Auditório 1.º de Maio

Viagem pelas músicas do mundo

O Auditório 1.º de Maio abriu, na sexta-feira, com um jovem (e talentosíssimo) grupo de jazz vindo do Porto, os Onoma, que deslumbrou a plateia com a qualidade das suas composições. Depois, os Silk Nobre trouxeram os ritmos africanos, cuja exuberância ritmada contagiou os corpos, enquanto as suas letras abordavam questões como o racismo e a exploração dos imigrantes africanos. Nancy Vieira ofereceu a sua maravilhosa voz aos sons de Cabo Verde, em diálogo com outras sonoridades e com os seus dois convidados, Remna e Anna Setton. Na extraordinária actuação desta cantora, nascida na Guiné-Bissau, houve espaço para um tema emotivo, de homenagem a Amílcar Cabral. A noite acabou com o prodigioso Krissy Mathews, um jovem mas «velho» amigo da Festa (por onde passou há cerca de 15 anos). Apoiado pelas cantoras Kim Jennett e Marlia Rae, brindou o público com um rock rebelde a remeter para o espírito original deste género.

Sábado começou deixando evidente o cunho eclético da Festa e, particularmente, do Auditório 1.º de Maio, com a actuação do Grupo Artístico da Província de Hubei (China), que fundiu música folclórica, dança e ópera, com muito movimento e muita cor. A viagem seguinte levou o público até ao outro lado do planeta, com o bluegrass dos Level Best: bandolim, banjo, violino e guitarra, não faltando o uso ocasional mas sempre certeiro do «slide», e apenas um microfone no centro do palco.

Sebastião Antunes & Quadrilha é festa dentro da Festa, com um concerto pleno de cumplicidade e alegria, que abarrotou todo o espaço em redor do palco. «Cantiga da Burra» foi início e fim do concerto com resposta pronta de movimento e vozes. «Não dêem cabo do Mundo» teve direito a pertinente dedicatória… à NATO.

Depois foi a vez de «Sons de Guitarra para Carlos Paredes», de Luísa Amaro que, acompanhada ao saxofone baixo por Gonçalo Lopes e com a participação de Mafalda Lemos, uma jovem talentosa da guitarra de Coimbra, presenteou-nos com uma bonita homenagem ao grande mestre e camarada Carlos Paredes, que habita indelevelmente na memória dos que o conheceram e ouviram.

Com o sol a desaparecer na copa das árvores, entrou Ana Lua Caiano, jovem artista que trouxe um espectáculo de fusão intenso, com instrumentos de percussão tradicionais da música portuguesa e sons electrónicos, acompanhados pela sua voz cristalina.

A dupla Tcheka & Mário Laginha levou-nos para os caminhos de encontro do jazz com a tradição musical africana, com a voz e a guitarra do músico cabo-verdiano a dialogarem com o piano de Laginha. A seguir, The Cinelli Brothers, um grupo de quatro elementos profundamente marcado pela influência dos blues, soul e pela sonoridade primordial do rock, animou a plateia com muito ritmo e energia.

Bruno Pernadas e a sua banda, como vem sendo hábito, apresentou um set versátil, cruzando vários estilos e influências, interpretados por um lote de músicos dotados e empenhados. A fechar a noite, a alegria contagiante da dança explodiu na Rave Avante com os ritmos dos DJ Violet, Oseias e Saya, esta última de origem palestiniana, nascida em Santiago de Compostela.

Energia contagiante e inesgotável foi o que ofereceram desde o primeiro minuto em que os Throes + The Shine, que abriram a programação de domingo. O Kuduro aliado à sonoridade electrónica como que «aspirou» gente de todo o lado, enchendo aquele espaço. Plena pertinência, no ano em que se celebram 50 anos da Revolução de Abril, em ter o projecto Zeca Sempre naquele palco. O vasto e extraordinário repertório de José Afonso foi ali celebrado por Olavo Bilac, Nuno Guerreiro e Tozé Santos, com roupagens que foram do rock a várias inspirações africanas.

Ainda antes do comício, Hélder Moutinho e Ricardo Parreira apresentaram o espectáculo «Freedom», que comemora os 50 anos do 25 de Abril enfatizando a relação do fado com a canção de protesto, onde houve espaço para evocar Ary dos Santos e Chico Buarque.

Lina_ apresentou-nos o seu último álbum, «Fado Camões», onde, como o nome indica, a poesia camoniana é abordada na perspectiva daquela tradição musical, com muita sensibilidade. A voz extraordinária de Cristina Branco, acompanhada pelos seus talentosos parceiros Bernardo Couto, Luís Figueiredo e Bernardo Moreira, fechou a última noite da Festa, deixando-nos envoltos num abraço emotivo para o regresso a casa.

 



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