Greve expressiva nos CTT revela indignação crescente
Os trabalhadores dos CTT estiveram em greve nos dias 31 de Outubro e 2 de Novembro, exigindo a reposição do poder de compra perdido, a valorização das condições de trabalho e a prestação de um melhor serviço público.
A imposição de um «aumento» irrisório sucede-se à distribuição de milhões pelos accionistas
Num comunicado emitido no primeiro dia de paralisação, o Sindicato Nacional dos Trabalhadores dos Correios e Telecomunicações (SNTCT) dava conta de uma adesão a rondar os 60 por cento, contabilizada a partir do levantamento feito nos locais de trabalho. Trata-se, para o SNTCT, de uma «forte adesão», atendendo aos baixos salários em vigor na empresa e à perda do poder de compra dos trabalhadores, «provocado quer pelo mísero aumento salarial mensal imposto unilateralmente», de 7,5 euros, quer à inflação «que não pára de subir». Aderir à greve significa, sempre, perda de retribuição, recorda.
A greve foi convocada por oito organizações sindicais, que contestam o modo como a empresa pretendeu «encerrar» a questão salarial, através da imposição unilateral de um «aumento de 7,50 euros a cada um dos seus trabalhadores». Acontece que, em Setembro, a inflação «galgou para os 9,3 por cento) e no mês anterior o índice de preços no consumidor subira 6,3 por cento em relação a Fevereiro: a carne aumentou 16,7 por cento, o pão e cereais 10,7, o peixe 8,7, a electricidade 28, o gás 35,5 e os combustíveis 28…
Além disso, denunciavam as estruturas sindicais no início de Outubro, aquando da convocação da greve, os accionistas da empresa, «directa ou indirectamente, enchiam os bolsos com 36 dos 38 milhões de euros de lucro obtidos em 2021». Conseguidos, acrescentam, «à custa das más condições de trabalho, da falta de pessoal,… e da desqualificação profissional por via da desvalorização dos salários».
O SNTCT, no comunicado emitido no dia 31, recorda ainda que os trabalhadores em greve são, tal como os restantes, os mesmos que «com o seu esforço e dedicação impedem que, no dia-a-dia, o descalabro seja ainda maior na qualidade do serviço que prestam».
Face à comunicação da administração, que alertou para a «possibilidade de perturbações na distribuição de correio e encomendas» devido à greve, questionou: «E nos restantes dias do ano, em que não há greve? Também vão alertar? Vão ter a coragem de dizer a quem, durante o decurso dos últimos oito anos, recebeu/recebe as suas correspondências e “encomendas” com semanas de atraso que tal se deve à falta de contratação de trabalhadores em número suficiente e à má organização do serviço? Que muitos Carteiros estão a fazer duas e três zonas (giros) diariamente porque os seus colegas que saíram não foram substituídos?».