Músicas e ritmos do mundo
O Auditório 1.º de Maio abriu a sua programação com um espectáculo improvável, doGrupo Artístico da Província de Anhui daChina. Através de danças e músicas, oferendaram bonitas histórias de amor, como se assistiu «Flor de jasmim». A este momento juntou-se a nova criação da Trupe «Amantes de borboletas», com acrobacias que evocaram uma tradição acrobática milenar. Um dos artistas saltou do palco e cumprimentou todo aquele imenso público.
Seguiram-se os Not Forbidden, que junta o músico português Rui Rebelo e um conjunto deafegãos refugiados em Portugal que foram obrigados a fugir do regime talibã por a sua música ser proibida. Os músicos romperam preconceitos e homenagearam a culturado seu país, mas também da Índia e do Irão, num acto de resistência e de luta.
A jornadaprosseguiuaté São Tomé e Príncipe, com África Negra, que recordou o general João Seria, antigo vocalista da formação. Temas como «Angélica», «Madalena» e «Maria» homenagearam a mulher e uniram corpos.
Dali a Moçambique foi um «pulinho» ininterrupto de boa disposição e energia trazidas pelaBanda Kakana, que ofereceu«Uma nova flor».Sentimentos fortes fizeram despoletar a «ginga» com a magia da Marrabenta (dança).
Esta noite tão especial só podia terminar assim: Tim com Ensemble Ibérico e Internacional Voices Ensemble. Perante uma multidão que se perdia de vista, foram tocados temas dos Xutos & Pontapés, Rio Grande e Resistência. A formação começou com «À minha maneira» e terminou a dançar a «Carvalhesa». «Realmente não há Festa como esta», afirmou o vocalista e baixista.O público respondeu, por diversas vezes, «Assim se vê a força do PC».
Sábado
Os Die Rich Gang abriram a programação com mensagens sociais e políticas fortes. «Todos os dias é uma luta viver», rimou-se, num alerta à necessidade de combater a precariedade laboral.
Porque a Festa é também das crianças, seguiram-se os Traquinas, com canções sobre família e amizade, entre outros importantes temas para uma geração que começa a construir o futuro.
Os Chris Luquette East Coast Bluegrass Bandsubiram ao palco para numa viagem pela música popular e tradicional norte-americana, também ferramenta de resistência.Em temas como «I walk the line» e «Helplessly hoping», as percussões vinham também do público.
A música é também instrumento de denúncia contra o racismo e o preconceito. Ruben Torres subiu ao palco para homenagear, com o seu fado e flamenco, a luta e a cultura do povo cigano. Apresentou o original «Aproveitem a vida».
O jovem fenómeno da guitarra portuguesa, Gaspar Varela regressou à Festa agora com o projecto Expresso Transatlântico. Com um repertório sonante e exclusivo, a formação terminou com «Eu dantes cantava», numa homenagem à fadista Celeste Rodrigues. Gaspar Varela – sem nunca parara de tocar – saltou para o público que o recebeu, num momento de entusiasmo colectivo.
Concerto muito aguardado foi o de Mimicat, que no Festival da Eurovisão e na Festa do Avante! apresentou «Ai coração». «Fire» e «Mundo ao contrário» foram maravilhosos momentos.
«Piano para Piano» foi uma viagem ao maravilhoso desconhecido com assinatura de Rodrigo Leão, acompanhado pela sua filha Rosa. «Estamos muito contentes por estar convosco. Há muitos anos que sonho tocar na Festa do Avante!», revelou o pai. Naquele diálogomusical sentimos que é necessário transformar o sonho em vida.
Pelo segundo ano consecutivo, a programação de sábado encerrou em grande com a Rave Avante!, que celebrou a liberdade e os 50 anos do 25 de Abril com a passagem do primeiro comunicado MFA.
Domingo
A Orquestra do Hot Club de Portugal comemorou os seus 75 anos de vida na Festa com a cantora moçambicana Selma Uamusse. Juntosrecriaram «Black, Brown and Beige», obra orquestral, quase sinfónica, escrita por Duke Ellington, que aborda a história dos afro-americanos e a sua luta por direitos civis. A cantora e os músicos perpetraram uma colaboração poderosa, por exemplo, com «Every hour on the hour (I fall in love with you)».
Os Boémiatocaram, em primeira mão, o seu último trabalho: «Génese», que narra a transição da ditadura em Portugal e celebra os 50 anos da Revolução dos Cravos. Em «Imaginário submarino vermelho» evoca-se a fuga de Peniche.
Na Festa os espectáculos são únicos. O de Ricardo Ribeiro – um dos nomes incontornáveis do fado contemporâneo – foi inigualável, com «Soneto de mal amar», poema de Ary dos Santos. Num registo mais descontraído, «Fadinho alentejano» foi cantado por um mar de gente.
Mísia apresentou o seu último trabalho «Animal Sentimental», que inclui «Da vida quero os sinais». Cantou um poema de Amália Rodrigues: «Tive um coração, perdi-o».
Os espectáculos foram apresentados por Joana Figueira, Rita Tomé e Mitó.