na Constituição da República Portuguesa – de reforço dos serviços públicos e do alargamento da sua universalidade. A luta dos trabalhadores e das populações é, uma vez mais, o caminho para o concretizar.
No centro, convidava-se o visitante a responder numa de duas ardósias à questão «Que direitos para ser feliz?». E foram muitos os que o fizeram, sobretudo crianças: «direito à saúde», «habitação digna», paz «na Palestina» e «no mundo», «educação para todos» e (também lá estava) «não haver TPC».
A alegria como um direito
Ainda as portas da Festa não se tinham aberto e eram já centenas, milhares, os que esperavam pelas 18h00. Sem desespero nem irritação. Pelo contrário: para eles a Festa já começara…
Abertas as portas, foram rios de gente que desaguaram nesse imenso mar que é a Festa do Avante! – explorando cada recanto, buscando novidades, dirigindo-se a encontros já marcados, procurando uma sombra ou um local para jantar. Cada um vive a Festa como quer, acrescentando-lhe singularidade e características próprias a esta enorme iniciativa, que sendo sempre bela e livre, faz-se todos os anos de novos ingredientes.
Nas páginas seguintes procuramos mostrar como foi a Festa, tarefa árdua e sobretudo ingrata, pois ela fez-se – e faz-se – de tantos momentos e de tantas vidas que não é possível captá-la na sua totalidade. Adaptemos então as expectativas: que quem leia este jornal fique a saber de muito que não conseguiu ver na Festa ou, quem não esteve lá, fique com uma imensa vontade de não falhar no próximo ano. Se assim for, teremos cumprido a nossa tarefa.