Não negociar perdas
Ao manter a sua proposta de «aumentar» 1,5 por cento nos salários inferiores a mil euros e zero nos restantes, o Governo deu o processo negocial por encerrado. Esta foi a apreciação do dirigente da Frente Comum, Paulo Trindade, à saída da reunião com o Governo realizada no passado dia 29 de Janeiro. «Esta posição confirma uma atitude fechada, irredutível e desrespeitadora do direito à negociação», afirmou, na ocasião, o sindicalista. De forma a compensar as sucessivas perdas do poder de compra dos trabalhadores, a Frente Comum havia proposto aumentos de 5,5 por cento.
«Não faz parte dos princípios das organizações sindicais negociar quanto é que os trabalhadores vão perder mas sim quanto é que vão ganhar», considerou Paulo Trindade, justificando assim a ausência da Frente Comum na reunião «negocial» que se realizou na passada segunda-feira, dia 3. Esta reunião acabou por se realizar apenas entre o Governo e a Frente Sindical da Administração Pública (FESAP), filiada na UGT. Apesar da sua não comparência, a Frente Comum não se considera irredutível, pois estaria disposta a reiniciar as negociações caso estas se encaminhassem no sentido de aumentos reais dos salários e não de perdas consideráveis do poder de compra.
A Frente Comum declarou-se disponível para voltar ao Ministério das Finanças, mas não para reunir, deixando em aberto a possibilidade do regresso da contestação. Os dirigentes da plataforma sindical afirmaram ainda que os trabalhadores da administração pública estarão presentes na manifestação nacional da CGTP do próximo sábado, dia 8, mostrando na rua o seu descontentamento.
Na sexta-feira, último dia da semana de luto e de luta dos trabalhadores da administração pública, que decorreu entre 27 e 31 de Janeiro, dezenas de sindicalistas da Frente Comum entregaram ao primeiro-ministro, na sua residência oficial, mais de 50 mil assinaturas em defesa da dignidade e dos direitos.
Greve nos centros de saúde
No final da passada semana, muitos centros de saúde estiveram parados devido à greve dos médicos de clínica geral, que foi acompanhada, no dia 31, pela greve dos trabalhadores auxiliares e administrativos. Segundo a Federação Nacional dos Sindicatos da Função Pública (FNSFP), da CGTP, os estes trabalhadores aderiram de forma significativa à paralisação. Em 27 centros de saúde contabilizados na manhã do dia 31, 14 encontravam-se encerrados e nos restantes verificava-se uma adesão superior a 50 por cento.
A greve dos médicos de clínica geral e familiar, que durou três dias e se saldou por uma elevada adesão, foi convocada pela Federação Nacional dos Médicos e pelo Sindicato Independente dos Médicos, sendo apoiada pela Associação Portuguesa dos Médicos de Clínica Geral e pela Ordem dos Médicos, tendo sido a primeira vez que estas duas últimas entidades se vêem envolvidas numa paralisação. É também de assinalar que desde 1994 que as duas estruturas sindicais não se uniam numa greve.
Na base do protesto está a falta de diálogo do Governo para elaboração da nova legislação para os centros de saúde. Para a FNSFP, está sobretudo em causa a própria legislação, que visa a privatização dos centros de saúde e pretende introduzir a «ditadura do director do centro que será um mero comissário político», sem que tenha de ter necessariamente um mínimo de competência, de experiência e de conhecimentos. Segundo a Federação, esta legislação reflecte a intenção do Governo em acabar com o médico de família, «exportando» para fora do centro alguns utentes para serem atendidos por um qualquer clínico, mesmo sem especialização em clínica geral.