A novela e o que ela não conta

Após meses de especulação mediática em torno dos caminhos para a aprovação do Orçamento do Estado para 2025 – cingida à aritmética parlamentar e desligada das opções concretas que dele deveriam constar para garantir resposta aos problemas do País –, dir-se-ia que podíamos já estar noutra fase. Ou, como foi dizendo o Secretário-Geral do PCP ao longo deste período, deixemos de nos concentrar na forma e falemos do conteúdo. Mas não, a novela continua.

O PS anunciou a viabilização do documento, o que foi saudado pela generalidade dos comentadores (muitos dos quais vão alternando esse chapéu com o de jornalista/editor/director). A reacção foi seguida de perto pelas linhas editoriais dos principais órgãos de comunicação social, culminando a intensa campanha de pressão para que o Orçamento do PSD/CDS fosse aprovado. Mas, incapazes de largar o seu entendimento da política mais aparentado como uma competição-espectáculo, foram-se escrevendo nos noticiários os novos capítulos da novela orçamental (que, contra o que seria intuitivo, persiste).

Continuamos longe de discutir as opções de fundo do Governo que naquele documento constam. Faltam notícias de jornal sobre o impacto concreto das medidas do Governo para os serviços públicos; faltam peças televisivas sobre quem são os grupos económicos que vão ganhar com os benefícios fiscais e a descida do IRC; faltam até notícias simples mas determinantes, como a de que o Governo continua a propor aumentos salariais para a Administração Pública que não chegam à inflação prevista para este ano.

Em vez disso, o debate parlamentar da passada semana foi encarado pelas televisões privadas como mais um show: ecrã dividido em três, com uma janela no Governo e as outras na bancada do Chega e do PS. Depois de semanas em que se prestaram ao degradante papel de transmitir em directo cada declaração de André Ventura anunciando o sentido de voto do Chega ao Orçamento (que, como se sabe, de manhã pode ser contra, à tarde vira para favorável, para à noite voltar à casa de partida em entrevista a um qualquer canal de televisão), de forma absolutamente acrítica e fazendo justiça ao epíteto “pé de microfone”, as opções editoriais mantiveram-se: dar amplo espaço e promoção à extrema-direita, seja a propósito ou a despropósito.

A transformação da cobertura noticiosa da política em espectáculo mediático prosseguiu logo de seguida, com horas intermináveis de emissão e página sem fim de jornal sobre as eleições nos EUA. É evidente a relevância informativa daquele acto eleitoral, mas há opções editoriais de tal forma desproporcionadas que se tornam difíceis de entender: as mesmas estações televisivas que, há poucos meses, não tinham meios para colocar mais do que uma equipa (ou menos) a acompanhar a última campanha eleitoral da CDU (ou a Festa do Avante!, já ali no Seixal), deslocaram agora o triplo dos meios para o outro lado do Atlântico.

Isto dias depois de sabermos que os donos do Pingo Doce se juntaram à lista de ilustres da bolsa que compõem a estrutura accionista do Observador.

 



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