Ventos de guerra no Parlamento Europeu
A instigação da guerra continua a Leste, com EUA, NATO e UE assumindo um papel preponderante na escalada da confrontação, mesmo que com aparente desprezo pelo risco de um salto no conflito cujas consequências são imprevisíveis.
Risco que é suficiente para compreender – fosse insuficiente o simples desígnio de pôr termo a qualquer guerra – aquilo que o PCP vem afirmando desde o primeiro momento: a necessidade de dar uma oportunidade à Paz exige orientar todos os esforços para proporcionar uma solução política negociada e um cessar-fogo, que ponha termo a uma guerra que não devia ter começado e que dura há já oito anos, que responda aos problemas de segurança colectiva e do desarmamento na Europa, cumprindo os princípios da Carta da ONU e da Acta Final da Conferência de Helsínquia.
É tudo menos isto que consta da mais recente resolução do Parlamento Europeu (PE) a respeito da guerra na Ucrânia, aprovada com o voto favorável de todos os deputados portugueses – PS, PSD, CDS, BE – à excepção dos deputados do PCP, que só poderiam votar contra.
Aludindo hipocritamente aos princípios do direito internacional – agora descobertos, mas ausentes de tantas outras resoluções, rejeitados incontáveis vezes sempre que os deputados do PCP no PE os apresentaram em inúmeras resoluções a respeito de outros conflitos e acções de ingerência da UE sobre Estados soberanos –, para lá de distorções, mistificações e omissões, o texto apela ao incremento da guerra, através dos Estados-membros a quem se invoca «aumentarem maciçamente a sua assistência militar», sem nunca esquecer as oportunidades de negócio sugerindo um mecanismo de lend-lease, e a «entrega de sistemas de armas avançados, como os tanques Leopard» alemães. Aí está o PE a servir aqueles que ganham com a guerra, nomeadamente o complexo industrial-militar. Vénias a mais sanções, inclusive «contra todos os membros dos partidos da Duma que exercem cargos em parlamentos eleitos a todos os níveis, incluindo a nível regional e municipal» – à margem do direito internacional –, agravando o caminho que põe os povos a pagar com língua de palmo as opções dos que insistem na confrontação ao invés da negociação. Insiste-se no caminho de ingerência e intromissão interna – o mesmo que levou ao golpe de estado na Ucrânia em 2014 – apelando a um diálogo com os «líderes democráticos e a sociedade civil da Rússia» e à mobilização de «apoio para a sua agenda em prol duma Rússia democrática» – quem são esses líderes democráticos que não têm representação na Duma?
Sem qualquer referência à Paz, à via negocial para uma solução política, esta resolução é, enfim, um autêntico manual de guerra.