Seguir o exemplo de Alberto Araújo
O centenário do nascimento do destacado dirigente comunista Alberto Araújo foi assinalado em Almada em duas iniciativas que mobilizaram centenas de pessoas.
A memória de Alberto Araújo permanece viva nas ruas de Almada
No domingo, ao som da banda da centenária Incrível Almadense, centenas de pessoas dirigiram-se ao jardim central de Almada, até junto do busto de Alberto Araújo, para homenagear o histórico dirigente comunista. Ali colocado desde Dezembro de 1974, o monumento foi erigido por subscrição pública dos almadenses.
Já no dia 9, nas instalações de outra importante colectividade do concelho – a Academia Almadense – tinha-se realizado uma sessão pública evocativa da vida de Alberto Araújo, com a presença de mais de 200 pessoas. Antes das intervenções, a cargo de representantes das três organizações que compunham a comissão promotora das comemorações (Partido Comunista Português, União de Resistentes Antifascistas Portugueses e Associação dos Amigos da Cidade de Almada), actuou o Ensemble de violinos da SFUAP – a outra colectividade centenária do concelho – composta por jovens estudantes de música. Na ocasião, foi também inaugurada a exposição «Alberto Araújo (1909-1955): destacado intelectual, dirigente comunista, mártir da luta antifascista».
Em nome do PCP, Margarida Botelho, da Comissão Política, lembrou que «só a Revolução de Abril permitiu ao povo de Almada homenagear Alberto Araújo». Acrescentando que a melhor homenagem que se pode prestar é «continuar hoje a sua luta», por um Partido mais forte, «pela libertação e emancipação da humanidade, pela igualdade e pela justiça, pela liberdade e pela democracia, pelo socialismo e pelo comunismo».
A dirigente comunista chamou a atenção para a importância desta homenagem «num tempo em que em vez de fascismo se ensina na escola a dizer “antigo regime”, em que se branqueiam os crimes e os horrores da ditadura fascista que oprimiu Portugal durante 48 anos, em que se esquecem os milhares de homens e mulheres que resistiram e lutaram até que Abril acontecesse». Nestes tempos, prosseguiu, as «liberdades e a democracia têm de ser exercidas com coragem nas escolas, nas empresas, nos locais de trabalho, nas ruas – e, demasiadas vezes, também nos tribunais».
Não deixar esquecer!
Mário Araújo, em representação da URAP, lembrou caber a esta organização «falar da resistência e não permitir que as perseguições, as prisões, as torturas e a morte sejam omitidas ou transformadas em consequências naturais de menos importância». Alberto Araújo, realçou, «foi um de entre muitos que foram vítimas da desumanidade que foram perpetradas nas cadeias fascistas do Aljube, Forte de Caxias, Coimbra, Porto, Forte de Peniche, Fortaleza de Angra do Heroísmo e muito em particular no campo de concentração do Tarrafal, onde a morte era o fim em vista».
Referindo-se ao «Campo da Morte Lenta», Mário Araújo recordou que no decreto-lei da sua criação está a assinatura do próprio Salazar e que por lá passaram, nos primeiros 18 anos em que serviu de prisão para antifascistas portugueses –, 340 presos que ali cumpriram mais de 2 mil anos de «cativeiro horroroso e criminoso». Destes, 32 ali perderam a vida; 72 foram para lá enviados sem terem sido condenados a qualquer pena e 55 teriam já há anos terminado as suas penas – Manuel Alpedrinha, por exemplo, fora condenado a 24 meses de prisão e só no Tarrafal esteve 12 anos e meio, ou seja, 150 meses.
O mais célebre castigo a que os presos do Campo do Tarrafal estavam sujeitos, era, sem dúvida, a «Frigideira», uma minúscula caixa de cimento sujeita ao mais escaldante calor e ao frio mais terrível. Segundo o dirigente da URAP, «foram apurados, por defeito, os números fantásticos que se apresentam»: 2824 dias de frigideira, ou seja, 7 anos e 269 dias de prisão na câmara de cimento, a pão e água alternadamente. Alberto Araújo ali esteve 32 dias e outro comunista almadense, Gabriel Pedro, lá passou 132 dias.
A primeira intervenção da noite esteve a cargo do presidente da Associação dos Amigos da Cidade de Almada, Carlos Canhão, que salientou a importância de tornar pública a exaltante vida deste destacado almadense.
Destacado construtor do Partido
Alberto Araújo nasceu em Almada, a 14 de Dezembro de 1909, numa família da pequena burguesia local. Esta origem social permitiu-lhe estudar, ao contrário da esmagadora maioria das outras crianças e jovens da sua idade, licenciando-se em Filologia Clássica e Estudos Camonianos na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Começou muito cedo a sentir os problemas de saúde que o afectaram toda a vida, tendo estado inclusivamente internado durante dois anos num sanatório na Guarda.
