Caricaturas e (más) piadas

As últimas semanas foram férteis em presença do PCP no espaço mediático. Com a substituição do Secretário-geral e a realização da Conferência Nacional não seria de esperar outra coisa. Mas se estas atenções concentradas permitem dizer que, por alguns dias, o silenciamento deixou de ser marca de água do tratamento noticioso da acção e intervenção do PCP, quantitativamente falando, não se pode dizer o mesmo quando se olha para o conteúdo.

Olhe-se para as mistificações lançadas para o debate público em torno do processo de substituição do Secretário-geral do PCP, da tentativa de criar polémica em torno do processo de eleição aos vários vectores de ataque ao percurso de vida de Paulo Raimundo. A falta de democracia interna é já um clássico no comentário ao funcionamento do PCP.

Voltámos a ouvir os mesmos comentários sobre a ausência de uma aguerrida disputa entre figuras mais ou menos destacadas, cada um com a sua moção e equipa de dirigentes, numa espécie de pronto-a-vestir de lideranças partidárias, como é prática nos partidos da política de direita. É muito democrático, argumentam inúmeros comentadores, porque cada militante pode ser candidato e votar no líder que prefere, em processos tantas vezes marcados por moradas onde vivem 300 militantes, com quotas pagas por alguém por atacado.

Ao contrário, no PCP os militantes são construtores do Partido em todos os níveis, num processo amplamente democrático, nomeadamente participando na definição das orientações e linhas de intervenção. Mas percebe-se que quem ocupa os lugares-chave desconheça ou queira desconhecer isto, e a prova aí está no tratamento da Conferência Nacional. Do que lá se discutiu e decidiu, sobre tomar a iniciativa, reforçar o Partido e responder às novas exigências pouco (ou, em muitos casos, nada) foi objecto de tratamento atento por parte da comunicação social dominante.

Este mesmo olhar carregado de preconceito esteve presente no comentário e em abordagens editoriais sobre a origem de classe de Paulo Raimundo, o seu percurso de vida e a condição de funcionário do PCP. Num país em que as diversas elites cultivam um profundo preconceito de classe, houve um pouco de tudo: insinuações de que as notas biográficas disponibilizadas teriam sido «embelezadas» (desmentido rapidamente pelo confronto com a realidade) a acusações de desconhecimento e afastamento da realidade da sociedade portuguesa por ser funcionário do PCP. Mais uma vez se revelou, não apenas o preconceito, mas o desconhecimento de muitos que comentam a vida política nacional da intervenção do PCP e dos seus funcionários, que, integrados no colectivo partidário, têm um contacto muito próximo com a realidade do País.

Não sendo bastante, surgiu ainda uma nova abordagem em torno dos salários dos funcionários, procurando criar a narrativa da incoerência da prática com as propostas. Mais uma vez se demonstrou quem desconhece a realidade do País, em que metade dos trabalhadores ganham menos de mil euros e mais de dois milhões menos de 800. A caricatura pode dar matéria para piadas fáceis, mas os trabalhadores sabem quem está ao seu lado.

 



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