«O Serviço Nacional de Saúde está doente mas aqui vieram os remédios para curá-lo»

«Para o PCP, a Saúde não tem preço», afirmou Paulo Rai­mundo num en­contro com utentes e pro­fis­si­o­nais do SNS, no qual su­bli­nhou ainda que na sua luta e nas pro­postas do Par­tido se en­contra a sal­vação do sis­tema pú­blico.

Exige-se me­didas con­cretas e op­ções po­lí­ticas co­ra­josas

O Se­cre­tário-geral co­mu­nista in­ter­veio no en­cer­ra­mento de um en­contro com mem­bros de co­mis­sões de utentes e pro­fis­si­o­nais do Ser­viço Na­ci­onal de Saúde, an­te­ontem, ao início da tarde, no Bar­reiro.

A ini­ci­a­tiva tinha como mote «Salvar o SNS – Pri­va­tizar não é so­lução». E foi jus­ta­mente da pla­teia re­pleta que vi­eram os pri­meiros tes­te­mu­nhos que cor­ro­bo­raram a ur­gência de res­gatar o sis­tema pú­blico da de­gra­dação, re­sul­tado da per­sis­tente ofen­siva a que tem sido su­jeito por parte de su­ces­sivos go­vernos.

Os re­latos dos mem­bros de co­mis­sões de utentes da saúde e dos ser­viços pú­blicos, bem como de pro­fis­si­o­nais do SNS, foram im­pres­sivos: pelo con­teúdo que re­tra­taram – o quo­ti­diano cho­cante de mi­lhares de por­tu­gueses que de­ses­peram por «quem os acuda na en­fer­mi­dade», como foi su­bli­nhado –, mas também pelo que re­velam de co­nhe­ci­mento de causa, de con­tacto per­ma­nente com a re­a­li­dade, nela in­ter­vindo.

Não por acaso Paulo Rai­mundo deixou pa­la­vras de va­lo­ri­zação da acção rei­vin­di­ca­tiva de utentes e pro­fis­si­o­nais, ape­lando, além do mais, a que «se unam na luta pelos seus di­reitos e que (...) pro­curem alargar a sua in­fluência, con­vencer fa­mi­li­ares, amigos, vi­zi­nhos, co­nhe­cidos».

Com efeito, é im­pos­sível ficar in­di­fe­rente quando no Centro Hos­pi­talar do Bar­reiro-Mon­tijo, que serve cerca de 250 mil utentes de quatro con­ce­lhos (Bar­reiro, Moita, Mon­tijo e Al­co­chete), são en­cer­radas va­lên­cias e es­pe­ci­a­li­dades e ou­tras fun­ci­onam com cada vez mais di­fi­cul­dade; quando as ur­gên­cias so­bre­lo­tadas são o der­ra­deiro re­curso para quem não en­contra res­posta nos cen­tros de saúde e, lá che­gados, tem ainda de pagar es­ta­ci­o­na­mento en­quanto es­pera horas sem fim por aten­di­mento, como de­nun­ciou An­to­nieta For­tu­nato.

Aliás, entre ou­tros as­pectos, as ca­rên­cias que se ar­rastam e são cres­centes nos cui­dados de saúde pri­má­rios – da falta de ins­ta­la­ções ou da sua de­sa­de­quação à pres­tação de cui­dados, à falta de ma­te­rial e equi­pa­mentos; da falta de mé­dicos e en­fer­meiros de fa­mília, téc­nicos, au­xi­li­ares e ad­mi­nis­tra­tivos, cujos re­sul­tados são de­zenas de mi­lhares de utentes sem clí­nicos atri­buídos e uma sobre-pressão das ur­gên­cias hos­pi­ta­lares –, foram igual­mente de­nun­ci­adas por José Ma­nuel Fer­nandes, da Baixa da Ba­nheira, Luísa Ramos, de Al­mada, Jés­sica Pe­reira, do Bar­reiro, Fer­nanda Ven­tura, que apre­sentou a sessão, Rosa Maria, de Se­túbal, La­meiras, da Quinta do Conde.

Fi­lo­mena Vi­to­rino, au­xi­liar de acção mé­dica no Bar­reiro, e Ale­xandra Sil­vestre, en­fer­meira numa uni­dade do mesmo con­celho, trou­xeram, por seu lado, tes­te­mu­nhos que deram conta do dia-a-dia da­queles que se sentem exaustos pelas muitas horas a mais que cum­prem para su­prir a falta de pes­soal, ma­go­ados pela des­va­lo­ri­zados das car­reiras e sa­lá­rios.