Em 1933, com 24 anos, aderiu à Federação das Juventudes Comunistas Portuguesas e, no ano seguinte, ao PCP. Estudava então na universidade, onde mereceu a confiança dos seus colegas, que o elegeram para o Senado Universitário de Lisboa. Terminado o curso, foi professor em Castelo Branco e no Liceu Pedro Nunes, em Lisboa.
As suas qualidades políticas e intelectuais não passam despercebidas ao então Secretário-geral do PCP, Bento Gonçalves, que o chama, em 1934, para trabalhar junto de si na elaboração do Avante! e de outros materiais de agitação e propaganda do Partido. Quando, no final de 1935, Bento Gonçalves foi preso juntamente com os restantes dois membros do Secretariado, Alberto Araújo assume as mais elevadas responsabilidades partidárias – chamado ao Secretariado, ficando a seu cargo a imprensa e a propaganda.
Assim, e ao mesmo tempo que mantinha a sua actividade legal como professor, Alberto Araújo assumia a responsabilidade pelo Avante!, que voltava a editar-se com regularidade, e pela Organização Revolucionária da Armada. No mesmo período, esteve também ligado à formação da Frente Popular Portuguesa, participando em reuniões para a elaboração do seu programa.
No dia 22 de Novembro de 1937, quando regressava de Madrid, onde mantivera contactos com representantes do Movimento Comunista Internacional, Alberto Araújo foi preso. Espancado e mantido incomunicável durante 11 meses, foi enviado para Caxias em Outubro do ano seguinte. Julgado em Abril de 1939, foi condenado a 24 meses de prisão. Quando foi enviado para o Tarrafal, em Junho desse ano, faltavam-lhe cumprir pouco mais de 100 dias da pena a que tinha sido condenado.
No Tarrafal, foi sujeito às maiores violências e privações e forçado a fazer todos os trabalhos que a sua frágil saúde proibia. Apesar disto, ainda encontrou forças para elevar o nível cultural dos seus companheiros, dando aulas de Português e Francês.
Libertado em 1945, na sequência da amnistia que o fascismo português foi forçado a conceder na sequência do final da Segunda Guerra Mundial, Alberto Araújo regressaria a Almada, com a saúde completamente arrasada. Impedido, por razões de saúde, de retomar uma intensa actividade política, participa em actividades culturais, recreativas e políticas, nomeadamente do MUD.
No dia 19 de Março de 1955, com apenas 45 anos, Alberto Araújo morreu no hospital de São José, em Lisboa. O seu funeral, realizado em Almada três dias depois, foi uma impressionante manifestação popular de homenagem a um amigo, a um lutador, a um comunista.
Já no dia 9, nas instalações de outra importante colectividade do concelho – a Academia Almadense – tinha-se realizado uma sessão pública evocativa da vida de Alberto Araújo, com a presença de mais de 200 pessoas. Antes das intervenções, a cargo de representantes das três organizações que compunham a comissão promotora das comemorações (Partido Comunista Português, União de Resistentes Antifascistas Portugueses e Associação dos Amigos da Cidade de Almada), actuou o Ensemble de violinos da SFUAP – a outra colectividade centenária do concelho – composta por jovens estudantes de música. Na ocasião, foi também inaugurada a exposição «Alberto Araújo (1909-1955): destacado intelectual, dirigente comunista, mártir da luta antifascista».
Em nome do PCP, Margarida Botelho, da Comissão Política, lembrou que «só a Revolução de Abril permitiu ao povo de Almada homenagear Alberto Araújo». Acrescentando que a melhor homenagem que se pode prestar é «continuar hoje a sua luta», por um Partido mais forte, «pela libertação e emancipação da humanidade, pela igualdade e pela justiça, pela liberdade e pela democracia, pelo socialismo e pelo comunismo».
A dirigente comunista chamou a atenção para a importância desta homenagem «num tempo em que em vez de fascismo se ensina na escola a dizer “antigo regime”, em que se branqueiam os crimes e os horrores da ditadura fascista que oprimiu Portugal durante 48 anos, em que se esquecem os milhares de homens e mulheres que resistiram e lutaram até que Abril acontecesse». Nestes tempos, prosseguiu, as «liberdades e a democracia têm de ser exercidas com coragem nas escolas, nas empresas, nos locais de trabalho, nas ruas – e, demasiadas vezes, também nos tribunais».
Não deixar esquecer!
Mário Araújo, em representação da URAP, lembrou caber a esta organização «falar da resistência e não permitir que as perseguições, as prisões, as torturas e a morte sejam omitidas ou transformadas em consequências naturais de menos importância». Alberto Araújo, realçou, «foi um de entre muitos que foram vítimas da desumanidade que foram perpetradas nas cadeias fascistas do Aljube, Forte de Caxias, Coimbra, Porto, Forte de Peniche, Fortaleza de Angra do Heroísmo e muito em particular no campo de concentração do Tarrafal, onde a morte era o fim em vista».
