Quatro dias de silêncio
A intensidade da agenda do PCP, não só mas também com iniciativas com a presença do Secretário-geral, é assinalável. Na última semana, terá sido o único partido que realizou quatro dessas iniciativas em quatro dias consecutivos. Vejamos o saldo mediático.
Na quinta-feira, 8, Jerónimo de Sousa esteve numa sessão de esclarecimento sobre o Orçamento do Estado, com uma sala cheia na Baixa da Banheira. Na sexta-feira, numa sessão dedicada à valorização do trabalho e dos trabalhadores, na Covilhã. No sábado, dia 10, numa iniciativa sobre Álvaro Cunhal e o legado de Marx, em Coimbra. No domingo, 11, numa sessão sobre os direitos da juventude, assinalando o aniversário da JCP, em Lisboa.
Nos jornais, tudo se resume a três pequenas caixas em dois jornais: uma com comentários sobre posicionamentos do PS e outras duas com referências ao papel do PCP na solução política. Nas televisões, em sinal aberto, temos registo também de três peças. De Coimbra, o resumo da iniciativa feito nos principais noticiários da RTP e da TVI resumiu-se à resposta a questões sobre os últimos episódios do caso em que o Secretário-geral do PSD se envolveu. Na SIC, estes quatro dias intensos não deram mais do que uns poucos segundos da sessão da Baixa da Banheira, enfiados numa peça em que entravam outros protagonistas, assinalando os três anos da queda do anterior governo do PSD e do CDS, e da actual solução política que se lhe seguiu.
É certo que na SIC Notícias foram sendo emitidas peças sobre as várias iniciativas (à excepção da de domingo) e que até houve um directo no sábado. Mas, por um lado, falamos de um canal que não está em sinal aberto e, por outro, a decisão de não levar um conteúdo para os principais noticiários de uma estação constitui uma opção com significado. Ou seja, revela, no mínimo, uma desvalorização da intensa actividade do PCP, senão uma ostensiva ocultação da sua acção política.
Diga-se que a variedade de iniciativas e temáticas deita por terra qualquer argumento editorial para excluir o PCP dos principais noticiários da televisão ou da imprensa. Em plena fase de discussão do Orçamento do Estado, tivemos uma sessão sobre o tema. Num momento em que estão no Parlamento as propostas de alteração legislação laboral cozinhadas entre o Governo e o patronato (com o apoio da UGT, do PSD e do CDS), tivemos uma iniciativa com trabalhadores. Quando a obra teórica de Marx e Álvaro Cunhal assume cada vez mais relevância num mundo em que as contradições do capitalismo se acentuam, discutimo-las. Num tempo em que não faltam efabulações sobre a relação da juventude com a política, desmentimo-las.
O problema, está visto, não é a falta de contemporaneidade do que o PCP diz, ao contrário do que por vezes se quer fazer crer. Talvez seja mesmo a actualidade da intervenção e da acção política do PCP que tanto incomoda e que leva os meios de comunicação social dominantes a silenciá-las.