Assim, não!

De resto, a en­cerrar a ini­ci­a­tiva, o Se­cre­tário-geral do PCP co­meçou logo por su­bli­nhar o papel im­pres­cin­dível e ab­ne­gado que, apesar de tudo, de­sem­pe­nham «en­fer­meiros, mé­dicos, pes­soal au­xi­liar», os quais, «apesar de tudo, fazem do SNS um ins­tru­mento va­lioso, in­subs­ti­tuível, que é pre­ciso de­fender, va­lo­rizar, re­forçar e em que é ne­ces­sário in­vestir para que se cumpra ver­da­dei­ra­mente o di­reito cons­ti­tu­ci­onal à Saúde».

Co­meçou, por isso, por fazer uma per­gunta: «como seria o fun­ci­o­na­mento, o aco­lhi­mento, a ce­le­ri­dade, a ca­pa­ci­dade, a dis­po­ni­bi­li­dade, se os tra­ba­lha­dores e os pro­fis­si­o­nais fossem, como de­ve­riam ser, tra­tados com a dig­ni­dade que se exige, va­lo­ri­zados e re­co­nhe­cidos?».

Ora, pros­se­guiu Paulo Rai­mundo, «sa­bemos que as di­fi­cul­dades com que o SNS se con­fronta não serão re­sol­vidas todas num dia. Mas a questão que se le­vanta (...) é qual o ca­minho que se traça e quais as op­ções?».

Se­gu­ra­mente não é o ca­minho «de de­sin­ves­ti­mento, de de­gra­dação e en­cer­ra­mento dos ser­viços», nem o da sua pri­va­ti­zação, que, acusou, «mais uma vez o PS am­bi­ciona con­cre­tizar». Um filme já visto, aduziu, «que co­meça na con­tra­tu­a­li­zação da lim­peza, de­pois da se­gu­rança, (…) vai an­dando para as aná­lises e ou­tros ser­viços e ra­pi­da­mente se trans­forma na pri­va­ti­zação geral».

A saúde não tem preço

Nesse sen­tido, após cri­ticar o ca­minho de «secar» o SNS com o ar­gu­mento de que «não há di­nheiro, en­quanto se fazem con­tratos mi­li­o­ná­rios com os grupos pri­vados» que «olham para a Saúde como um lu­cra­tivo ne­gócio da do­ença», para «o utente como um cli­ente», o Se­cre­tário-geral do PCP de­fendeu que «a saúde não tem preço».

E de­ta­lhou: «o que o País ne­ces­sita, o que serve os utentes, o que faz falta im­ple­mentar, é um ca­minho al­ter­na­tivo de re­forço, va­lo­ri­zação, in­ves­ti­mento, que exige me­didas con­cretas e op­ções po­lí­ticas co­ra­josas, que te­nham no centro da pre­o­cu­pação os utentes e a ga­rantia do di­reito cons­ti­tu­ci­onal à saúde, (...) com a do­tação dos meios ne­ces­sá­rios aos cen­tros de saúde, ga­ran­tindo a todos um mé­dico de fa­mília, re­for­çando a in­ves­ti­gação, a téc­nica e a tec­no­logia».

«Um ca­minho al­ter­na­tivo que ga­ranta ver­da­dei­ra­mente e de forma rá­pida, o acesso aos tra­ta­mentos, aos me­di­ca­mentos, às con­sultas, às aná­lises, às ci­rur­gias, enfim, a todos os cui­dados de saúde ne­ces­sá­rios», acres­centou Paulo Rai­mundo, que sau­dando «as lutas a que temos as­sis­tido, como a greve dos en­fer­meiros que ocorre hoje mesmo, de téc­nicos de saúde, as­sis­tentes téc­nicos e ope­ra­ci­o­nais e ou­tras di­na­mi­zadas pelas vá­rias co­mis­sões de utentes aqui re­pre­sen­tadas», avançou pro­postas con­cretas para fixar pro­fis­si­o­nais no SNS va­lo­ri­zando-os em vá­rios do­mí­nios.

Luta e pro­postas para salvar um SNS di­ag­nos­ti­cado como do­ente, foi do que se tratou no Bar­reiro. Ou como con­cluiu Paulo Rai­mundo: «aqui vi­eram os re­mé­dios para curá-lo».




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