Os Correios são do Povo
A maioria PSD/CDS-PP chumbou o projecto de resolução do PCP que pugnava pela manutenção do carácter totalmente público dos CTT e pela melhoria da qualidade do serviço público postal.
Privatizar os Correios atenta contra o interesse nacional
Diplomas do BE e PS recomendando a suspensão do processo de privatização dos CTT tiveram igual destino sexta-feira passada. Consentânea com a posição por si defendida no debate realizado poucos antes foi o alinhamento na hora da votação do PS com o PSD e o CDS-PP no voto contra alíneas do diploma comunista.
Não por acaso a merecer a nega da bancada do PS esteve o ponto onde o PCP propunha que a AR se pronunciasse «contra a privatização da empresa CTT Correios de Portugal», defendendo simultaneamente que esta mantivesse «totalmente» o seu carácter público. Tal como não foi vista com bons olhos pelo PS a alínea do ponto dois onde os deputados comunistas expressavam a necessidade de «revogação do processo de liberalização dos serviços postais».
Posição que só vem confirmar e dar razão ao PCP quando este afirma, como fez no debate o deputado comunista Bruno Dias, que a privatização dos Correios «era e é um atentado ao interesse nacional», fosse «quando o governo PS a incluiu no PEC IV», fosse quando PS, PSD e CDS-PP a incluíram no pacto de agressão», seja agora com os «encerramentos de Norte a Sul de estações e de serviços e de postos de trabalho».
Traição
Rejeitado com firmeza pelo parlamentar comunista foi, por outro lado, o argumento relativo aos pretensos ganhos em «racionalidade» e em maior «rigor na gestão», a que frequentemente recorrem Governo e partidos da maioria.
«Podem explicar então o encerramento do Centro Operacional de Correio da região Centro, em Coimbra? O que farão àqueles 170 trabalhadores? Expliquem também essa ideia brilhante de fazer com que o correio de Coimbra para a Lousã tenha que vir a Lisboa para ser tratado, e depois regressar à zona de origem para ser distribuído?», inquiriu Bruno Dias, deixando um último desafio, também ele a ficar sem resposta: «E já agora expliquem essa “deslocalização” de estações dos CTT na cidade de Leiria, associada ao negócio imobiliário do “Leiria Plaza”, promovido por um destacado dirigente local do PSD?»
O parlamentar do PCP considerou por fim que a Assembleia da República «não pode ficar cega e surda» aos protestos populares por todos o País em defesa de estações e postos de correio, «para que não sejam roubadas ao povo». Deu variadíssimos exemplos dessas acções de descontentamento e revolta, bem como de casos reveladores de um comportamento pouco abonatório para a administração dos CTT.
«Por todo o País, de Lanheses a Boliqueime, passando por Cacilhas, as estações aparecem fechadas, pela calada da noite, verdadeiramente à traição», acusou, não estranhando ser essa a actuação de quem tem por trás um
um Governo que executa uma política de «venda do País às peças, que troca a Lei Fundamental pela lei da selva, que age de má-fé e à sorrelfa, que lida com o povo e o País como um burlão lida com a vítima».
Por isso, como nunca, está na hora de dizer «basta!», defendeu Bruno Dias, convicto de que a greve dos Correios de amanhã, sexta-feira, 7, será uma grande jornada em defesa do serviço público, do interesse nacional e da própria soberania.