Palco Paz

Das raízes da tradição até ao resto do mundo

No Palco Paz, vi­veram-se três dias de pura ale­gria, com es­paço para tudo e para todos, com es­paço para di­fe­rentes ex­pres­sões cul­tu­rais, com tempo para mer­gu­lhar nas raízes da tra­dição por­tu­guesa, nas ex­pe­ri­ên­cias mais con­tem­po­râ­neas da mú­sica e vi­ajar um pouco por todo o mundo.

Sabe quem lá es­teve que no Palco Paz foram poucas as coisas que fal­taram e entre elas não se con­taram a qua­li­dade, a ver­sa­ti­li­dade dos di­versos gé­neros mu­si­cais, a ale­gria, o con­vívio e os abraços de quem se re­en­con­trou para mais uma Festa. Dos olhos de quem viu – ao longe ou viu de perto – foram três belos dias aqueles que se vi­veram no Palco Paz, uma amostra per­feita da­quilo que é, no seu todo, a Festa do Avante!.

Arte ao ser­viço da trans­for­mação so­cial

Na sexta-feira, os Murro foram os úl­timos a pisar o palco. Antes deles, já duas ac­tu­a­ções de grupos fi­na­listas do Con­curso de Bandas Novos Va­lores (ver caixa) ti­nham aque­cido o pú­blico. À Festa trou­xeram aqueles o hard­core e mú­sicas que afir­maram o ca­rácter rei­vin­di­ca­tivo de quem sabe que a ver­da­deira vi­o­lência está nas agres­sões e in­ge­rên­cias pro­vo­cadas pelos EUA, pela União Eu­ro­peia e pela classe ca­pi­ta­lista. Assim o provou o vo­ca­lista quando gritou «assim é que é, quando os ca­ma­radas e amigos se juntam não há hi­pó­tese».

Volta ao mundo

A tarde de sá­bado co­meçou cedo com grupos que, ao longo do dia, in­ter­pre­ta­riam um re­per­tório ins­pi­rado nas mais di­ver­sas­raízes da tra­dição por­tu­guesa. No en­tanto, hou­ve­também oca­sião para vi­ajar para ou­tras la­ti­tudes.

Foi o que se su­cedeu com o con­junto Finka Pé, um grupo de mu­lheres que ce­le­brou a he­rança cabo-ver­diana através da per­cussão e da dança. Numa ac­tu­ação que trans­portou a vi­va­ci­dade da tra­dição cul­tural do país afri­cano para a Festa, foram muitos os que se jun­taram ao con­certo, pu­xados pelo ritmo do grupo de ba­tu­queiras.

Noi­tíbó guiou os es­pec­ta­dores entre Al­jus­trel e Se­túbal, acom­pa­nhado pelo que chamou de blues sa­dino e folk-ex­pe­ri­mental alen­te­jano. Entre um «viva ao Alen­tejo», o vo­ca­lista não se in­ti­midou de trazer ao palco a viola cam­pa­niça. Já os cinco mem­bros d’ Os Ban­didos trou­xeram um rock com grande sen­tido de in­ter­venção.

Uma ver­da­deira volta ao mundo foi a ac­tu­ação do Dj Mati@s, que en­cerrou, pelo se­gundo ano con­se­cu­tivo, uma noite na Festa. De forma ar­ro­jada, agitou o pú­blico por entre uma au­tên­tica lição de danças do mundo. Numa es­pécie de baile man­dado, foi com esta chave de ouro que se en­cerrou nesse dia o Palco Paz.

Chuva não in­ti­midou

No do­mingo, com os Ska­labá Tuka, de­pois das pri­meiras duas ou três mú­sicas, o pú­blico que ouvia o grupo, ra­pi­da­mente se le­vantou das es­parsas ca­deiras e se juntou à festa. A estes jun­taram-se muitos cu­ri­osos atraídos pelos ritmos do Brasil e do samba e me­dleys de muitos ar­tistas como Jorge Ben Jor.

Nem a chuva miúda travou o Con­junto Júlio, que se se­guiu. Com o seu es­tilo al­ter­na­tivo, de di­versas le­tras e ins­tru­men­tais, ora duros ora mais calmos, en­tre­ti­veram a pla­teia até à hora do co­mício.

Vi­eram mais Cinco en­cer­raram o Palco Paz com uma de ob­jec­tivo claro: ce­le­brar o 25 de Abril. Com um riquís­simo re­per­tório de Zeca Afonso e de ou­tras can­ções em­ble­má­ticas da re­vo­lução, o grupo ce­le­brou os 50 anos da­Re­vo­lução e em­balou o pú­blico que disse«até para o ano» ao Palco Paz.

Va­lo­rizar a tra­dição

Sem ig­norar ou­tras ex­pres­sões cul­tu­rais e ou­tras ex­pe­ri­ên­cias, tal como em anos an­te­ri­ores, a tra­dição e a sua va­lo­ri­zação não po­de­riam deixar de ser ele­mentos cen­trais no Palco Paz. Assim se notou no início da tarde de sá­bado com a ac­tu­ação de três grupos de cante alen­te­jano: o Grupo Coral Pa­poilas do Enxoé, o Grupo Coral Can­ta­dores das Neves e o grupo Es­trelas do Sul.

E não foram os únicos. Desde logo com Fio à Meada, um grupo de mu­lheres que se jun­taram em Lisboa. Com ex­pe­ri­ência de palco na Festa do Avante! e com ori­gens de todo o País, Fio à Meada foi capaz de apre­sentar um re­por­tório mu­sical va­ri­a­dís­simo.

Urze de Lume, por sua vez, trou­xeram so­no­ri­dades que quase evo­caram um país de ou­trora, com um toque de an­ces­tra­li­dade trans­mon­tana e mis­ti­cismo celtaà mis­tura.

Por úl­timo, no do­mingo, Tri­ga­lada não só se afir­maram estar ali a lutar pela paz, como apre­sen­taram um pre­en­chido re­per­tório tra­di­ci­onal por­tu­guês e ga­lego, con­vi­dando o pú­blico a par­ti­cipar em danças e mú­sicas co­nhe­cidas da tra­dição oral.

 

Novos va­lores da mú­sica por­tu­guesa

Do Con­curso de Bandas da JCP su­biram ao Palco Paz os SAIA e os WTDPG. Os pri­meiros, nas­cidos no Porto, as­su­miram como ob­jec­tivo fundir o jazz, o funk e o groove numa única so­no­ri­dade. Já os se­gundos, uma crew que surgiu em 2015, apre­sen­taram-se na Festa com uma for­mação acom­pa­nhada de baixo, gui­tarra, ba­teria e até piano.

Ambos foram a prova viva de que há muito ta­lento no País.

 

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