A camarada Alice Sena Lopes faleceu em Almada no passado dia 27 de Setembro. Nascida no Lobito, em Angola, a 21 de Junho de 1930, iniciou a sua actividade política no início dos anos cinquenta, já em Lisboa. Desde então participou activamente nas lutas da oposição democrática, contra a repressão fascista, pelas liberdades, pelos direitos das mulheres, pela paz e contra a ameaça de guerra. Integrou a comissão que preparou a ida de uma delegação portuguesa ao III Congresso Mundial de Mulheres, dirigida por Maria Lamas, tendo sido presa em Dezembro de 1953, no aeroporto de Lisboa, com dezenas de democratas que aguardavam o regresso da delegação.

Depois da terceira prisão do seu companheiro, Mário Vítor Sena Lopes, muda-se para o Sabugo, no concelho de Sintra, onde a sua casa serve de apoio à actividade do PCP e vai ser ponto de encontro do movimento democrático. Nas eleições presidenciais de 1958, integra a Comissão Distrital de candidatura de Arlindo Vicente e, após a reunião de Almada, a Comissão Distrital de candidatura do general Humberto Delgado.

Na vaga repressiva que se segue, é forçada a passar à clandestinidade, em 1959, acompanhando o seu companheiro, que assumirá o acompanhamento das organizações no Porto e no Alto Minho, tendo de se separar dos seus dois filhos, nascidos em 1955 e 1957.

Em Janeiro de 1961, assume a responsabilidade de algumas organizações, nomeadamente o sector têxtil. Participa na preparação da grande manifestação de mulheres no Porto, a 8 de Março de 1962. Já em Abril de 1963 sai clandestinamente do país. Em Praga, representa os trabalhadores portugueses no Congresso dos Sindicatos e, em Junho, em Moscovo, integra a delegação portuguesa ao V Congresso Mundial das Mulheres. Participa no painel «A luta das mulheres pela independência nacional», em que transmite a saudação das mulheres portuguesas às mulheres dos movimentos de libertação das colónias portuguesas, unidas contra o inimigo comum, o fascismo e o colonialismo.

Entre 1963 e 1970, desempenha tarefas de apoio à direcção do PCP no estrangeiro e em Portugal (1965).

A partir de 1970, participa activamente no movimento de Oposição Democrática e mantém responsabilidades partidárias. Em Abril de 1973, participa no III Congresso da Oposição Democrática, em Aveiro.

Em 25 de Abril de 1974, desenvolve intensa acção com vista à libertação dos presos políticos de Caxias, que ocorrerá na madrugada de 26 de Abril. Integrou o Gabinete de Álvaro Cunhal, do I ao IV Governos Provisórios, em 1974 e 1975. Participa intensamente na Revolução de Abril e na defesa das suas conquistas.

Alice Sena Lopes foi membro da Direcção e do Secretariado da Associação Portugal-URSS e, durante muitos anos, responsável pelos seus núcleos locais, tendo papel destacado na promoção das relações culturais entre ambos os países e povos. Foi directora da revista Vida Soviética. Em reconhecimento da sua actividade foi condecorada pela URSS com a medalha de Amizade entre os Povos.

Foi também dirigente da Associação Iúri Gagárine. Continuou a desenvolver actividade política no Partido, enquanto a sua saúde o permitiu, até ao fim dos seus dias.