Crise energética na Europa favorece sobretudo os EUA

A submissão da UE à estratégia de confrontação do imperialismo norte-americano prejudica sobretudo os povos e as economias dos países europeus, favorecendo apenas os próprios EUA.

Só os EUA parecem ganhar com as sanções da UE à Rússia

Não restam grandes dúvidas – e são os próprios números a comprová-lo – que a política de sanções contra a Rússia, imposta pela União Europeia a mando de Washington, está a provocar na Europa o que alguns já chamam de efeito boomerangue: a brutal escalada do preço da energia, em virtude das limitações à importação de gás russo, é uma das mais visíveis faces desta situação. As suas consequências, que já se fazem sentir, deverão agravar-se nos próximos meses.

O redireccionamento das importações de gás da Europa favoreceu sobretudo os Estados Unidos da América. Em Julho, reconhecia a própria presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, a importação de gás natural liquefeito dos EUA «quase triplicou». Extraído segundo o método de fracking, mais poluente e até há pouco fortemente limitado na Europa, o gás norte-americano é também muito mais caro.

Mas se a União Europeia continua seguidista face aos EUA, começam a ouvir-se vozes dissonantes, ainda que tímidas. Há dias, o ministro alemão da Economia acusou os EUA e outros países «amigos» de estarem a impor preços astronómicos no fornecimento de gás natural. Numa entrevista publicada, dia 4, no jornal regional Noz, Robert Habeck alertou para os problemas que isso provoca no seu país, «sobre os quais teremos de falar». Hebeck é um dos principais dirigentes do Partido Verde alemão, que integra a coligação de governo liderada pelos sociais-democratas do SPD.

As explosões verificadas nos gasodutos Nordstream 1 e 2 impedem, pelo menos a curto prazo, qualquer veleidade alemã de voltar a recorrer ao gás russo por essa via directa.

Desindustrialização
e fuga para os EUA

Caso se prolongue a actual «crise energética», a União Europeia corre sério risco de desindustrialização, admitem algumas entidades. O banco holandês Rabobank, citado no dia 4 pela agência Xinhua, conclui que os sectores industriais que consomem mais energia (casos da química, metalúrgica, celulose, plástico ou borracha) serão forçados a reduzir ou até mesmo a interromper a sua produção.

A própria associação europeia de empresas produtoras de metais não ferrosos, a Eurometaux, garante que metade da capacidade de produção de alumínio e zinco nos países da UE foi já forçada a desligar, provocando cortes significativos na produção de silício e ligas ferrosas e impactos adicionais nos sectores do cobre e do níquel. Já Nicolas de Warren, presidente da Federação das Indústrias de Energia Intensiva em França, realça que a escalada nos custos da energia impede a produção a «preços competitivos».

Enquanto isso, aumenta a transferência de investimento da UE para os EUA, que também aqui surgem como os principais beneficiários desta situação. Em Junho, a Volkswagen lançou as bases para um novo laboratório de baterias no Tennessee e estabeleceu parcerias de milhares de milhões de dólares com fornecedores norte-americanos. A Mercedes-Benz e a BMW não tardaram em fazer investimentos semelhantes.

A farmacêutica Bayer investiu 100 milhões de dólares num centro de tecnologia biológica em Boston, Massachusetts, e o grupo químico Evonik Industries AG estabeleceu um centro de inovação na Pensilvânia e destinou mais de 200 milhões de dólares para uma unidade de produção em Indiana. A BASF, do sector químico, já anunciou investimentos de 3,9 mil milhões até 2026. Só no Estado norte-americano de Oklahoma, mais de 60 empresas alemãs (entre as quais Lufthansa, Siemens e Aldi) realizaram investimentos no valor de 300 milhões de dólares.


Os povos querem a paz, não o que a guerra traz!:
dias 26 e 27 em Lisboa e no Porto

O Conselho Português para a Paz e Cooperação marcou duas concentrações sob o lema «Os povos querem Paz, não o que a guerra traz!»: a primeira realiza-se no dia 26, às 18 horas, no Largo José Saramago (metro do Terreiro do Paço), em Lisboa; no dia 27, no Porto, a concentração tem início marcado para as 17h30, na Praceta da Palestina (cruzamento da Rua Fernandes Tomás com a Rua do Bolhão).

No texto que suporta a convocatória, o CPPC realça que os povos querem a paz, mas que «continuam e agravam-se diversos conflitos, como na Palestina, no Sara Ocidental, na Síria, no Iémen ou na Ucrânia, com trágicas consequências». Denuncia a instigação da escalada de guerra, a produção de mais e mais sofisticadas armas, incluindo nucleares, e a promoção do militarismo.

Relativamente às sanções e bloqueios impostos, realça que atingem profundamente «as condições de vida dos seus povos e dos povos por todo o mundo», ao mesmo tempo que as multinacionais da energia, da alimentação ou da distribuição acumulam «fabulosos lucros».

O CPPC defende que a diplomacia e os princípios do direito internacional «substituam a ingerência externa, a corrida armamentista, a ameaça do uso da força e o uso da força nas relações internacionais». Do Governo português reclama uma contribuição para a paz, cumprindo os princípios inscritos na Constituição da República Portuguesa.





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