Comparações de miséria
A obtenção de um «saldo primário positivo» (resultado entre despesas e receitas nas contas públicas, excluindo os juros) foi apresentada em vários momentos do debate como um troféu a premiar a política do Governo. «Significa que se consegue libertar alguma coisa para o serviço da dívida», disse, com ar emproado, a ministra das Finanças. O que não disse é que tal resultado foi obtido à custa do roubo dos salários da função pública, «pelo que nem tudo o que luz é oiro», como frisou Miguel Tiago, pondo o assunto em pratos limpos.
Mas também a bancada do CDS-PP não perdeu o ensejo para expressar seu regozijo pela evolução registada, indo buscar como referência o ano de 1943. E para dizer o quê? Para afirmar que desde aquela data que o Estado não apresenta um saldo primário positivo.
Ora o que o Governo e a maioria propõem com este OE para 2014 é, segundo os próprios, comparável com o Portugal de 1943, ou seja, constatou o líder parlamentar do PCP, «um País com uma economia de guerra, um país política e socialmente esmagado pela pobreza e o atraso imposto por Salazar».
Esse é o termo de comparação deste Governo e respectiva maioria parlamentar, o que João Oliveira disse até bem compreender se atendermos a que o País «vive de facto há três anos com uma economia de guerra (ainda que não se dispare um tiro)» e que «ao povo foi imposto um verdadeiro esforço de guerra com o esmagamento de direitos, o roubo dos salários e pensões, o desemprego, a pobreza a emigração.