Na Festa, as crianças podem e são felizes

A Festa do Avante! e o local onde todos os anos se realiza são especiais para as crianças. Desde logo pela fraternidade e solidariedade que ali não são palavras vãs. Serve de exemplo a forma fácil como os mais pequenos compreendem, assimilam e vivem a palavra camarada. E bastaria isto para sublinhar o seu carácter singular. Mas vale a pena referir que o próprio espaço é um enorme terreiro de brincadeira, muito para lá do Espaço Criança.

O baloiço instalado abaixo da Esplanada da Quinta permite «voar sobre a Atalaia»; os lagos que ficam a meio caminho entre a Cidade Internacional e o Palco 25 de Abril, são local de banhos infantis; os amplos espaços verdes em todo o recinto transformam-se em campo aberto a brincadeiras e jogos. A roda gigante e o carrossel são atracções impossíveis de ignorar.

Tudo isto bastaria, insista-se. Mas há ainda um retalho próprio, o Espaço Criança, e uma programação que lhes é dedicada que o extravasa amplamente. Nessa redescoberta, repetida desde a primeira infância, acompanhámos Rita, de 11 anos, e Álvaro, de 8. Difícil foi aguentar o ritmo destes aventureiros inesgotáveis.

Tudo começou assim que abriu a Festa. Ponto obrigatório e quase sempre o primeiro: o insuflável. Como noutros equipamentos e actividades, ao longo de três dias, lá estavam jovens voluntários inexcedíveis na paciência, sabedores da tarefa de cuidar e entreter. O insuflável é que ainda estava a encher. Rita e Álvaro lá voltariam muitas vezes.

Foram por isso sem desilusão para o parque que é o centro do Espaço Criança. Este ano, o baloiço rotundo capaz de albergar uma trupe foi a estrela da festa. Ganhou por pouco à rampa sobe e desce e aos silos, trepados vezes sem conta por ambos e com amigos que se lhes foram juntando. Ali ao lado decorriam o Jogo dos Direitos e a Modelagem de Balões. Ficam para outra oportunidade.

Sábado, manhã cedo para não perder pitada, lá estávamos de novo. Do pequeno-almoço não falamos, não venham os fascistas de turno acusar-nos de horrores comilões... Assim, digamos que primeiro o apetite se abriu para as pinturas faciais, escolheu a Rita, depois para o atelier das pombas da paz, que o Álvaro decidiu em vez daquele dedicado a amuletos da natureza. Ambos se repetiram no domingo.

Feitas e coloridas as pombas da paz, sentaram-se a retemperar forças enquanto decorria o Yoga do Riso, actividade igualmente repetente no domingo.

Do sistema de som anunciaram o atelier de stop motion, dinamizado pela Monstrinha, cujas curtas infantis voltaram a encher, sábado e domingo de manhã, a sala de cinema instalada junto ao lago. Mas no Avanteatro ia começar a encenação de O Pequeno Livro dos Medos, e esse era um compromisso antecipado que não queríamos deixar para domingo.

Fechadas as cortinas do palco, assentámos na esplanada junto à Organização Regional de Lisboa, onde desfrutámos da sessão musical para famílias: oh Bella Ciao, Bella Ciao, Bella Ciao, Ciao, Ciao. Acto contínuo [respira fundo], seguimos para o Teatro de Robertos À Espera do Toiro, isto antes de apreciar a oficina de iniciação à gaita de foles, que não pediu para entrar em cena a poucos metros de distância.

O sol já ia alto quando o apelo da fome se impôs. Decidimos rumar ao outro lado da Festa e do mundo. «Vamos almoçar à China», concordámos, deixando para a tarde de sábado e o dia de domingo oficinas várias – da tecnologia à matemática; histórias contadas e encenadas; canções cantadas colectivamente; jogos de água, um peddy paper e um debate.

Rumámos Quinta da Atalaia acima, mas munidos do mapa da Festa e apostados em contar «quantos minutos levamos do Espaço Criança à nossa bandeira», que pontifica cimeira no terreno. Cerca de cinco minutos, cronometrámos sem grande rigor mas com comovente diversão. Afinal, mais importante, esta última.

Tanto mais que se expressava no Espaço de Setúbal, por onde passámos antes do «chop-chop», e no qual havia igualmente um local e uma programação para as crianças – na sexta, sábado e domingo, feita de oficinas musicais, de dança e artes circenses, de construção de instrumentos e brinquedos; jogos, pinturas e brincadeiras. Lá começaremos para o ano, prometemos.

Como disse Álvaro Cunhal: «que ninguém tenha vergonha de ser feliz». E na Festa, as crianças [e já agora os adultos] têm todas as condições para sê-lo.



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