Não é este o «bom caminho»
Ao apresentar como troféu o alegado equilíbrio da balança comercial, o Governo insiste em recorrer à propaganda para iludir os efeitos demolidores do pacto de agressão, acusou anteontem o PCP.
As poupanças estão a ser extorquidas
Em conferência de imprensa, Vasco Cardoso, membro da Comissão Política do Comité Central do Partido, comentou a mistificação do Governo sobre a balança comercial (desenvolvida a partir da divulgação pelo INE dos dados relativos ao comércio externo e à balança comercial portuguesa no trimestre de Março a Maio de 2012) e contrapôs a política económica de que o País precisa.
O PCP começa por salientar a dimensão colossal dos problemas com que o País está confrontado, lembrando que há hoje mais de um milhão e duzentos mil desempregados e Portugal atravessa a mais prolongada recessão económica das últimas décadas. Ora, o Governo decidiu apresentar como troféu o alegado equilíbrio da balança comercial, tomando uma subida de nove por cento, nas exportações de mercadorias, e uma descida de 5,6 por cento, nas importações, face ao período homólogo de 2011, para reproduzir até à exaustão a tese do «país no bom caminho».
Na declaração apresenta por Vasco Cardoso – e que está publicada na íntegra no sítio do PCP na Internet – assinala-se que os números das exportações «não traduzem uma qualquer consolidação, e muito menos, um pujante dinamismo do aparelho produtivo» e continuam a reflectir «um perfil assente em produtos de baixo valor acrescentado». A subida deve-se a uma desvalorização do euro face ao dólar, de 13,5 por cento, ao longo do último ano; a um aumento excepcional (42,5 por cento) das exportações de combustíveis minerais; e ao incremento da exportação de outras mercadorias, «numa lógica de empobrecimento do País», já que o ouro, as pedras e outros metais preciosos registaram uma saída superior a 356 milhões de euros (o que representa mais 78,6 por cento, na comparação com o período homólogo do ano passado, notando o PCP que o valor das saídas destes mesmos bens, em todo o ano de 2007, se limitou a 6,9 milhões de euros. «No fundo, são as poupanças de toda uma vida de milhares de portugueses que estão a ser extorquidas pelo agravamento da situação económica e social», comentou Vasco Cardoso.
A redução das importações «é sobretudo o reflexo de uma economia em profunda contracção e de um povo cada vez mais empobrecido», o que faz cair a pique o consumo e o investimento. As importações de bens alimentares e bebidas caem 6,1 por cento, um valor que aparece em linha com a quebra histórica registada no consumo de bens alimentares pela população portuguesa. Mas diminuem também as entradas de bens para a indústria (menos 5,9 por cento) e de máquinas e outros bens de capital (8,2 por cento). A redução das importações tem, assim, «uma forte incidência nos chamados bens de equipamento, ou seja na reposição e modernização da capacidade produtiva do País, cujas consequências irão ser pagas no futuro».
A redução das importações não se deve à sua substituição por produção nacional, antes é obtida «pelo empobrecimento da esmagadora maioria da população, pela quebra da actividade económica (recessão), pela regressão do investimento público e privado - ao nível daquele que se registou em meados do século passado». Vasco Cardoso lembrou, a propósito, o caso apontado pelo PCP ao ministro Paulo Portas, na semana passada: as refinarias de açúcar portuguesas funcionam a menos de 50 por cento, por falta de matéria-prima.
Para o PCP, «não é o equilíbrio da balança comercial e do comércio externo que está em causa, mas o caminho percorrido para lá chegar». «São as exportações que devem estar ao serviço da economia nacional, e não, como alguns pretendem, colocar a economia nacional a servir os interesses de algumas empresas exportadoras», sublinhou o dirigente comunista, evocando dezenas de países onde as exportações excedem as importações mas os seus povos vivem na mais profunda miséria. Este paradigma de fome e de miséria propiciou o equilíbrio invocado pelo Governo, ao comparar os actuais dados com aqueles que se verificaram em 1943, «ano e realidade de triste memória, em que as privações do povo português, à custa do equilíbrio da balança comercial, alimentavam a máquina de guerra nazi».
Apesar de toda a propaganda e mistificações do governo de Passos Coelho e Paulo Portas, «a verdade é que o País está hoje pior do que estava há um ano atrás». «Mas a continuação da actual política – que conta também com o apoio do PS e do Presidente da República – está a empurrar Portugal para o desastre», voltou a alertar o PCP, reafirmando que «só com a rejeição do pacto de agressão, só com uma ruptura com a política de direita, só libertando o País dos interesses do grande capital, pode haver futuro».