Referindo-se ao «Campo da Morte Lenta», Mário Araújo recordou que no decreto-lei da sua criação está a assinatura do próprio Salazar e que por lá passaram, nos primeiros 18 anos em que serviu de prisão para antifascistas portugueses –, 340 presos que ali cumpriram mais de 2 mil anos de «cativeiro horroroso e criminoso». Destes, 32 ali perderam a vida; 72 foram para lá enviados sem terem sido condenados a qualquer pena e 55 teriam já há anos terminado as suas penas – Manuel Alpedrinha, por exemplo, fora condenado a 24 meses de prisão e só no Tarrafal esteve 12 anos e meio, ou seja, 150 meses.
O mais célebre castigo a que os presos do Campo do Tarrafal estavam sujeitos, era, sem dúvida, a «Frigideira», uma minúscula caixa de cimento sujeita ao mais escaldante calor e ao frio mais terrível. Segundo o dirigente da URAP, «foram apurados, por defeito, os números fantásticos que se apresentam»: 2824 dias de frigideira, ou seja, 7 anos e 269 dias de prisão na câmara de cimento, a pão e água alternadamente. Alberto Araújo ali esteve 32 dias e outro comunista almadense, Gabriel Pedro, lá passou 132 dias.
A primeira intervenção da noite esteve a cargo do presidente da Associação dos Amigos da Cidade de Almada, Carlos Canhão, que salientou a importância de tornar pública a exaltante vida deste destacado almadense.
Destacado construtor do Partido
Alberto Araújo nasceu em Almada, a 14 de Dezembro de 1909, numa família da pequena burguesia local. Esta origem social permitiu-lhe estudar, ao contrário da esmagadora maioria das outras crianças e jovens da sua idade, licenciando-se em Filologia Clássica e Estudos Camonianos na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Começou muito cedo a sentir os problemas de saúde que o afectaram toda a vida, tendo estado inclusivamente internado durante dois anos num sanatório na Guarda.
Em 1933, com 24 anos, aderiu à Federação das Juventudes Comunistas Portuguesas e, no ano seguinte, ao PCP. Estudava então na universidade, onde mereceu a confiança dos seus colegas, que o elegeram para o Senado Universitário de Lisboa. Terminado o curso, foi professor em Castelo Branco e no Liceu Pedro Nunes, em Lisboa.
As suas qualidades políticas e intelectuais não passam despercebidas ao então Secretário-geral do PCP, Bento Gonçalves, que o chama, em 1934, para trabalhar junto de si na elaboração do Avante! e de outros materiais de agitação e propaganda do Partido. Quando, no final de 1935, Bento Gonçalves foi preso juntamente com os restantes dois membros do Secretariado, Alberto Araújo assume as mais elevadas responsabilidades partidárias – chamado ao Secretariado, ficando a seu cargo a imprensa e a propaganda.
Assim, e ao mesmo tempo que mantinha a sua actividade legal como professor, Alberto Araújo assumia a responsabilidade pelo Avante!, que voltava a editar-se com regularidade, e pela Organização Revolucionária da Armada. No mesmo período, esteve também ligado à formação da Frente Popular Portuguesa, participando em reuniões para a elaboração do seu programa.
No dia 22 de Novembro de 1937, quando regressava de Madrid, onde mantivera contactos com representantes do Movimento Comunista Internacional, Alberto Araújo foi preso. Espancado e mantido incomunicável durante 11 meses, foi enviado para Caxias em Outubro do ano seguinte. Julgado em Abril de 1939, foi condenado a 24 meses de prisão. Quando foi enviado para o Tarrafal, em Junho desse ano, faltavam-lhe cumprir pouco mais de 100 dias da pena a que tinha sido condenado.
No Tarrafal, foi sujeito às maiores violências e privações e forçado a fazer todos os trabalhos que a sua frágil saúde proibia. Apesar disto, ainda encontrou forças para elevar o nível cultural dos seus companheiros, dando aulas de Português e Francês.
Libertado em 1945, na sequência da amnistia que o fascismo português foi forçado a conceder na sequência do final da Segunda Guerra Mundial, Alberto Araújo regressaria a Almada, com a saúde completamente arrasada. Impedido, por razões de saúde, de retomar uma intensa actividade política, participa em actividades culturais, recreativas e políticas, nomeadamente do MUD.
No dia 19 de Março de 1955, com apenas 45 anos, Alberto Araújo morreu no hospital de São José, em Lisboa. O seu funeral, realizado em Almada três dias depois, foi uma impressionante manifestação popular de homenagem a um amigo, a um lutador, a um comunista.