O papel universal da música na construção da paz
No Palco Paz, a canção foi mesmo uma arma durante os três (breves) dias da Festa do Avante!. Da música tradicional portuguesa ao rock, passando pelo folclore, opera e dança chinesa, e não esquecendo a solidariedade com a Palestina (ver pág. 33), este espaço atraiu milhares de pessoas durante os vários espectáulos realizados.
Na abertura, sexta-feira, o rock esteve em destaque. A banda de Portimão DIVIИE foi a primeira a entrar em palco. Apostou em três músicas originais para abertura do concerto e ganhou a atenção das já muitas pessoas que aguardavam a banda e dos que, entretanto, se juntaram no espaço paz.
Pela via do habitual Concurso Novos Valores, organizado pela JCP, Epilepsia Alienígena deu continuidade ao rock e não deixou arrefecer o entusiasmo. «Bom dia, bom dia, nós somos os Epilepsia!» foi a introdução para os momentos de rock psicodélico que se seguiram.
A Salto à Rua tomou conta do palco no final do primeiro dia. Aqui, ganhou destaque a música tradicional. Ao ritmo da gaita-de-foles, caixa e bombo, a plateia foi tomada de assalto e o grupo prendeu as atenções com uma coreografia que parecia ter sido ensaiada anteriormente com o público.
Sábado à tarde a animação voltou com intensidade, pelo Rancho Folclórico da Casa do Povo do Tramagal, que interpretou dois fandangos, junto ao público, com rigor e descrição do pormenor dos seus trajes tradicionais. Uma actuação que soube a pouco, mas que pôde continuar a ser apreciada a seguir no percurso que fizeram por várias locais do recinto da Festa.
O cante alentejano, com o Grupo Coral Minas de São Domingos, trouxe a dureza do trabalho mineiro a que ligou a beleza da natureza com o florir das rosas, numa actuação pontuada pela presença do almocreve que de terra em terra ajudava a matar a fome e onde foi saliente, a finalizar, a moda dos mineiros, com versos como «trago a camisa rota com sangue de um camarada», num conjunto de vivências que o Cante impele para a luta por justiça e que a voz colectiva transforma em arte.
A seguir, os Gaiteiros de Bravães, Ponte da Barca, apresentaram modas minhotas convidando o público a dançar o vira e a chula ao ritmo dos bombos e das gaitas de foles.
Após o momento de solidariedade com a Palestina, subiu ao palco a Orquestra de Foles, que trouxe amigos para cantar. A intensidade da percussão e das gaitas de foles arrebatou o público que dançou e cantou com intensidade. Mais questões sociais em temas populares que foram trazidos pelo grupo O Homem Nú, que é um projecto musical de originais que se situa algures entre o desconforto, a família e a portugalidade e que teve grande aplauso. Aguardados pelo público, o grupo Urze de Lume, com Manuel Morgado, percussionista convidado, trouxe música inspirada na tradição ibérica, utilizando instrumentos tradicionais que convidaram o público a dançar. Homenageando o passado, celebraram as raízes que identificam um povo e o ligam à sua terra.
Dj Catadiscos encerrou a noite e apresentou a nova música tradicional portuguesa, entre valsas, fandangos e fados batidos.
No primeiro espectáculo de domingo, a viagem foi até à China. O Grupo Artístico da Província de Hubei ofereceu música tradicional e folclórica de raízes orientais que agradou e surpreendeu o público de todas as idades. Nem mesmo o forte calor do meio-dia no Palco Paz foi entrave a uma «casa cheia» atraída pela música folclórica, ópera e dança.
Dando seguimento à diversidade habitual neste espaço, o Projeto com Voz celebrou o rock/pop português. Este coro sénior contagiou e conquistou o público, cumprindo a promessa feita na divulgação da Festa. Uma actuação que contou com interpretação em Língua Gestual Portuguesa.
Por falar em conquista, o que dizer do Grupo Coral Feminino da Granja – Flores de Abril? Se nasceu da comemoração da Revolução de Abril, o Palco Paz foi a casa perfeita para as canções com história revolucionária.
De regresso à via do Concurso Novos Valores, o palco assistiu ao derrubar de barreiras de vários géneros musicais, como o rock, música tradicional, jazz. Falamos da actuação de Hugo Costa e Banda do Vento, que deixou quem assistia ao concerto rendido às músicas do disco «Isto é o Vento».
Antes do comício, foi a vez da cantora Valu provar que a música portuguesa é sempre bem acolhida por todas as faixas etárias. E foi com «O que faz falta», de Zeca Afonso, que encerrou a actuação, avisando a malta para o momento mais político que estava a começar no Palco 25 de Abril.
No fim de tarde de domingo, o grupo Espiral levou ao imaginário celta com músicas tradicionais da Irlanda, Galiza e outros países, com grande aplauso do público que dançou com entusiasmo. O G-Combo, composto por instrumentistas internacionais, encerrou a noite com um misto de músicas de Cuba, Colômbia, Jamaica e Espanha. Encheu o recinto e reafirmou que a música tem um papel importante e universal na luta pela paz.