Sons de solidariedade e resistência

Foi muita, incrível e diversificada a música que se ouviu no Palco 25 de Abril e o conteúdo político que lá se afirmou e se fez ouvir – intenso, ousado e justo – não lhe ficou atrás.

Logo na sexta-feira, a amplitude dos géneros musicais foi comprovada: ao já tradicional concerto sinfónico seguiu-se uma estreia na Festa – a Rave Surpresa – que, do topo de um palco ambulante, animou um largo público.

No sábado, foram os Rosa Sparks a abrir, trazendo uma sonoridade pesada, que se entremeou entre o rock e o punk, sem nunca deixar de fora uma postura interventiva. Seguiu-se Valete mas o tom combativo manteve-se, desde logo com a música Subúrbios: «Cinco da matina/ Já todos caminham para o mesmo enredo/ Porque nos subúrbios/ O sol levanta sempre mais cedo.»

Garotos Podres trouxeram do Brasil versões punk de temas como Avante, Camarada ou A Internacional. Transformaram a Grândola Vila Morena numa música de todos os povos e afirmaram, sem pudor, o seu posicionamento: «Esta é a Festa mais importante do mundo, porque aqui os trabalhadores representam resistência».

Os membros do grupo de hip-hop Los Chikos del Maíz, de Espanha, também não esconderam ao que vinham ao entrarem em palco com t-shirts alusivas a Vasco Gonçalves e à Palestina, ao som de uma declaração de Hugo Chávez condenando o Estado de Israel.

Já ao cair da noite, foi a brasileira Bia Ferreira que voltou a trazer a Palestina para o centro das atenções. Num concerto efusivo dedicado a Cláudia Simões, em que participaram Eva Rap Diva e Dino D’Santiago, um cravo foi sendo pintado ao vivo pela artista Mázinha.

Sérgio Godinho e Capicua deram um concerto com sabor a Abril, com tons de rebeldia e esperança que não podiam faltar nos 50 anos da Revolução, com promessas de paz, pão, habitação, saúde e educação para acabar com os vampiros.

The Legendary Tigerman continua a revelar toda a sua criatividade e a confirmar-se como uma das referências do rock nacional. Embalou mais uma vez a esperança dos que acreditam que os seus cruzamentos entre estilos musicais ainda vão dar muitas vidas ao rock n’ roll.

Com A Mulher é uma Arma!, Ana Bacalhau, Kátia Guerreiro, Luanda Kozetti, Rita Redshoes, Sofia Escobar e Maria João trouxeram interpretações mais intimistas dos clássicos da música de intervenção portuguesa, oferecendo assim à Revolução dos Cravos o seu devido destaque.

Vencedores do concurso de bandas da JCP, os The Orange Buzz Band abriram o palco, no domingo, com sons vibrantes, velozes e provocadores de um rock que se estende criativamente desde os anos 60 e 70 até hoje.

Os Cara de Espelho confirmaram o que os seus sucessos discográficos prometeram: acutilância, aspereza e ironia contra a desordem instituída, o preconceito e a injustiça. Mitó anunciou que iria assistir ao comício do PCP, lado a lado com «bandeiras vermelhas que já ali vêm».

Terminado o comício, foi a vez da chilena Ana Tijoux, que, entre as poderosas barras que lançou ao público, referiu a infeliz ligação que os portugueses têm aos chilenos: «Somos ambos filhos da ditadura», mas que, «em colectivo, é importante estarmos juntos» e por isso a «Festa é tão importante».

O Palco 25 de Abril encerrou de forma diferente: com um DJ Set de Branko que todos fez dançar freneticamente. O destaque foi para um dos melhores remixes da Carvalhesa que a Quinta da Atalaia já presenciou.



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