«Os problemas que o País enfrenta estão muito para lá da crise política»
A falta de médicos, enfermeiros e outros profissionais, as dificuldades de acesso a cuidados de saúde, não desapareceram porque o primeiro-ministro e o Governo estão demissionários, lembrou Paulo Raimundo, sexta-feira, 10, em Loures.
«É preciso dizer que o garante da defesa do SNS é o reforço do PCP e da CDU»
O Secretário-Geral do PCP deslocou-se ao Centro de Saúde de Loures para um encontro com utentes do Serviço Nacional de Saúde (SNS) e deixou o compromisso comunista de não abdicar da luta em defesa daquele.
A semana foi marcada pela demissão de António Costa e a convocação de eleições para 10 de Março. Paulo Raimundo sairia da iniciativa justamente para a conferência de imprensa sobre o tema (ver página 7), mas logo ali, junto daqueles que desesperam pelos cuidados de saúde públicos a que constitucionalmente têm direito, clarificou que os problemas que o País e o povo enfrentam «estão muito para lá da crise política» e residem «na política que está em curso».
O dirigente comunista sublinhou, por isso, que «a falta de médicos, enfermeiros e outros profissionais, de acesso a cuidados de saúde, está aí todos os dias e não ficou resolvida nem ontem, nem hoje, nem terça-feira». Frisou, ainda, que apesar de o Governo se encontrar demissionário, «enquanto lá está tem responsabilidades».
No entanto, «a primeira decisão que o Ministro da Saúde tomou foi desconvocar a reunião com os sindicatos [dos médicos], mostrando que esteve sempre a enrolar para nada resolver», acusou Paulo Raimundo, para quem «há dinheiro e há recursos. O problema é que este Governo pretende desmantelar o SNS e transferir para o privado a parte de leão do orçamento da Saúde».
A prová-lo, detalhou, estão os oito mil milhões de euros que o Governo prevê, no Orçamento do Estado para 2024, transferir para o negócio da doença».
Foi responsável
não garante solução
O Secretário-Geral do PCP puxou depois o «filme» atrás e lembrou que, há cerca de um ano e meio, o PS preferiu ir para eleições porque «negou toda e qualquer proposta nossa quanto ao SNS».
«Temos a certeza de que se as propostas que fizemos na altura tivessem avançado, a situação a que chegámos [no SNS] teria sido minimizada», tínhamos «evitado a perda de dois anos, e essa responsabilidade é exclusiva do PS, que quis ficar de mãos livres para entregar 6 mil milhões este ano e oito mil milhões para o ano ao negócio da doença», prosseguiu Paulo Raimundo, antes de deixar um compromisso e palavras de mobilização.
«Fica aqui o compromisso do PCP para com todos os que têm de cá vir de madrugada para arranjar a senha para marcar consulta; para com os que aqui passam horas à chuva e ao sol e se sentem frustrados por não ter acesso a cuidados de saúde; para com todos os profissionais – médicos, enfermeiros, técnicos e outros – que garantem o funcionamento do SNS; para com os utentes: não abdicarmos do SNS!»
«E agora que estamos à porta das eleições», continuou, «é preciso dizer que o garante da defesa do SNS é o reforço do PCP e da CDU». Com «a força dos utentes e das suas comissões, com a disponibilidade dos profissionais e a força que o povo vai dar ao PCP e à CDU, vamos mesmo salvar o SNS», concluiu.
Antes de Paulo Raimundo intervir numa iniciativa moderada por Tânia Mateus, usaram da palavra Henriqueta Sabino, em nome da Comissão de Utentes do Hospital Beatriz Ângelo, e Fernanda Santos, em nome do Movimento de Utentes dos Serviços Públicos, que denunciaram o agravamento da falta de médicos, o prolongamento dos tempos de espera para exames de diagnóstico e consultas e os permanentes encerramentos de serviços e valências naquela unidade hospitalar, os milhares de utentes sem médico de família no concelho e a degradação da assistência nas unidades de cuidados de saúde primários carentes de profissionais clínicos, tudo fruto do desinvestimento deste de dos Governos anteriores no SNS.