Dar mais força à CDU é combater a política de direita que nega Abril
«Aqui nos juntamos para falar de democracia, de liberdade e de cultura, três elementos inseparáveis de Abril» – afirmou Paulo Raimundo, dia 29, numa sessão sobre valores e pilares fundamentais da Revolução, os quais se encontram ameaçados.
A única força que pode garantir a mudança é a CDU
A iniciativa encheu por completo o maior salão da Casa do Alentejo, em Lisboa. Correspondendo ao que ali levou tanto povo de Abril, o Secretário-Geral do PCP e primeiro candidato da CDU ao círculo eleitoral de Lisboa, foi directo ao assunto, referindo que o «projecto de Abril se reflecte nas nossas propostas e no nosso programa, vive na forma como olhamos a vida».
Nesse sentido, salientou que «dar força à CDU é criar condições para a vida de cada um avançar. Mas é, também, dar força a esse projecto de esperança que a Revolução de Abril abriu. É retomar o que significou de direitos, o que provou de possibilidade, de progresso e vida melhor em todos os domínios da nossa vida colectiva».
O dirigente comunista exemplificou com realizações que, pesem todos os ataques, perduram, casos do «direito à Saúde e à Educação e a valorização dos trabalhadores». Mas não deixou de lembrar conquistas recentes, só possíveis pela determinação e iniciativa de quem, como o PCP, tem em Abril inspiração para fazer a diferença, como sejam avanços e progressos «nos salários, nas pensões, na gratuitidade dos manuais escolares e nas creches, na redução dos passes dos transportes públicos, no acesso gratuito aos museus».
Mais força
Mas «dar mais força à CDU é, ainda, dar combate à política de direita que todos os dias nega Abril». Na Cultura, por exemplo, impondo a sua mercantilização, prosseguiu Paulo Raimundo, para quem «Abril não é restrição à liberdade cultural e estrangulamento de tantas e tantas estruturas culturais e o agravamento da situação dos seus trabalhadores e profissionais»; não é confinamento «às regras do mercado capitalista que limita as suas opções temáticas e estéticas»; não é «alienação dos pobres e uma cultura a que só os ricos têm acesso».
«Abril é o Estado assumir a Cultura como aquilo que é: serviço público, elemento central de responsabilização pública pelo desenvolvimento, democratização e liberdade cultural. Abril é 1% do OE para a cultura a caminho de 1% do PIB», reafirmou-
«Da direita, de toda ela – do PSD ao Chega, do CDS à IL, esperamos um Abril despido da sua dimensão transformadora e progressista, tolerado a custo por uma certa direita, rejeitado por outra que o quer ver vencido; democracia estritamente formal, longe da participação criadora das massas» e «liberdade reduzida ao individualismo extremo; o “salve-se quem puder”, a exploração, injustiça e desigualdade.
«Desses só esperamos a cultura amputada da sua dimensão democrática, elitizada e exclusiva», advertiu, em seguida, o cabeça-de-lista à Assembleia da República por Lisboa, antes de garantir que «a CDU não faltará ao que é preciso fazer pela democracia, pela liberdade e pela cultura. Não faltará para retomar Abril, cumprir e realizar as perspectivas de progresso que abriu».
Por isso, Paulo Raimundo deixou claro que «não é prosseguindo as políticas que abrem caminho às forças contra-revolucionárias, que se lhes faz frente. Bem pelo contrário, a única força que, consequentemente, combate a direita e pode garantir a mudança, é a CDU».
Tempo de agir
Antes de Paulo Raimundo, a escritora Ana Margarida de Carvalho também deixou apelos à mobilização em defesa da Cultura e de um serviço público que a concretize, sem submissão à lógica do lucro, acusando a direita de temer a Cultura porque esta «subverte e questiona». Manifestou ainda o desejo de que «Março não mate Abril».
Igualmente chamado ao púlpito pela atriz Carmen Santos, que apresentou a sessão, o historiador José Neves clarificou razões por que vai votar CDU no próximo dia 10 de Março. Entre as quais a «autonomia estratégica» e a «combinação entre negociação e exigência», demonstradas quer quando contribui para o afastamento do governo PSD/CDS, em 2015, e para os avanços posteriores alcançados, quer quando se recusou, em 2021, caucionar uma «lógica orçamental que era incapaz de responder às necessidades sociais da população em áreas fundamentais». Algo que considera fazer falta hoje.
Falta faz, por outro lado, dizer que «dantes não era melhor, bem pelo contrário: dantes era muito pior», disse, à sua vez, o catedrático António Sampaio da Nóvoa, para quem estar ali na sessão da CDU foi «um prazer e uma obrigação cívica». Tanto mais realçadas quanto, na «encruzilhada em que nos encontramos», é necessário concretizar «velhos direitos», como «a paz, o pão, a habitação, a saúde, a educação», e outros que os tempos reclamam, bem como de «uma cultura e de uma política que sejam mais do que livres, que sejam libertadoras», insistiu Sampaio da Nóvoa.
Preocupações trouxe, também, o segundo candidato da CDU pelo Círculo de Lisboa, António Filipe, que lembrou que «o ambiente político que vivemos» está «marcado pelo descontentamento devido à falta de resolução de graves problemas sociais e pelo aparecimento de um discurso de afronta aos valores democráticos, baseado na mentira, na intolerância e na racionalidade». Mas trouxe também esperança e combate, referindo que «nas antípodas de uma direita retrógada, obscurantista e profundamente reaccionária, existem capacidades para afirmar os valores da liberdade e da democracia», defender os direitos democráticos e promover transformações sociais de sentido progressista.